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Benedito Antonio Luciano

Benedito Antonio Luciano

Professor Titular aposentado do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).

A arte da feijoada e a vingança do porco

Por Benedito Antonio Luciano
Publicado em 28 de maio de 2025 às 7:45

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Houve um período em minha vida em que pratiquei a arte culinária, com destaque para dois tipos de comidas: feijoada completa e tucunaré, peixe de água doce originário da região amazônica, introduzido e adaptado em açudes e rios da região Nordeste.

Preparar uma boa comida e convidar colegas para compartilhar uma boa conversa em torno da mesa era algo que eu fazia com muito prazer. Esses foram momentos de confraternizações até hoje lembrados por quem deles participou.

No caso específico da feijoada, um dos pratos mais tradicionais da culinária brasileira, há quem afirme que ela é originária da cozinha portuguesa e que, ao ser introduzida no Brasil, assumiu identidade própria ao incorporar ingredientes locais e hábitos alimentares trazidos por povos africanos.

A autêntica feijoada brasileira tem no feijão preto o seu principal ingrediente. Na prática, ela se destaca pelo paladar, resultante da interação entre os temperos (alho, cebola, folhas de louro e pimenta-do-reino) e os variados tipos de carnes, especialmente cortes suínos como toucinho, costelinha, lombo, língua, orelha, pé e rabo, acrescidos de carne de charque, bacon, linguiça e paio defumados.

Para compor o prato a ser servido, utilizam-se arroz branco, farofa, couve refogada, laranja, molho de pimenta e caipirinha, para quem gosta. Dito assim, a feijoada não parece ser uma iguaria sofisticada. Ledo engano!

A preparação de uma boa feijoada é um processo que envolve várias etapas, algo meticuloso que se assemelha à realização de um trabalho de pesquisa experimental, que só se configura como científico se for reprodutível.

A primeira etapa envolve a escolha dos utensílios adequados para o preparo na cozinha; e a compra dos ingredientes. Se a panela for de barro e for a primeira vez que será usada, ela precisa ser preenchida com água e permanecer cheia por no mínimo 12 horas. Depois, a água deve ser descartada. O feijão deve ser novo, com grãos de boa qualidade, limpo e isento de impurezas. As carnes e os temperos devem ser de boa procedência.

Segunda etapa: na véspera, dessalgar as carnes. Depois de cortadas em pedaços médios, as carnes devem permanecer de molho em água fria por no mínimo 12 horas. Essa água deve ser descartada e nova água deve ser utilizada para ferver as carnes por alguns minutos, para retirar o excesso de sal e gordura.

Terceira etapa: o feijão deve ser lavado e deixado de molho por cerca de 8 horas, para ajudar no cozimento. O feijão deve ser cozido em uma panela grande, de preferência de barro, com 3 ou 4 folhas de louro.

Quarta etapa: as carnes devem ser cozidas em uma panela separada. Primeiro devem ser postas as carnes duras, como orelha, pés e rabo. Em seguida, devem ser adicionadas as outras carnes até que fiquem macias. Depois, essas carnes devem ser adicionadas ao feijão cozido.

Quinta etapa: refogar temperos em panela separada. Alho e cebola devem ser refogados até dourar. Em seguida, acrescenta-se um pouco de feijão com caldo e amassa-se um pouco para engrossar, despeja-se na panela da feijoada e mexe-se com uma concha.

Sexta etapa: cozinhar a feijoada já temperada em fogo baixo por cerca de uma hora, mexendo de vez em quando para incorporar os sabores e para que o caldo engrosse.

Na última etapa, preparam-se os acompanhamentos: arroz branco, couve fatiada em tirinhas e refogada no azeite, farofa simples ou com cubinhos de bacon, além de laranja fatiada ou em gomos.

Pronto! Esta é a minha receita de feijoada completa. A receita do preparo do tucunaré ficará para outra oportunidade.

Eita! Ia me esquecendo de falar sobre a vingança do porco. O causo foi o seguinte:

Certa vez, em um dia de sábado, preparei uma feijoada no capricho, acompanhada de uma boa caipirinha, e convidei alguns colegas para compartilhá-la comigo. Comemos e bebemos à vontade, até o fim da tarde.

No início da noite, sob o efeito da caipirinha e com o estômago cheio de feijoada, dormi mais cedo. Quando adormeci, sonhei com um grande porco correndo atrás de mim. Era um pesadelo! Tentando fugir do ataque do porco, pulei da cama para o lado da parede do quarto. O resultado foi que acordei com escoriações no braço.

Teria sido o espírito do porco que veio se vingar de mim?

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