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Engenheiro Eletrônico, MBA em Software Business e Comércio Eletrônico, Diretor da Light Infocon Tecnologia S/A e Diretor de Relações Internacionais da BRAFIP – Associação Brasileira de Fomento à Inovação em Plataformas Tecnológicas.
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Ao longo dos últimos anos, os ELIs (Ecossistemas Locais de Inovação) têm sido tema de muitos debates e análises, exatamente por serem importantes para o desenvolvimento econômico e social de uma região. A Paraíba, por exemplo, tem 7 ELIs apoiados/incentivados pelo SEBRAE e parceiros, que fazem parte de uma estratégia bem definida, para o desenvolvimento da economia local.
Vale destacar que a “implantação” e desenvolvimento de um ELI é um processo lento em alguns aspectos, rápido em outros e que durante essa “caminhada” alguns “entraves” para sua consolidação precisam ser enfrentados e resolvidos.
Os maiores entraves para a consolidação de um Ecossistema Local de Inovação, raramente são tecnológicos. Em geral, nascem de pessoas, articulação e governança – justamente os pilares que devem sustentar o sistema.
“Normalmente”, um Ecossistema de Inovação tem um conjunto de “ilhas de competência” (universidades, centros de pesquisa, empresas de base tecnológica, etc.) e o primeiro (e talvez o maior) desafio é “articular” esses “ativos de inovação e tecnologia” em uma rede verdadeiramente integrada e colaborativa. E isso não é nada fácil e muito menos trivial. É um senhor desafio!
Entraves para a Consolidação de um Ecossistema Local de Inovação (II)
Esses “atores” (denominados de “.edu”, “.com”, “.gov” e “.org”) têm “Agenda descoordenada”: com projetos, eventos e programas criados por cada um, sem alinhamento estratégico comum, gerando sobreposição de esforços e dispersão de recursos; existe uma “Disputa por protagonismo”: universidades, governos, entidades de fomento/apoio e empresas, por vezes, competem por visibilidade e comando, em vez de atuarem como partes complementares de uma engrenagem, bem lubrificada; é inexistente ou muito “Baixa a participação de empresas tradicionais” (aquelas que não são de base tecnológica, mas sim usuárias de Tecnologia e que demandam constantemente Inovação, mesmo sem consciência deste fato): a maior parte ainda atua com métodos analógicos e participa pouco das iniciativas de inovação coordenadas – um gargalo que o próprio SEBRAE reconhece e tenta enfrentar, ao “levar inovação” a esse universo.
O resultado disso tudo é um Ecossistema que pode até ser reconhecido pela qualidade técnica, mas que não é percebido por toda a economia local como uma “infraestrutura de desenvolvimento” e sim “apenas” como um “cluster de tecnologia”.
Um ponto importante que “ajuda” a superar esse entrave é o Ecossistema ter uma “frase-guia” (slogan) simples, que responda pelo menos a pergunta: “para que existimos?”. O E.InovCG (Ecossistema de Inovação de Campina Grande) por exemplo, tem como fundamento a frase: “Nosso Propósito Transformador é Conectar Pessoas para Impactar Positivamente Campina Grande” – um “norte” que ajuda a alinhar expectativas e transmite um objetivo claro, para os participantes do ELI e para o público externo (a “cidade”).
Entraves para a Consolidação de um Ecossistema Local de Inovação (III)
Outro ponto sensível em Ecossistemas Locais de Inovação é a “governança”. É complicado “montar” o modelo de gestão ideal, que coordene interesses, defina prioridades e dê continuidade às ações. Claramente, um desafio gigantesco. Nesse ponto, os entraves são claros.
