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*Érico Miranda: O Legado Econômico do Papa Francisco

Da Redação*
Publicado em 22 de abril de 2025 às 22:38

Foto: Ascom

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No dia 21 de abril de 2025, o mundo perdeu o Papa Francisco, falecido aos 88 anos. Seu pontificado de mais de uma década foi marcado por profundas reflexões sobre a economia e o papel da Igreja na construção de um mundo mais justo e solidário. Entre suas contribuições mais significativas, destaca-se a proposta de uma economia centrada na dignidade humana, na justiça social e na preservação ambiental.​

A escolha do Papa para adotar o nome de Francisco, em homenagem ao Santo de Assis, foi profundamente simbólica e refletiu sua visão de uma economia centrada na fraternidade e na simplicidade. São Francisco, conhecido por seu amor aos pobres, à natureza e à vida em humildade, foi uma inspiração direta para o pontífice em sua abordagem econômica. Ao adotar esse nome, o Papa enfatizou a importância de um modelo econômico que se distanciasse do consumismo e da acumulação desenfreada de riquezas. Francisco de Roma, assim como o santo de Assis, acreditava que a verdadeira riqueza reside no cuidado com os mais pobres e a promoção de um sistema mais solidário e sustentável. Sua escolha de nome fortaleceu sua mensagem de que a economia deve ser uma ferramenta para o bem comum, respeitando a dignidade humana e o meio ambiente, e não um meio de exploração ou divisão.

Seu estilo pastoral também refletiu essa visão econômica. Ao optar por uma vida simples e próxima das pessoas, Francisco demonstrou que a verdadeira riqueza está na solidariedade e no serviço ao próximo. Essa postura inspirou líderes e cidadãos a repensar suas próprias atitudes em relação ao consumo e à distribuição de recursos.​

O legado do Papa Francisco para a economia é uma proposta radical de transformação, que parte da visão cristã de humanidade integral e sustentabilidade. Ao longo de seu pontificado, o Papa se afirmou como uma voz incansável contra os desmandos do capitalismo neoliberal e seus efeitos destrutivos, destacando a exclusão, a desigualdade social e a destruição ambiental como questões centrais. Em seu discurso econômico, ele propôs uma reconfiguração do sistema, voltada para a inclusão social e a justiça ecológica, fundamentada em princípios cristãos de fraternidade e solidariedade.

O marco desse legado foi o evento “The Economy of Francesco”, realizado em 2020, que convocou jovens economistas, empreendedores e agentes sociais a se unirem para construir uma nova economia, com ênfase nos mais pobres e excluídos. Francisco convocou esses jovens a serem protagonistas na reconstrução de um sistema econômico em ruínas, que, como ele próprio disse, não pode ser baseado na idolatria do dinheiro e na especulação financeira. A economia atual, que coloca o lucro acima do ser humano, é para ele um modelo insustentável, que deve ser substituído por uma nova lógica econômica que coloque o bem comum e o cuidado com a casa comum no centro.

No cerne de sua proposta, está a criação de uma “economia de Francisco”, uma economia mais humana, solidária e ecológica, que considere os limites dos recursos naturais e promova o desenvolvimento integral das pessoas. Em sua encíclica Laudato Si’, o Papa Francisca expõe sua visão de uma economia baseada na ecologia integral, que reconhece a interdependência entre o cuidado com o meio ambiente e o respeito à dignidade humana. Ele argumenta que a política e a economia devem se colocar a serviço da vida humana, em vez de se submeter aos ditames da tecnocracia e da especulação financeira.

Além disso, a preocupação com as desigualdades é central no pensamento econômico de Francisco. Em sua exortação Evangelii Gaudium, ele critica severamente as políticas econômicas que perpetuam a concentração de riqueza, defendendo uma economia que busque a justiça social, com a promoção de uma distribuição equitativa dos recursos. Ele propõe, então, uma nova cultura econômica, onde a prioridade seja a redução das desigualdades e o apoio aos países em desenvolvimento.

O chamado do Papa Francisco, que permanece ecoando em nossos ouvidos, é para uma mudança profunda e urgente. Ele aponta que não basta realizar uma reforma superficial, mas sim uma revolução nas bases do modelo econômico, que deve ser centrada na pessoa humana e na solidariedade. Para isso, ele propôs um pacto global que envolva ações concretas a nível local e global, de forma que todos possam ser beneficiados pela prosperidade gerada por um modelo econômico mais justo e sustentável.

Em um mundo cada vez mais polarizado, o legado de Francisco desafia os líderes políticos, economistas e cidadãos a construir uma economia em que todos se sintam parte de uma mesma fraternidade, onde a riqueza seja compartilhada e a dignidade de cada ser humano seja respeitada. O Papa Francisco, assim, deixa um legado que, mais do que uma mudança de paradigma econômico, é um convite à construção de um novo mundo, mais justo, mais fraterno e mais sustentável.

O legado econômico do Papa Francisco, por fim, é um convite à reflexão sobre o modelo de sociedade que desejamos construir. Ele nos desafia a adotar uma economia que coloque as pessoas e o meio ambiente no centro das decisões, promovendo uma verdadeira cultura de paz e justiça. Embora sua partida seja uma grande perda, suas ideias continuam a inspirar aqueles que buscam um mundo mais justo e sustentável.

 

*Érico Alberto de Albuquerque Miranda, professor da UFCG

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