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Professor Titular aposentado do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
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Em 6 de novembro de 2024, fui presenteado com um exemplar do livro Machado de Assis Contista: imagens de escravidão e da cidade negra do Rio de Janeiro oitocentista, obra de autoria de Ariosvalber de Souza Oliveira, publicada pela EDUFCG (Editora da Universidade Federal de Campina Grande) em 2019.
Ariosvalber é licenciado em História pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), especialista em História e Cultura Afro-brasileira pela mesma instituição e mestre em História pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Atualmente, é doutorando em Educação na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em João Pessoa-PB, tendo como tema de sua tese A história das lutas de militantes negros na Paraíba por e na educação (1988-2018).
Com 157 páginas, o livro apresenta-se estruturado da seguinte forma: introdução; três capítulos; considerações finais; referências; e anexos.
Na capa, sobre um fundo branco, destaca-se a foto de Machado de Assis aos 30 anos, elegantemente vestido, sentado em uma cadeira diante de uma escrivaninha.
O Capítulo I – “Machado de Assis, um Contista Desconhecido nos Trópicos” – é dividido em três subtítulos: Considerações sobre o uso da literatura enquanto ponte histórica: o conto; Machado de Assis: contista do Segundo Reinado e A cidade do Rio de Janeiro nos contos de Machado: o Rio de Assis.
O Capítulo II – “Machado de Assis e a Escravidão” – tem como tema A questão da escravidão na obra machadiana, o caso dos contos.
O Capítulo III – “Representações da Cidade Negra e da Escravidão nos Contos Machadianos” – é subdividido em três tópicos: Cenas de torturas e violência: faces desveladas da escravidão urbana no Rio de Janeiro oitocentista; Cenas do cotidiano e de resistência: fugas, precariedade da liberdade, capoeiras e quitandeiras; e O medo dos maus-tratos e cenas de contrabando na Corte oitocentista: um crime quase perfeito.
Nas Considerações finais, são apresentados alguns apontamentos sobre Machado de Assis e sua produção literária composta por mais de 200 contos, com destaque para a riqueza de detalhes e sutilezas irônicas referentes à escravidão e suas relações sociais na cidade do Rio de Janeiro oitocentista.
Nas Referências, além das obras citadas na Bibliografia, Ariosvalber listou as seguintes produções machadianas: Obras completas: Contos e Teatro; Memorial de Aires; Crônicas selecionadas: antologia; e 50 contos de Machado de Assis.
No Anexo D, ao contrário das outras reproduções fotográficas e ilustrações que complementam os elementos textuais, há uma imagem cuja relevância para o conjunto da obra pode ser questionada: a fotografia da máscara mortuária de Machado de Assis, visivelmente manipulada para ressaltar os supostos “traços negroides” do escritor.
Consultando o currículo de Ariosvalber na plataforma Lattes do CNPq, observei a semelhança entre os títulos da dissertação de mestrado Cenas da Cidade Negra do Rio de Janeiro oitocentista e outras imagens da escravidão nos contos de Machado de Assis, datada de 2013, e do livro Machado de Assis Contista: imagens de escravidão e da cidade negra do Rio de Janeiro oitocentista, o que me leva a acreditar que o livro seja uma adaptação do texto acadêmico.
Na leitura do livro observei que foram introduzidos elementos do texto Representações da escravidão no Brasil oitocentista no conto “Pai contra Mãe” de Machado de Assis, apresentado por Ariosvalber na conclusão do curso de Especialização em História e Cultura Afro-brasileira e Indígena, na UEPB, em 2011.
Efetivamente, transformar um texto acadêmico em livro é um processo desafiador, pois exige mais do que simplesmente adaptar o texto original. Enquanto o trabalho acadêmico é escrito para atender às exigências de bancas examinadoras, no livro o autor busca alcançar um público mais amplo, abrangendo tanto especialistas quanto leigos.
Na prática, essa transição demanda uma reestruturação do conteúdo, a eliminação de excessos de formalidades acadêmicas, a simplificação da linguagem técnica e científica, a reorganização dos capítulos para uma narrativa mais fluida e, eventualmente, a inclusão de exemplos práticos ou contextuais que tornem o material mais acessível e comercialmente envolvente.
Além disso, é necessário conciliar as exigências editoriais, como a redução do tamanho do texto e a adequação ao mercado editorial, o que pode implicar cortes e ajustes significativos no conteúdo original.
Diante do exposto, posso afirmar que, na obra aqui abordada, o pesquisador Ariosvalber de Souza Oliveira foi bem-sucedido, pois conseguiu superar os desafios editoriais, mantendo a honestidade científica e o foco na contribuição analítica do contista Machado de Assis no contexto da escravidão urbana no Rio de Janeiro oitocentista.
Atenção: Os artigos publicados no ParaibaOnline expressam essencialmente os pensamentos, valores e conceitos de seus autores, não representando, necessariamente, a linha editorial do portal, mas como estímulo ao exercício da pluralidade de opiniões.
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