Saúde e Bem-estar

Nova tendência: magreza extrema ressurge em meio a novos remédios

Da Redação*
Publicado em 20 de setembro de 2025 às 20:12

magreza extrema volta a ser tendência em meio a novos remédios e conservadorismo

Foto: Pedro Affonso/Folhapress

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Celebridades que já eram magras estão ficando ainda mais magras. Os rostos estão mais chupados, as pernas e os braços, mais finos, as clavículas, aparentes. A magreza que era a regra entre modelos nos anos 1990 e no início dos anos 2000, na tendência conhecida como “heroin chic”, simbolizada pela inglesa Kate Moss, está dando as caras de novo.

“O progresso estagnou e estamos diante de um retorno preocupante ao uso de modelos extremamente magros em meio ao boom do Ozempic”, disse o Relatório de Inclusividade de Tamanhos da Vogue Business, edição Primavera/Verão 2025.

O relatório da edição Outono/Inverno 2025 afirma ainda que houve uma queda notável no número de modelos mais curvilíneas. “No contexto do Ozempic e de uma guinada para ideais mais conservadores, houve uma queda na representação de corpos ‘mid’ e ‘plus size’ em Nova York, Londres, Milão e Paris.” Dos 8.703 looks apresentados em 198 desfiles, 97,7% deles eram para pessoas magras que vestem tamanhos de 0 a 4 nos EUA —similar aos tamanhos 34, 36 e 38 no Brasil.

A estética dos corpos muito magros havia perdido tração ao mesmo tempo que surgiam e cresciam movimentos de body positivity que valorizavam corpos mais saudáveis e mais reais, com campanhas e passarelas exibindo mais curvas. Parecia haver um consenso de que aquela estética não fazia bem nem era mais desejável.

Mas pode ser que a moda dos corpos finos nunca tenha ido embora de verdade, e agora só tenha encontrado terreno fértil para voltar com tudo em meio a uma nova geração de medicamentos para emagrecer e ao arrefecimento de ações de diversidade e inclusão com a ascensão do conservadorismo. “É falsa a sensação de que essa associação entre moda, beleza e magreza foi superada”, diz Krizia Gatica, consultora líder na WGSN Mindset na América Latina, escritório que faz previsões de tendências.

Segundo ela, mesmo que tenhamos questionado essa relação tóxica, o retorno da magreza como modelo ideal mostra que esse desejo só foi mascarado. “A moda reflete sentimentos e comportamentos das pessoas, e à medida que vemos remédios que não são para emagrecimento sendo altamente procurados com esse objetivo, vemos também que a normalização e exaltação da diversidade de corpos, assim como as demais, ainda fica muito limitada ao discurso.”

Jacqueline Rizzolli, endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e membro do Departamento de Psiquiatria e Transtornos Alimentares da Abeso, também diz notar a magreza extrema aparecendo com mais força nos últimos dois ou três anos, e de fato isso pode ter uma relação direta com o surgimento de novos tratamentos para controle de peso e apetite —as chamadas canetas emagrecedoras.

“A gente via muito esse tipo de corpo nas décadas de 1970, 1980 e 1990, principalmente entre modelos e artistas, mas de maneira conectada a transtornos alimentares, dietas extremamente restritivas e uso de laxativos, diuréticos, indução ao vômito. Com os novos tratamentos para perder peso, que são eficazes e têm menos efeitos colaterais, mesmo quem não tem necessidade de perder peso acha o medicamento confortável e pode seguir usando-o, às vezes até desenvolver um transtorno.”

No Brasil, a SPFW (São Paulo Fashion Week) não tem números dos tamanhos de modelos que desfilam em suas passarelas, mas sua cofundadora, Graça Cabral, diz notar uma redução de modelos plus size. “Não é algo que acompanhamos sistematicamente, mas o fato é que nunca houve um casting todo plus size, sempre foi uma modelo ou outra. Não interferimos no casting dos modelos, são as marcas que escolhem, mas quando desvia muito a gente as chama para conversar”, diz. “O desfile é o ápice da expressão da marca, e tem algumas que são mais plurais enquanto outras são mais padrão.”

Em 2006, a SPFW lançou uma campanha e cartilhas para modelos e seus pais sobre distúrbios alimentares. Desde então, só permite que participem dos desfiles modelos com mais de 16 anos, e as agências devem apresentar atestados médicos que atestem as condições saudáveis deles. Sobre uma nova onda de modelos supermagras, Graça Cabral diz que a SPFW vai ficar atenta a isso nas próximas edições.

Ao mesmo tempo em que a magreza aparece cada vez mais entre quem dita tendências —sejam modelos, influencers, atores—, a obesidade só cresce no mundo todo. Na verdade, o advento das canetas emagrecedoras acaba fazendo com que a magreza também seja um grande marcador de classe social, já que o tratamento mensal pode custar mais de R$ 2.000.

Enquanto isso, os índices de obesidade aumentam entre as populações de baixa renda, que têm acesso limitado a alimentos in natura, como verduras, legumes e proteínas, consomem mais ultraprocessados, ricos em calorias e pobres nutricionalmente, e têm menos tempo e dinheiro para investir em atividade física. Também não há nenhum remédio para emagrecer disponível no SUS (Sistema Único de Saúde).

E o body positivity, será que ainda tem futuro? Krizia Gatica, da WGSN Mindset, aposta na cobrança das novas gerações. “Quando comparadas às gerações passadas, vemos que as atuais são muito mais ativas na cobrança por práticas mais diversas e inclusivas. Conforme o tema evolui e ganha novas camadas, esse assunto deixa de ter um status de ‘nice to have’ e passa a ser mandatório. As marcas precisam ficar atentas sobre a profundidade com que lidam com a causa e sobre como vão se comprometer com o consumidor.”

*MARIANA VERSOLATO/Folhapress

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