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Foto: Pixabay
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Quando o botânico suíço Carl Linnaeus batizou o cacaueiro deTheobrama cacao (“alimento dos deuses”), em 1753, o pai da taxonomia (processo que descreve a diversidade dos seres vivos) queria homenagear a história da árvore originária da bacia do rio Amazonas.
Acredita-se que o cultivo do cacau começou há mais de 5.000 anos na região do Equador. Depois se espalhou pela Mesoamérica, onde foi adotada por civilizações como os olmecas, maias e astecas, que usavam o cacau em rituais religiosos e como base para uma bebida amarga -conhecida como “xocolatl”.
A colonização espanhola nas Américas apresentou o cacau e as variações da sua bebida aos europeus, para quem o chocolate tinha propriedades nutritivas, medicinais e até afrodisíacas, mas o seu consumo era um privilégio da realeza e dos mais ricos. Nesta segunda (7), é celebrado o Dia Mundial do Chocolate, em comemoração à data que a iguaria teria chegado à Europa, em 1550.
Hoje, cerca de 500 anos e muita industrialização depois, o chocolate se tornou um mercado global de US$ 133,5 bilhões (R$ 722 bilhões), com 7,4 milhões de toneladas comercializadas ao ano, segundo a consultoria Euromonitor. Mas o consumo mundial vem recuando desde 2022 e, este ano, deve cair 1,2% em volume. No Brasil, porém, as vendas continuam crescendo e devem subir 2,9% em 2025, para 385,8 mil toneladas.
Isso mesmo em meio à disparada no preço do produto: no intervalo entre 2020 e 2025, o faturamento com a venda de chocolates no varejo brasileiro saltou 128%. No mundo, no mesmo período, a alta foi de 39,5%.
Ou seja: a combinação de pouco crescimento em volume e muito em faturamento representa preços em alta, uma relação que se mostra mais acentuada no Brasil que nos demais países.
“Estamos consumindo um pouco mais de chocolate, mas pagando bem mais caro”, diz Adriana Murasaki, analista de pesquisa da Euromonitor International no Brasil. “O brasileiro continua comprando o produto porque entra na categoria de indulgência, do ‘eu mereço’, algo valorizado pelo consumidor local”, diz ela.
A indústria reforça suas apostas aqui, um mercado que ainda está em expansão, diferentemente de outros mais maduros, como o europeu. Para manter o aumento das vendas em plena alta de preços, os fabricantes têm oferecido porções menores, de consumo individual, como bombons, snacks e tabletes em torno de 90g, mesmo das marcas premium.
O Brasil é o quinto maior mercado de chocolates do mundo em volume, atrás de Estados Unidos, Rússia, Alemanha e Reino Unido. Em valor, é o sexto maior, ficando atrás também da França. Mas no líder global o consumo está em queda: os americanos vêm reduzindo a compra de guloseimas. As vendas unitárias de snacks doces, como chocolates e biscoitos, caíram 6,1% nos EUA no ano passado, de acordo com dados da consultoria NielsenIQ, como reação à alta dos preços dos produtos e ao uso de canetas emagrecedoras.
No Brasil, os preços seguem em escalada. “Entre janeiro e maio deste ano, frente ao mesmo período do ano anterior, o chocolate subiu 15,6%”, diz Gabriel Fagundes, líder de pesquisas sobre a indústria da NilsenIQ. Fagundes destaca a estratégia da indústria de apostar em chocolates com biscoito e recheio, para diminuir o uso de cacau nas apresentações, em um momento de elevação do preço da commodity.
A disparada na cotação do cacau no último ano -a tonelada chegou a ser negociada a US$ 11.675, ou R$ 63.143- levou a uma alta de 12% no preço dos chocolates no Brasil, muito acima da inflação de 2024, que ficou em 4,83%, segundo o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).
Embora o fornecimento de cacau tenha voltado a se estabilizar no mercado internacional, com maior disponibilidade do produto, novos contratos de hedge (proteção cambial) envolvendo a compra da commodity por grandes fabricantes globais estão sendo fechados agora, pegando o preço em torno de US$ 8.100 (R$ 43.808) a tonelada, diz Adriana. Para efeito de comparação, há dois anos, a tonelada do cacau na Bolsa de Nova York estava na casa dos US$ 3.500 (R$ 18.929).
Com uma cotação tão exorbitante, o cacau volta às origens e parece um produto destinado à realeza. Mas também da Europa parte uma promessa de alívio: após o acordo entre o Mercosul e Efta (Associação Europeia de Livre Comércio), celebrado no último dia 2, o chocolate suíço pode chegar ao Brasil sem imposto de importação, em uma quota ainda a ser definida.
Hoje, o chocolate importado consumido no país é pouco representativo: foram cerca de 8.700 toneladas no primeiro semestre deste ano, segundo a Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados). O volume corresponde a cerca de 5% do consumo nacional.
Uma das maiores fabricantes globais de chocolate premium, a suíça Lindt & Sprügli, presente no país desde 1969, está animada com o consumo brasileiro. O país foi um dos destaques em vendas no ano passado, ao lado de Japão e China, ao apresentar uma taxa de crescimento de 17,7%. Para efeito de comparação, as vendas globais da marca cresceram 4,9%.
Em 2014, a Lindt passou a ter uma subsidiária brasileira e hoje opera diretamente 91 lojas em 15 estados, somando cerca de 600 funcionários.
*DANIELE MADUREIRA/folhapress
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