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Edjamir Sousa Silva

Edjamir Sousa Silva

Padre e psicólogo.

Um amor que nos dá segurança e alegria

Por Edjamir Sousa Silva
Publicado em 10 de março de 2024 às 11:57

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A liturgia de cada domingo da Quaresma funciona como um itinerário espiritual como caminhada para a vida nova pascal que nos aguarda, construída neste caminho.

Domingo passado meditávamos “As dez palavras” (Decálogo) dadas a Moisés como fonte de vida para um povo libertado da escravidão na terra do Egito em marcha para a terra prometida. Ouvíamos que Jesus, que é o Verbo Encarnado do Pai, também libertava pela força de sua palavra, pessoas e estruturas mergulhadas na alienação do pecado: “Tirai isso daqui (…)” (Jo 2, 16).

Celebramos hoje o 4º Domingo da Quaresma, estamos mais próximos da festa da Páscoa. Este é o Domingo Laetare (da alegria), pois aqui escutamos: “Deus amou tanto o mundo que nos enviou o seu Filho Amado” (Jo 3,16).  O amor de Deus por nós é a causa principal de nossa alegria.

Na 1a leitura (2Cr 36,14-16.19-23) continuamos atentos às histórias do Povo da Antiga Aliança. De um lado, a fidelidade de Deus; de outro, a infidelidade do povo, que com facilidade abandona o Senhor. O cardeal Gianfranco Ravasi (biblista e prefeito emérito do Dicastério para a Cultura) comentando este trecho, afirma: “um ângulo teológico em que se pode ler toda a história do povo de Israel”.

O v. 14 condensa o trecho que denuncia a infidelidade do povo, das autoridades e dos sacerdotes “aumentaram os crimes que cometiam, imitando as abominações das nações” (v. 14).  Nem mesmo o espaço sagrado era respeitado: “profanaram o templo” (v. 14). Quanto aos mensageiros que Deus tinha enviado, “levavam na brincadeira suas palavras e zombavam dos profetas” (v. 16). Aquilo que, depois, parecia ser um castigo de Deus sobre o povo era, na verdade, fruto da escolha desse povo por uma vida de muitas transgressões, injustas e infiéis. A esperança, como sempre, vem do mesmo Deus, que não se cansa de perdoar e de despertar a consciência das pessoas, a fim de ajudá-las a erguer uma vida nova.

Na 2ª leitura (Ef 2,4-10) são Paulo lembra que seguir Jesus Cristo é passar do pecado à graça, da morte à nova vida. Jesus “é a porta” de passagem (Jo 10,9) nele vivemos a vida de ressuscitados.

O evangelho deste domingo da alegria (Jo 3,14-21) é parte de um diálogo de Nicodemos (um sábio fariseu interprete da escritura) com Jesus, Nicodemos busca respostas para as questões de fé pessoal. Jesus, com toda a humildade, sabedoria e paciência lhe ensina a sabedoria do alto.

De forma simples, Jesus ensina a Nicodemos que para se chegar à sabedoria do alto é fundamental que ele (Nicodemos) e todas as pessoas precisam nascer de novo para ter acesso ao Reino de Deus.

Jesus fala de duas questões conflitantes: 1) a revelação de Deus (sinal); 2) a incapacidade de compreender (crer) do ser humano. Deus envia seu Filho Jesus como sinal. E espera uma (do ser humano) decisiva a esse sinal.

Nos versículos 14-21, começa contando o episódio em que Moisés foi instruído a fazer uma imagem da serpente e colocá-la à vista do povo para que pudessem vê-la e ser curados e como sinal para que Deus lhes perdoasse o pecado. (Nm 21,8-9).

A partir da encarnação de Deus, em Jesus, não é mais a serpente o símbolo de cura, mas o próprio Filho de Deus como sinal de salvação (o sinal de Deus sai de uma cura para uma salvação). Jesus é apresentado como o novo Moisés que veio ao mundo para manifestar o Amor de Deus por todas as pessoas e quem Nele crer tem vida nova que brota desse caminhar com Jesus.

Ao ser levantado, colocado no alto da cruz, o Filho do homem torna-se visível a quem o queira contemplar como “sal da terra e luz do mundo” (cf. Mt 5, 14). O olhar para a cruz, é um convite a nascer do alto: “Vitória, Tu reinarás. Ó Cruz, tu nos salvarás!”

Ao contemplar Jesus no alto significa reconhecer que sua missão requer fidelidade ao projeto do Pai, em favor da humanidade; e, por outro lado, admitir que essa forma de ser elevado, “subir ao trono”, foi o que nos trouxe a libertação definitiva.

Quem contempla a cruz (sabedoria do alto) é chamado a entender que Jesus não veio para condenar o mundo, mas para salvá-lo. Veio como a Luz. Veio para salvar quem N`Ele crer!

O poder do amor de Deus (no extremo da cruz) elimina de uma vez por todas, as mordidas da serpente que conquistou Eva e Adão acarretando na morte para toda a humanidade. Ele é Aquele que nos atingiu com forte “veneno” da compaixão, da ternura, do perdão, da misericórdia e do amor de Deus seu Pai. O Seu plano é que o pecador se arrependa e possa viver em comunhão com o Pai.

O poder do amor (sabedoria do alto) convida o ser humano a nascer de novo para uma vida que, assim como em Jesus, seja doação total a Deus e ao próximo (no matrimonio, na família, na igreja, na sociedade, na politica, na justiça, na economia, no desenvolvimento social).

A cruz de Jesus (sabedoria do alto) se torna escada (como dizia Santa Rosa de Lima) e sinal visível entre o céu e a terra como chave de leitura e acesso ao Pai.

No diálogo com Nicodemos, Jesus, o Filho de Deus, quer tocar no mais fundo do seu ser e lhe faz um convite à conversão. Do farisaísmo ao evangelho, Jesus convoca Nicodemos, também a nós, a trilhar o caminho da solidariedade, da partilha e o compromisso com quem sofre injustiças. Aqui reside a sabedoria do alto.

Então façamos uma reflexão para a nossa vida: O que significa escolher caminhar na luz? Quando sabemos que caminhamos na luz? Nós cremos no imenso amor do Pai, que nos deu seu Filho para nossa salvação? Há situações que nos fazem questionar o amor de Deus ou confiamos plenamente no Seu amor?

Assim como Nicodemos procurou Jesus, busquemos também nós à Sua Luz. Como será importante nesse período quaresmal, período de renovação, fazer um bom exame de consciência e procurar o sacramento da reconciliação.

Fará bem a todos nós arriscar-nos, mesmo com poucas palavras, em pedir perdão a Deus das nossas indiferenças com Ele e com os outros. Pedir perdão das nossas resistências em preferir viver num farisaísmo a uma vida nova do evangelho (sabedoria do alto) que nos faz considerar todos como irmãos (cf Mt 23, 28).

Boa Semana!

 

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