Fechar
O que você procura?
Foto: Marina Ramos/Câmara dos Deputados
Continua depois da publicidade
Continue lendo
Doze dias após ser anunciado como novo ministro do governo Lula (PT), o deputado Pedro Lucas Fernandes (União Brasil-MA) confirmou nesta terça-feira (22) a recusa para assumir o Ministério das Comunicações. A decisão causa constrangimento público ao governo, que ameaça rever os espaços do União Brasil na Esplanada dos Ministérios, e expõe fragilidades de base de apoio do petista.
“Minhas mais sinceras desculpas ao presidente Lula por não poder atender a esse convite. Recebo seu gesto com gratidão e reafirmo minha disposição para o diálogo institucional, sempre em favor do Brasil”, afirmou o parlamentar na nota em que anuncia que continuará como líder do partido na Câmara.
Pedro Lucas foi anunciado pelo governo para substituir Juscelino Filho na pasta das Comunicações no último dia 10, após o correligionário ter sido denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da República), sob acusação de corrupção passiva e de outros crimes relacionados a suposto desvio de emendas.
O anúncio tinha sido feito pela ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais) após reunião no Palácio da Alvorada com Lula, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e Juscelino. Antes, Alcolumbre telefonara para o presidente da República afirmando que o deputado era o nome indicado pelo partido para ocupar o posto.
No dia seguinte ao da reunião no Alvorada, no entanto, o deputado divulgou nota afirmando que ainda precisaria consultar a bancada do partido na Câmara antes de tomar qualquer decisão, já que ele é líder do União Brasil na Casa.
Como a Folha de S.Paulo antecipou, ele já havia afirmado a correligionários durante o feriado que recusaria o convite. O episódio aprofunda a divisão interna do partido.
“Sou líder de um partido plural, com uma bancada diversa e compromissada com o Brasil. Tenho plena convicção de que, neste momento, posso contribuir mais com o país e com o próprio governo na função que exerço na Câmara dos Deputados”, disse Pedro Lucas na nota.
Dois ministros ouvidos pela reportagem buscaram minimizar qualquer dano à imagem do governo federal diante desse recuo do parlamentar. Eles afirmam que o deputado aceitou o convite de Lula na reunião e estava empolgado para assumir o posto, mas não conseguiu viabilizar junto à bancada sua ida ao ministério. Na avaliação deles, isso gera prejuízos ao partido, ao expor suas divergências internas.
Um desses auxiliares do presidente diz que isso é uma questão interna do União Brasil e afirma que o Palácio do Planalto não vai interferir nesse processo. Ele comentou ainda que, apesar de não ser uma situação ideal, o governo não deverá fazer nenhum movimento para se indispor com o partido.
Outro aliado, por sua vez, afirma que o governo não ficará de braços cruzados esperando um retorno do partido sobre o ministério. Ele também diz que esse não é o cenário ideal para o Executivo, mas nega que isso possa ser classificado como uma crise para o governo, por ser uma questão interna do União Brasil.
Até mesmo aliados do parlamentar reconhecem um erro político nessa movimentação.
Apesar disso, deputados do União Brasil creditam esse erro a Alcolumbre. Eles dizem que esse movimento foi acelerado e que o presidente do Senado tentou interferir numa questão da bancada da Câmara ao impor o nome de Juscelino para ser líder. O ex-ministro, no entanto, não teve apoio suficiente para isso.
A manutenção de Pedro Lucas como líder do partido na Câmara, por outro lado, pode ajudar o governo ao impedir que algum deputado de oposição assuma a função.
Ele tomou a decisão de permanecer no cargo justamente para evitar que outro grupo rival conseguisse eleger o representante da bancada e, com isso, diminuísse o poder do presidente do partido, Antonio Rueda, sobre os parlamentares.
A eleição do próprio Pedro Lucas demorou três meses de negociações, num embate com o grupo político mais ligado a Alcolumbre e com a ala da legenda que defende o afastamento do governo Lula. O grupo de Rueda prevaleceu após vários adiamentos da eleição interna até que fosse formado um consenso, com a desistência dos adversários.
O União Brasil é marcado por divisões internas. A sigla surgiu da fusão do antigo DEM e do PSL em 2022 como uma legenda de centro-direita. Hoje, há uma ala mais governista e outra oposicionista.
Formalmente, o União Brasil integra o governo porque tem outros dois ministérios, além das Comunicações: Turismo e Desenvolvimento Regional. Na Câmara, possui a terceira maior bancada (com 59 deputados) e, no Senado, 7 senadores.
Desde o fim do ano, a sigla vem sendo criticada por governistas pela atuação tímida em votações consideradas prioritárias para o Palácio do Planalto na Câmara. Recentemente, 40 dos 59 deputados da bancada assinaram pedido de requerimento de urgência do projeto de lei que dá anistia aos condenados do 8 de janeiro, projeto que o governo é frontalmente contra.
© 2003 - 2025 - ParaibaOnline - Rainha Publicidade e Propaganda Ltda - Todos os direitos reservados.