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Ex-ministro Cristovam Buarque: Os repetidos erros da esquerda

Da Redação*
Publicado em 20 de novembro de 2024 às 20:53

cristovam buarque

Foto: ParaibaOnline/Arquivo

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Repete-se em 2024 a predominância da direita sobre a esquerda, em 2018, 2020, 2022 (em que apesar do seu prestígio e enfrentando a excrescência de Bolsonaro o Lula venceu por uma diferença mínima, e com um Congresso e Governadores conservadores).

Percebe-se que esta tendência decorre de erros explicitados já em 2019, (no livro “Por Que Falhamos” publicado pela Editora TEMA) mas que a esquerda não reconhece.

Primeiro erro é o comportamento arrogante de fechar os olhos aos próprios erros, achando que as eleições são perdidas por culpa dos eleitores e das manipulações da direita, não por falta de sintonia da esquerda com o eleitorado.

Por falta de propostas novas e discursos convincentes, a esquerda ficou superada pela marcha da história, mas se recusa a reconhecer seu atraso e isolamento. Ao se julgar dona de verdade científica, e única a favor do progresso e dos interesses do povo em geral, a esquerda acha que a lógica seria suficiente para convencer aos eleitores, esquecendo que a democracia exige sedução, não apenas convencimento do eleitor.

Segundo, a esquerda deixou de oferecer uma proposta transformadora com esperança alternativa para uma sociedade melhor, eficiente e justa. Se a esquerda se propõe apenas a administrar a economia como ela é, e manter os programas sociais como eles já estão adotados há 25 anos, o eleitor confia mais na eficiência e na sinceridade da direita.

Por não se diferenciar da direita na economia e na sociedade, a esquerda concentrou suas bandeiras nos costumes morais sem entender que, entre os eleitores, estes valores só avançam em uma velocidade própria e lenta. Com isto a esquerda optou por representar nichos específicos e se isolou do eleitor em geral. Foi erro desprezar a importância da religiosidade e da Igreja na opção de voto dos eleitores.

Em seus acertos humanistas a esquerda se afasta do eleitor que tende a ser motivado pelos interesses imediatas e locais. A correta defesa dos povos indígenas e do equilíbrio ecológico impõe perdas eleitorais se o eleitor não for convencido a se sacrificar pelo bem comum ou não receber compensação pela perda de emprego, renda e consumo.

A esquerda, no mundo inteiro, não está sabendo como defender o longo prazo da humanidade sem sacrificar os interesses do eleitor no presente.

Outro erro é não ter entendido que diante dos limites do Estado e do Meio Ambiente, saímos de uma Era de Abundância para uma Era de Escassez e que muitos direitos adquiridos nas últimas décadas não poderão ser estendidos aos que ficaram excluídos.

No lugar de oferecer uma alternativa para os novos tempos, a esquerda, a esquerda tem sido vista como defensora dos direitos adquiridos no passado: compromissos maiores com sindicatos do que com as massas, mais defesa dos servidores públicos do que dos usuários dos serviços públicos.

A esquerda não entendeu ainda que Estado não é sinônimo de Público. E se transformou na defensora de mordomias, desperdícios e ineficiências dos governos. A esquerda fala em distribuição de renda mas no fundo defende privilégios que a concentram.

Ainda pior, na opinião pública perdeu a bandeira da ética e ficou como inimiga das medidas moralizadoras e amiga da corrupção.

Também erra ao não saber usar os novos instrumentos de comunicação social e dos algoritmos que permitem comunicação direta com cada eleitor usando-se fake news ou “verdades dúbias” que convencem ao eleitor.

Embora ela própria use “verdades dúbias” quando lhe interessa, a esquerda tende a menosprezar as versões que se afastam de uma verdade pura, imaginando que o eleitor não vai acreditar nelas.

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