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Morre um dos maiores nomes da história do reggae

Da Redação*
Publicado em 24 de novembro de 2025 às 12:07

jimmy cliff

Foto: Divulgação

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O cantor e compositor jamaicano Jimmy Cliff, um dos nomes mais influentes da história do reggae, morreu aos 81 anos, segundo comunicado publicado nesta segunda-feira (24) em sua conta oficial no Instagram.

A nota, assinada por sua mulher, Latifa, informa que o artista “cruzou para o outro lado após uma convulsão seguida de pneumonia”. No texto, ela agradece a familiares, amigos, artistas, colegas de trabalho e fãs que acompanharam a trajetória do músico.

“Seu apoio foi sua força ao longo de toda a carreira. Ele apreciava profundamente cada fã”, escreveu. Latifa também mencionou o trabalho da equipe médica que cuidou do cantor durante o período crítico.

O comunicado pede respeito à privacidade da família e afirma que mais informações serão divulgadas posteriormente. Jimmy Cliff ficou conhecido por clássicos como “Many Rivers to Cross” e “The Harder They Come”.

Nascido em Saint James, em 1944, Cliff viveu de perto as transformações que fizeram a música jamaicana se transformar e ser reconhecida ao redor do mundo, a partir dos anos 1950. Ele começou a carreira no início da década de 1960, depois de se mudar para Kingston, a capital do país, aos 14 anos.

Algumas de suas músicas já faziam algum sucesso na capital, mas Cliff só ficou mais conhecido quando conseguiu chamar a atenção do produtor Leslie Kong. Na época, a família do empresário de ascendência chinesa tinha uma loja de discos chamada Beverley’s, e foi o cantor quem o convenceu a gravar artistas locais —e a partir disso Kong se tornou um dos produtores mais importantes na história do reggae.

São dessa época músicas como “Miss Jamaica”, “Hurricane Hatty”, “One Eyed Jacks” e “Trust no Man”, entre outras, que captavam tanto o ska, que crescia desde a década de 1950, quanto o rocksteady, estilo que se estabeleceu naquela década de 1960.

À reportagem, Cliff disse que essa revolução na música acompanhou o processo de independência da Jamaica, que até 1962 integrava a colônia britânica. “A música na época era o ska, que expressava o espírito das pessoas, que estavam animadas. Tipo ‘olha, somos independentes’. Depois daquilo, a música ficou mais lenta, o rocksteady. Era assim ‘que independência é essa?’. Não somos independentes! Nada melhorou.”

Foi quando veio o reggae –Cliff, inclusive, foi quem fez a primeira audição de Bob Marley em estúdio. “Começamos a buscar algo que nos tornasse independentes. Olhamos para a África. E aí veio o reggae, uma música entre o rocksteady e o ska. E junto veio o rastafari, que é da cultura indígena jamaicana.”

Em 1964, Cliff chamou a atenção da Island Records, gravadora britânica que se tornou a vitrine desses artistas jamaicanos para Londres —e, depois, para o resto do mundo. Ele se mudou para a capital da Inglaterra aos 20 anos e se tornou um dos primeiros cantores de seu país a lançar um disco, seu primeiro, por um selo britânico.

“Hard Road to Travel”, o primeiro álbum de Cliff, de 1967, foi feito para um público britânico consumidor de rock, e trouxe uma influência forte também do soul e do funk da Motown dos Estados Unidos. O jovem jamaicano foi a Londres cheio de ambições. “Ia ser maior que Beatles e Stones, mas não aconteceu”, ele disse a este repórter.

Foi com este disco que o jamaicano veio ao Brasil pela primeira vez —e estabeleceu uma relação duradoura com o país. Ele chegou em 1968 para cantar no Festival Internacional da Canção, no Rio de Janeiro. Ia ficar duas semanas, mas acabou ficando por quatro meses e ainda lançou o disco “Jimmy Cliff in Brazil”, de 1968 —com três versões de canções brasileiras, incluindo “Andança”, conhecida na voz de Beth Carvalho, que virou “The Lonely Walker” com o jamaicano.

As experiências no país motivaram duas de suas músicas mais conhecidas —”Wonderful World, Beautiful People”, a partir da memória do Maracanãzinho explodindo de alegria ao vê-lo cantar, e “Many Rivers to Cross”. Esta segunda tem relação com o que Cliff tinha ouvido sobre o racismo no Brasil.

Segundo o cantor em diversas entrevistas, foi dito a ele que não havia discriminação contra os negros, que conviveriam em paz com os brancos. Ao chegar aqui, Cliff percebeu que apesar da beleza superficial, havia um segredo por trás dessa suposta harmonia.

“É um país lindo, tudo é bonito, mas existe um segredo por debaixo disso. Os pretos não lutavam contra as pessoas que os oprimiam. Eu entrava no banco e não via uma pessoa negra. Era opressor de tantas maneiras que eu não conseguia entender como eles não se revoltavam”, ele afirmou a este jornal.

Aquele foi um momento de virada na carreira do artista. A música “Wonderful World, Beautiful People” chegou ao sexto lugar das paradas britânicas em 1969, rodou nos Estados Unidos e se tornou um dos primeiros sucessos da música jamaicana fora da Jamaica. Também alavancou o disco de mesmo nome.

Depois de ser um dos primeiros músicos jamaicanos a ir a Londres e, depois, a vir ao Brasil e tocar nos Estados Unidos, Cliff também abriu caminho no cinema. Ele captou a cultura de gangue de Kingston para dar vida a Ivanhoe “Ivan” Martin, um dos mais famosos rudeboys do país, no filme “The Harder They Come” —ou “Balada Sangrenta”, de 1972.

O cantor viveu o auge das disputas entre gangues, muitas delas armadas, na capital jamaicana, e já disse que quase permaneceu nessa cultura. Os rudeboys eram jovens das camadas mais pobres, que ouviam ska e rocksteady, tinham uma postura combativa de nunca abaixar a cabeça e resolviam seus problemas através da violência —incluindo as rivalidades entre os sound systems da época.

Além de captar esse estilo de vida, o filme do diretor Perry Henzell ficou famoso pela trilha sonora, tida como uma das obras fundamentais para tornar a música jamaicana conhecida no resto do mundo. Cliff cantou boa parte das faixas, e se destacou especialmente pela otimista “You Can Get it if You Really Want”.

Dali em diante, o artista seguiu como uma espécie de embaixador daquela cena musical vibrante da Jamaica —na década de 1970, já com Bob Marley e o reggae famosos mundo afora. Em 1975, ele cantou no prestigioso programa “Saturday Night Live”, dos Estados Unidos, e depois viajou à África para se reconectar com sua ancestralidade, sob influência do escritor jamaicano radicado na Nigéria Lindsay Barrett.

Cliff na época se converteu ao islã, e essas experiências acabaram dando o tom do disco “Give Thankx”, de 1978. Criado num lar cristão, ele depois disse que não encontrou a verdade na religião, afirmando ao jornal jamaicano Jamaica Star, em 2021.

“Eu segui e estudei o islã por um tempo, mas ainda não encontrei a verdade. Não satisfez minha alma. Então, fui para a Índia, cheguei a morar em um Ashram [um local para retiro espiritual] e estudei o hinduísmo. Por conta própria, pesquisei sobre o budismo. Eu os chamava de escolas [de conversão]”.

*LUCAS BRÊDA/Folhapress

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