Blogs e Colunas

Benedito Antonio Luciano

Benedito Antonio Luciano

Professor Titular aposentado do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).

Soldados da Borracha

Por Benedito Antonio Luciano
Publicado em 9 de julho de 2025 às 8:15

Continua depois da publicidade

Na selva amazônica, homens anônimos protagonizaram uma epopeia esquecida: os Soldados da Borracha. Recrutados pelo governo brasileiro durante a Segunda Guerra Mundial, dezenas de milhares de nordestinos foram atraídos por promessas de riqueza e glória patriótica.

Esses homens eram soldados sem farda, lutando não nas trincheiras, mas sob o manto úmido da floresta, extraindo do tronco das seringueiras o látex que alimentava a indústria bélica. Naquele ambiente insalubre, em condições precárias, muitos morreram vítimas da malária e, consequentemente, poucos sobreviveram para contar suas histórias.

Antes da guerra, cerca de 90% da borracha mundial vinha do Sudeste Asiático (Malásia, Indonésia e outras colônias britânicas e holandesas). Com a invasão japonesa dessas regiões, a partir de 1941, os Aliados perderam o acesso à principal fonte de borracha natural.

Com o bloqueio do Sudeste Asiático, os EUA e o Brasil assinaram o Acordo de Washington em 1942. Segundo esse acordo, o Brasil se comprometeu a fornecer borracha extraída da Amazônia. Para isso, milhares de trabalhadores foram recrutados, principalmente do Nordeste brasileiro, para suprir essa demanda.

Na Segunda Guerra Mundial, a borracha era um recurso estratégico devido à sua importância vital na indústria bélica, pois era empregada como matéria-prima na fabricação de pneus para aviões e veículos terrestres, peças para navios, botas e roupas impermeáveis para os soldados, mangueiras, botes e equipamentos médicos.

Naquele contexto bélico, três insumos eram essenciais: petróleo, aço e borracha. Sem eles o funcionamento de veículos militares e outras máquinas de guerra seria inviável. Portanto, no que diz respeito à borracha, o Brasil colaborou decisivamente com o fornecimento desse insumo estratégico.

Quando a guerra acabou, a pátria esqueceu os seringueiros, e esses soldados sem medalhas ficaram no limbo da história. Segundo minha mãe, o pai dela, meu avô Adelino Fernandes da Silva, foi um desses. Natural do município de Brejo do Cruz-PB, ele deixou a região Nordeste para tentar ganhar a vida como seringueiro na região amazônica.

Mas, em vez de ganhar a vida, encontrou a morte. Ao pisar em um espinho venenoso, ele adoeceu e retornou para casa, onde morreu, deixando minha avó desamparada, com nove filhos para criar, sendo cinco filhas e quatro filhos, dando início a um dramático processo de desestruturação familiar.

Um dos filhos mais velhos saiu para conseguir trabalho e nunca mais voltou, sem sequer dar notícias à família; uma das filhas morreu precocemente; outra foi adotada por uma família que morava em Natal-RN; e a minha avó, sem nenhum tipo de pensão, morreu em condições financeiras precárias.

Ao contrário dos soldados brasileiros que lutaram na Campanha da Itália, os que lutaram na “Batalha da Borracha” foram por muito tempo esquecidos pelo Estado brasileiro. Somente com a Constituição de 1988 é que os sobreviventes tiveram direito à pensão de dois salários mínimos pelos serviços prestados à pátria em condições tão adversas quanto heroicas.

Atenção: Os artigos publicados no ParaibaOnline expressam essencialmente os pensamentos, valores e conceitos de seus autores, não representando, necessariamente, a linha editorial do portal, mas como estímulo ao exercício da pluralidade de opiniões.

Valorize o jornalismo profissional e compartilhe informação de qualidade!

Continua depois da publicidade

ParaibaOnline

© 2003 - 2025 - ParaibaOnline - Rainha Publicidade e Propaganda Ltda - Todos os direitos reservados.

Embalagens em papelão Notícias de João Pessoa Baterias para Carros e Motos em Campina Grande e João Pessoa Sindilojas Campina Grande