Blogs e Colunas

Alexandre Moura

Alexandre Moura

Engenheiro Eletrônico, MBA em Software Business e Comércio Eletrônico, Diretor da Light Infocon Tecnologia S/A e Diretor de Relações Internacionais da BRAFIP – Associação Brasileira de Fomento à Inovação em Plataformas Tecnológicas.

Os “impactos” das possíveis sanções dos EUA ao segmento de TIC do Brasil

Por Alexandre Moura
Publicado em 24 de julho de 2025 às 9:30

Continua depois da publicidade

O “assunto” do momento é a possível aplicação de “sanções tarifárias” ao Brasil, por parte dos Estados Unidos. Sem entrar nos motivos da decisão do governo americano, na coluna de hoje vou procurar avaliar/analisar os “impactos no Segmento de TIC brasileiro” (se as sanções acontecerem).

Nas últimas décadas, o Brasil vem consolidando um Ecossistema Tecnológico e de Inovação promissor, a exemplo dos Ecossistemas de Inovação em cidades como Campinas (SP), Recife (PE) e Campina Grande (PB) com seu E.InovCG (Ecossistema de Inovação de Campina Grande). O país tem atraído investimentos estrangeiros (além dos locais), incentivado o crescimento de startups e promovido políticas para fomentar a transformação digital em diferentes setores da economia.

No entanto, esse cenário pode ser profundamente afetado pelas possíveis sanções ou “medidas de taxação”, por parte dos Estados Unidos ao setor de tecnologia brasileiro.

Historicamente, as relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos oscilam entre cooperação e tensão, dependendo de interesses geopolíticos, econômicos e estratégicos.

No contexto atual, em que a competitividade tecnológica se tornou um ativo geopolítico, qualquer movimento por parte do governo americano, que implique barreiras comerciais, como aumento de tarifas sobre produtos e/ou serviços de TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação) oriundos do Brasil, pode provocar uma reação em cadeia com sérias consequências para a indústria nacional de tecnologia, especialmente a “Indústria de Software” e serviços associados.

Os “Impactos” das Possíveis Sanções dos Estados Unidos ao Segmento de TIC do Brasil (II)

Um dos primeiros impactos seria a “redução da competitividade das exportações brasileiras de software, serviços de TI e soluções em nuvem”. As empresas brasileiras que mantêm contratos com clientes nos Estados Unidos – principalmente serviços de outsourcing (contratar/terceirizar serviços de/para uma empresa de outro país) de desenvolvimento, atendimento técnico, suporte remoto e BPO (Business Process Outsourcing – “Terceirização” de Processos de Negócios) – enfrentariam grande aumento de custos (na possibilidade desse setor, realmente, ser atingido pelas novas tarifas) e possivelmente, perda de contratos para concorrentes de países submetidos a tarifas bem menores. Além disso, as empresas brasileiras em “estágio de internacionalização”, também seriam prejudicadas.

O mercado americano é, tradicionalmente/frequentemente, a “porta de entrada” para empresas que buscam “escalar globalmente”. O maior exemplo é a participação anual e tradicional, do Brasil no evento “Gartner IT Symposium/Xpo™ Conference”, que acontece todos os anos no mês de outubro, na cidade de Orlando, Florida, e que serve de “vitrine” para as empresas que buscam negócios nos Estados Unidos.

Barreiras comerciais e regulatórias mais rígidas dificultariam ainda o acesso a investimentos de “venture capital (capital de risco) norte-americanos” e também, restringiriam o intercâmbio tecnológico e o networking com aceleradoras e centros de inovação, sediados nos Estados Unidos.

Os “Impactos” das Possíveis Sanções dos Estados Unidos ao Segmento de TIC do Brasil (III)

Com relação à produção local de hardware (computadores e produtos associados), as empresas brasileiras que dependem da importação de componentes norte-americanos – como chips, sensores, placas eletrônicas, soluções de IoT (Internet das Coisas), softwares específicos, etc. – também seriam impactadas, caso o Brasil, em “retaliação”, imponha/aumente as tarifas de importação para produtos de origem americana.

Isso elevaria o custo por exemplo, de produção de dispositivos e sistemas, que hoje abastecem setores como o agronegócio, a indústria 4.0, fabricantes de equipamentos para saúde digital e soluções relacionadas a cidades inteligentes, reduzindo a competitividade do Brasil frente a outras economias emergentes.

Mas vale lembrar, que, parte desses componentes já vem de fornecedores asiáticos, o que deve diminuir um pouco o impacto imediato.

Outro ponto que deve ser levado em consideração, é o referente à “colaboração acadêmica, tecnológica e científica”. Parte do setor de TIC se apoia em parcerias com universidades e/ou centros de pesquisa internacionais (na maioria americanos).

Caso haja restrições de acesso a programas de intercâmbio, fomento a projetos conjuntos ou mesmo compartilhamento de dados e conhecimento, entre empresas e universidades brasileiras e instituições norte-americanas, o desenvolvimento de pesquisas de ponta, como em IA (Inteligência Artificial), segurança cibernética, computação quântica e biotecnologia, poderá ser seriamente comprometido.

Os “Impactos” das Possíveis Sanções dos Estados Unidos ao Segmento de TIC do Brasil (IV)

Na rápida avaliação apresentada acima, os efeitos sobre o “Ecossistema Tecnológico” brasileiro (e na economia como um todo, visto que TIC é “suporte” para praticamente, todos os setores econômicos de uma nação) das possíveis “sanções”, seriam profundos e exigiriam uma resposta estratégica e coordenada do setor público e privado. Isso incluiria a diversificação de mercados internacionais, o fortalecimento de cadeias produtivas locais e incentivo à inovação nacional. Mas isso leva tempo, muito tempo.

O país terá de repensar e planejar, rapidamente, seu modelo (atual) de inserção na economia digital global. Embora represente um grande desafio, essa situação pode ser uma oportunidade para o Brasil reforçar seu setor tecnologia, investir em pesquisa nacional e estimular o desenvolvimento de soluções próprias, reduzindo (no médio e longo prazo) sua dependência de fornecedores e mercados externos.

Em um mundo cada vez mais interconectado, qualquer barreira ao fluxo de conhecimento e tecnologia entre países, tem consequências que vão além do comércio – impactando diretamente a inovação, a segurança digital e o futuro de sociedades cada vez mais “digitalizadas”, como a nossa.

Atenção: Os artigos publicados no ParaibaOnline expressam essencialmente os pensamentos, valores e conceitos de seus autores, não representando, necessariamente, a linha editorial do portal, mas como estímulo ao exercício da pluralidade de opiniões.

Valorize o jornalismo profissional e compartilhe informação de qualidade!

Continua depois da publicidade

ParaibaOnline

© 2003 - 2025 - ParaibaOnline - Rainha Publicidade e Propaganda Ltda - Todos os direitos reservados.

Embalagens em papelão Notícias de João Pessoa Baterias para Carros e Motos em Campina Grande e João Pessoa Sindilojas Campina Grande