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Edjamir Sousa Silva

Edjamir Sousa Silva

Padre e psicólogo.

“Não fiquem assustados”

Por Edjamir Sousa Silva
Publicado em 31 de março de 2024 às 16:30

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Assim como a Páscoa dos Judeus celebra um fato (a memória da libertação do povo hebreu) a Páscoa Cristã também (a Ressurreição de Jesus Cristo). Portanto, não é uma doutrina, mas um fato.

Páscoa significa passagem e no sentido cristão é a passagem de Jesus da morte para a vida e a vitória do amor (graça) Dele sobre o pecado. A história da salvação nos ensina que não existe Páscoa sem morte e amor sem dor.

A ressurreição é um fato entre tantos outros e dentro do tecido da vida a páscoa é um movimento (da escravidão para a libertação, da morte para a vida em todos os aspectos). Em Jesus Cristo, tudo acaba se tornando páscoa. Nele, a própria vida alcança uma releitura e chega ao ponto alto: “Vida para todos!” (Jo 10, 10. 2Cor 5, 15).

O Sábado Santo (vigília) faz memória das maravilhas de Deus, recordadas nas leituras bíblica (Gn 1,-2,2. (A Criação)/ Gn 22, 1-18 (Em Abraão, Deus chama a humanidade para se tornar seu povo)/ Ex 14,15-15,1 (A libertação do povo do Egito)/ Is 54,5-15 (Deus se revela como misericórdia) / Is 55, 1-11 (Deus que se torna companheiro na construção de um povo livre) / Br 3, 9-15. 32-4,4 (o povo é chamado a ouvir melhor o seu Deus) / Ez 36, 16-28 (Deus toma a iniciativa para manter viva a aliança) / Rm 6, 3-11 (memória da Ressurreição) / Mt 28, 1-10; Mc 16, 1-7; Lc 24, 1-12 (A maravilha da ressurreição).

Esses fatos recordam as maravilhas de Deus e funcionam como figura do que irá acontecer na história da humanidade, pela força da Páscoa. São momentos que se ligam entre si e provam que Deus conduz a história.

Conforme o costume judaico no sábado não se podia cumprir atividades sociais era preciso esperar este dia passar para que se pudesse seguir a vida. Foi então que Maria Madalena, Maria Mãe de Tiago e Salomé esperaram ansiosamente este dia passar para no dia seguinte comprar perfume e, enfim, visitar o túmulo. O rigor da lei impusera uma distância apenas superada pelo Amor.

Conduzidas pelo Amor, imbuídas pelo sentimento de dor, perda e desesperança, chegam ao túmulo. O Amor que as levaram naquela manhã já não estava mais no túmulo, mas no coração delas. O Amor que aparentemente foi derrotado por um sistema de morte, venceu. Seu triunfo não é percebido pelo mundo, mas pelos que tem fé (cf. Cardeal Raniero Catalamessa, pregação na Celebração da Paixão do Senhor na Sexta Feira Santa).

“Tentaram colocar uma pedra na história de Jesus”, disse o papa Francisco. O príncipe da Paz foi vítima furiosa das pedras do julgamento, da perseguição odiosa, do sofrimento e da morte. Foi uma tentativa de destruir os sonhos daquele Jovem de Nazaré. Às vezes, também sentimos isso dentro de nós quando tentam sufocar nossos sonhos de vida plena que existe no nosso coração: “estão tramando, já sei que vou morrer!” (cf. Salmo 30 (31)).

Os anseios de liberdade, paz e de fraternidade são, constantemente, sufocados por pessoas que querem colocar uma pedra em cima. Quantas oposições, inclusive por gente que se diz ter fé, aos projetos de fraternidade e vida plena para todos. Mas, por entre os destroços, reina o Senhor. Aqui está a força de Deus.

Seguindo os passos daquelas santas mulheres percebemos uma novidade: a pedra foi removida. Jesus continua a caminhar com aquelas que são rotuladas como “ninguém”. É sinal de que elas não estão sozinhas em suas esperanças e caminhos, portanto, podem avançar. Essa será a mesma experiência com os outros que irão ver o sepulcro aberto e vazio.

“Não fiquem assustadas” (Mc 16, 6) é a exortação constante que a igreja nascente e em todos os tempos escutará. A pedra do medo foi removida e deve ser continuamente: Jesus Ressuscitou!

A ressurreição é essa passagem do sem vida para a vida. É fato, é questão de vida. Na festa da Páscoa é a vida vitoriosa de Jesus que é celebrada. E a vida de Jesus é a vida nova do povo. Tudo se renova na força do amor.

“Quem tirará para nós a pedra?”. A luta pela libertação continua como força da Páscoa de Jesus. Há muitas pedras ainda pelo caminho (as inúmeras situações desumanas), mas juntos podemos removê-las a partir do Amor que nos habita (é o significado da Campanha da Fraternidade).

“Quem tirará para nós a pedra?”. Sendo “passagem” o significado da Páscoa peçamos a Jesus, que passou pela vida de muitas pessoas e levou-lhes vida, que continue a passar na nossa vida. Que o Senhor nos ajude também a retirar as pedras e passar das situações que demarcam fatos tão tristes (na nossa existência pessoal e comunitária). Nesse dia que o Senhor fez para nós, cantemos com o coração: “Que o amor do Senhor encha a terra”. (Salmo 33 (34)).

Feliz Páscoa!

 

 

 

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