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Dom Genival Saraiva

Dom Genival Saraiva

Bispo Emérito de Palmares-PE.

Ausência e vacância

Por Dom Genival Saraiva
Publicado em 3 de maio de 2025 às 18:47

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Ausência de pessoas e vacância em instituições são realidades lidas pelo sentimento e registradas pela história. Com efeito, dada a natureza dos relacionamentos humanos, quando acontece a ausência de uma pessoa, física ou psicologicamente, por quaisquer motivos, a sensação de vazio faz-se sentir como saudade, como vazio, como dor na vida de quem a tem na condição de proximidade por vínculos de família e de amizade No contexto atual, essa realidade é vivida de forma intensa e especial pelo universo eclesial, no contexto da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, da enfermidade e morte do Papa Francisco e do estado de vacância da Santa Sé.

Como ensina a Igreja, o mistério da Paixão, Morte e Ressureição de Jesus, fato histórico, é vivido e, portanto, atualizado sacramentalmente na Liturgia da Igreja. Na verdade, foi em favor de todos os homens e mulheres que Jesus derramou o seu sangue e morreu na cruz. O peso da cruz de Jesus o prostrou, o derrubou, três vezes, mas, a causa da salvação humana lhe deu forças para chegar ao Calvário. Na condição de seu discípulo e servidor de Jesus, o Papa Francisco viveu a caminhada para o Calvário, com a linguagem quaresmal, durante o longo período de internação hospitalar, como Peregrino da Esperança, sabendo, pela fé, que chegaria à manhã da Ressurreição.

O Papa Francisco recebeu a graça de viver sua experiência de testemunha da Ressurreição de Cristo, no Domingo de Páscoa, com sua presença, sua oração e a bênção “Urbi et Orbi” que concedeu ao povo de Deus reunido na Praça de São de São Pedro. Na leitura dos textos bíblicos que se referem à Morte de Jesus, percebe-se, claramente, a constatação da sua ausência e a sensação de vazio, como revelam os discípulos de Emaús, porque ainda não haviam sido tocados pela graça da Ressurreição. Ao verem o Ressuscitado, seus discípulos, homens e mulheres, se refazem do vazio experimentado.

Na segunda feira da Oitava da Páscoa, a Igreja e a própria humanidade tomaram conhecimento da Páscoa/“passagem”, “passagem da morte para a vida” do Papa Francisco e, assim, psicológica e espiritualmente, vivenciaram experiências profundas, marcantes: visitação pública de numerosas pessoas para ver o seu corpo e rezar por sua alma, no interior da Basílica de São Pedro, celebração da Missa das Exéquias, do Valedictio (adeus), “última homenagem e despedida”, na Praça e nas Ruas de Roma, sepultamento do seu corpo na Basílica de Santa Maria Maggiore. A morte do Papa Francisco falou ao coração das pessoas, graças às virtudes que cultivou e às qualidades humanas que tinham o toque da humildade, da bondade, da simplicidade. Tudo isso gerou proximidade, empatia, realidade testemunhada num outdoor: “Todos nós somos Francisco”.

O período dos Novendiali, “nove dias de oração após o falecimento do Pontífice, uma tradição católica marcada pela esperança na vida eterna”, é celebrado como memória do Papa pranteado e como espera da eleição do seu sucessor. Embora aconteça no âmbito institucional, a vacância sempre envolve o ser humano, em razão do lugar, da função que exerce numa estrutura organizacional. Assim é compreendido o estado de vacância da Santa Sé que está sendo vivido segundo as disposições normativas e rituais, rigorosamente observadas pelo Colégio dos Cardeais e, particularmente, pelos Cardeais eleitores no Conclave que inicia no sete de maio. “Por conclave entendem-se aqueles lugares onde os cardeais elegem o Romano Pontífice (Capela Sistina) e onde estes e os outros oficiais, servidores e conclavistas permanecem dia e noite até a realização da eleição, sem contato com o exterior (Domus Sanctae Marthae) e onde se desenvolvem as celebrações litúrgicas […]. São dadas normas detalhadas sobre os membros do conclave, a entrada nele, o deslocamento da Domus Sanctae Marthae até a Capela Sistina, o juramento de observar segredo e seu objeto etc”.

No período que antecede o Conclave, a Igreja reza, confiantemente, “Pro Eligendo Romano Pontifice” (Pela eleição do Romano Pontífice): “Ó Deus, pastor eterno, que governais o vosso rebanho com solicitude constante, no vosso amor de Pai, concedei à Igreja um pastor que vos agrade pela virtude e que vele solícito sobre nós.” Essa oração dos cristãos católicos deveria ser uníssona, unânime. Infelizmente, constata-se que essa desejada, esperada expressão de comunhão não está acontecendo, dado que, em alguns casos, pessoas/grupos/segmentos se posicionam de forma explicitamente discordante em relação a este assunto, eleição do Papa, e a tantos outros assuntos que visam o bem da comunidade cristã. Na verdade, quando ocorre, a eleição do Papa é assunto “da ordem do dia”, ultrapassando, assim, a instância eclesiástica. Daí, a diversificada manifestação de pontos de vista – olhar curioso de pessoas, palpite de grupos, manifesta/velada/pretensa influência de autoridades governamentais e eclesiásticas, interesse financeiro de “casas de aposta”, etc. Para os cristãos católicos, a eleição do Papa deve ser acompanhada, em espírito de oração, na fase de preparação e durante o Conclave, para que os Cardeais, iluminados pelo Espírito Santo, elejam o novo Papa que, em seu ministério, deve ser o “servo dos servos de Deus”, a fim de que possa cumprir sua missão, como sucessor do Apóstolo Pedro.

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