“Decisão lenta e difusa”: quando todos são “donos”, é comum que ninguém se responsabilize de fato. Sem um Núcleo Gestor fortalecido (com um CEO, independente e atuante), com metas e indicadores claros, o Ecossistema avança menos do que poderia e pode até fracassar;
“Falta de modelo de negócios sustentável”: muitos Ecossistemas começam apoiados em editais, projetos e incentivos públicos (e entidades como o SEBRAE são de extrema importância, mas não podem ficar “eternamente suportando” o ELI). Sem um desenho que inclua receitas recorrentes (serviços, parcerias, fundos, espaços compartilhados, empresas participando concretamente das ações, etc.), a estrutura corre o risco de depender permanentemente de recursos externos e isso não é de forma alguma, saudável;
“Alternância política”: mudanças de governo podem interromper ou redirecionar políticas públicas de apoio, afetando hubs, programas de inovação e parcerias estratégicas. Um modelo de governança maduro precisa “blindar” o Ecossistema de mudanças de curto/médio prazo (pelo menos). O desafio é exatamente, transformar esse “desenho” em prática permanente.
O Ecossistema precisa ser visto pela sociedade local como uma infraestrutura estratégica e essencial, para o seu desenvolvimento (econômico e social) – tão essencial quanto um aeroporto ou uma rodovia. Lembrando que não existe um “modelo” específico de ELI a ser seguido (para que este importante “investimento” se torne realidade) e muito menos, uma “metodologia” pronta para criação/instalação de um Ecossistema. Cada caso é um caso, sendo um processo de contínuo aprendizado, com erros e acertos.
Entraves para a Consolidação de um Ecossistema Local de Inovação (IV)
Deixei para o final, o entrave mais “delicado” de ser tratado. “As pessoas”. Não há Ecossistema sem gente. E aqui, o fator humano é, ao mesmo tempo, a maior força e o maior entrave. Vou dividir em dois grupos principais. O primeiro deles é o formado por pessoas com “perfil que impulsionam” o Ecossistema.
“Articuladores de rede”: “Profissionais” que atuam como “pontes” entre os atores. Eles têm visão sistêmica, constroem confiança, aproximam pesquisadores de empresários e garantem que as conversas não fiquem apenas no discurso;
“Empreendedores de impacto”: “Fundadores de startups e de empresas de base tecnológica” que enxergam problemas locais como oportunidades globais. São os que testam o ambiente regulatório, validam programas de aceleração, puxam capital privado e mostram que o Ecossistema “funciona” ou pode funcionar;
“Lideranças acadêmicas abertas ao mercado”: Professores e pesquisadores que utilizam laboratórios, grupos de pesquisa e núcleos de inovação como plataforma de negócios, não apenas publicações científicas (papers);
e por fim, “Gestores públicos com visão de longo prazo”: Secretários de Ciência e Tecnologia, de Desenvolvimento Econômico e de Planejamento que tratam o Ecossistema como política de Estado, e não como projeto de gestão. O segundo grupo é formado pelas pessoas com “perfil que travam” o desenvolvimento e consolidação do Ecossistema.
“Guardadores de feudo”: Lideranças institucionais que resistem a compartilhar dados, estruturas ou protagonismo. Comportamentos como “isso é meu projeto”, “minha marca”, “minha agenda” enfraquecem qualquer Ecossistema Local de Inovação;
“Céticos crônicos”: Empresários e gestores que veem Inovação como “modismo” ou custo, e não como estratégia de sobrevivência. Sem a adesão, ainda que gradual, da base empresarial tradicional, o Ecossistema corre o risco de falar apenas para si mesmo;
e “Acadêmicos desconectados com o local”: Altíssimo nível técnico, mas baixa disposição para a transferência de conhecimento, cooperação com empresas ou participação em projetos conjuntos com o governo e a sociedade, de forma geral.
Se essas travas comentadas aqui, forem superadas, o Ecossistema Local de Inovação deixa de ser apenas um “cluster inspirador” e passa a ser, de fato, o motor permanente de desenvolvimento econômico, social e tecnológico de um território.
Atenção: Os artigos publicados no ParaibaOnline expressam essencialmente os pensamentos, valores e conceitos de seus autores, não representando, necessariamente, a linha editorial do portal, mas como estímulo ao exercício da pluralidade de opiniões.
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