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Caso Marielle: veja detalhes da operação final da PF neste domingo

Da Redação*
Publicado em 24 de março de 2024 às 21:35

caso marielle - operação da polícia federal

Foto: José Cruz/ Agência Brasil

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A Polícia Federal prendeu neste domingo (24) três suspeitos de mandar assassinar a vereadora Marielle Franco (PSOL) e o motorista Anderson Gomes, além da tentativa de matar a assessora Fernanda Chaves, em março de 2018.

Foram presos o deputado federal Chiquinho Brazão (União Brasil-RJ) e o seu irmão, o conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado) do Rio Domingos Brazão, e o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil no Rio.

A autorização para a operação foi dada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, que horas depois determinou o levantamento do sigilo das peças relacionadas ao caso. Ele enviou sua decisão para referendo da Primeira Turma da corte.

As prisões deste domingo são tratadas na PF como uma grande conquista, já que o caso havia sido finalizado sem chegar a mandantes. No início do ano passado, primeiros meses do governo Lula, o novo superintendente da polícia no Rio reabriu a apuração, desta vez em âmbito federal.

Os três suspeitos foram levados para Brasília no fim da tarde. Eles devem ser encaminhados a presídios federais diferentes, o que ainda depende de decisão judicial.

Em conversa com jornalistas do lado de fora da sede da PF (Polícia Federal) no Rio, o advogado Ubiratan Guedes, responsável pela defesa de Domingos Brazão, afirma que o conselheiro do TCE não conhecia Marielle e é inocente

A advogada do ex-chefe da Polícia Civil, Thalita Mesquita, disse que ele nega qualquer envolvimento com o crime. “A defesa tem certeza da inocência dele.”

A defesa de Chiquinho Brazão foi procurada pela reportagem, mas ainda não se manifestou.

A operação, chamada Murder Inc., é realizada em conjunto com a Procuradoria-Geral da República e o Ministério Público Federal do Rio de Janeiro. Foi realizada no domingo para surpreender os suspeitos, de acordo com as primeiras informações. Há a indícios de que eles tentariam fugir.

A ação conta ainda com o apoio da Secretaria de Estado de Polícia Civil do Rio de Janeiro e da Secretaria Nacional de Políticas Penais, do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, afirmou em entrevista a jornalistas que as prisões são “uma vitória do estado brasileiro, das nossas forças de segurança do país em relação ao combate ao crime organizado.”

Além dos mandados de prisão, a polícia cumpriu 12 mandados de busca e apreensão, todos no Rio.

Foram ainda alvo de busca o delegado Giniton Lages, que esteve à frente do caso Marielle Franco no início das investigações, na delegacia de homicídios do Rio; Marcos Antônio de Barros Pinto, que foi seu auxiliar; Erika Araújo, esposa do Rivaldo; e Robson Calixto Fonseca.

A operação da PF ocorre apenas cinco dias após Moraes homologar a delação premiada do ex-policial Ronnie Lessa, suspeito de ser o executor do crime. De acordo com informações de investigadores, a colaboração foi essencial para determinar os mandantes.

Lessa foi preso em 2019 durante o período de atuação de Giniton Lages no caso. Em depoimento ainda naquele ano, o delegado afirmou que a investigação teve falhas que atrasaram a identificação dos acusados do crime. Os erros teriam ocorrido na coleta e análise de imagens a fim de identificar o trajeto feito pelo Cobalt usado pelos assassinos.

De acordo com trecho da representação enviada pela PF a Moraes, o assassinato de Marielle Franco foi “arquitetado” por Domingos e Chiquinho Brazão e pelo delegado Rivaldo Barbosa. O texto diz que o crime foi idealizado pelos irmãos e “meticulosamente” planejado pelo policial.

Rivaldo chegou a fazer a exigência que seria repassada aos executores, dizem os investidores, de que a morte não poderia se originar da Câmara dos Vereadores (Chiquinho era vereador na mesma legislatura que Marielle).

De acordo com a PF, é justificada a qualificação de Rivaldo como autor do delito porque, apesar de não ter idealizado o crime, ele “foi o responsável por ter o controle do domínio final do fato”. Segundo os investigadores, ele teve “total ingerência sobre as mazelas inerentes à marcha da execução, sobretudo, com a imposição de condições”.

Durante a semana, Lewandowski, anunciou a homologação no STF da delação de Ronnie Lessa. O acordo teria sido decisivo para as investigações avançarem e culminarem com a prisão dos suspeitos de serem os mandantes.

A ministra Anielle Franco (Igualdade Racial), irmã de Marielle, comemorou as prisões. “Só Deus sabe o quanto sonhamos com esse dia! Hoje é mais um grande passo para conseguirmos as respostas que tanto nos perguntamos nos últimos anos: quem mandou matar a Mari e por quê?”, disse.

Ela agradeceu a Polícia Federal, o governo federal e o Ministério Público, além do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que deu as ordens de prisão.

A família de Marielle ficou particularmente surpresa com a prisão do delegado Rivaldo Barbosa.

“Acho que a maior surpresa nisso tudo era exatamente o nome do doutor Rivaldo. Era um nome que inclusive a minha filha confiava nele, no trabalho dele. Ele foi um homem que disse que era questão de honra para ele elucidar esse caso. Ele disse para mim e para meu marido que era questão de honra”, afirmou Marinete da Silva, em entrevista à Globonews.

“É uma tristeza muito grande, porque quando você passa a viver uma situação dessa, com uma autoridade que está dentro do serviço público para fazer seu trabalho. É ainda mais difícil. Infelizmente, ver o nome do doutor Rivaldo nessa lama”, completou.

A União Brasil, partido de Chiquinho Brazão, pretende decidir ainda neste domingo sobre o processo de expulsão do parlamentar preso na operação. O presidente da legenda, Antonio Rueda, divulgou uma nota poucas horas após a prisão informando que solicitou a abertura do processo disciplinar.

A legenda afirma que Brazão já não mantinha relacionamento com o partido e havia solicitado ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a autorização para se desfiliar.

Inicialmente, a reunião da executiva nacional da União Brasil estava programada para terça-feira (26), mas Rueda decidiu antecipar o encontro para evitar desgastes para a agenda. O futuro de Brazão será então decidido em um encontro virtual na noite deste domingo (24).

*CRISTINA CAMARGO, BRUNO BOGHOSSIAN, FABIO SERAPIÃO, BRUNA FANTTI E MATEUS VARGAS/Folhapress

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