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Encerrar ciclos é parte inevitável da vida. Transições como concluir a escola, mudar de emprego ou se despedir de uma fase despertam alívio e satisfação, mas também ansiedade e insegurança. Esses momentos exigem adaptações, que podem ser desafiadoras e geram impactos na identidade.
As transições podem ser emocionalmente difíceis porque o cérebro humano busca estabilidade, diz o neuropsicólogo Eduardo Leal Conceição, do Hospital São Lucas da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul).
“Quando uma fase importante termina, como o ensino médio ou um emprego, isso pode ativar medos e opiniões negativas. A incerteza muitas vezes aumenta a ansiedade”, explica. Segundo ele, o encerramento de um ciclo, muitas vezes, exige que a pessoa reformule quem ela é, já que grande parte de sua identidade pode estar relacionada ao ciclo anterior.
Beatriz Petrola dos Santos, 20, viveu essa dificuldade ao deixar o ensino médio e ingressar na faculdade. “Eu estava feliz por ter concluído a escola, mas sentia muita ansiedade e incertezas sobre o futuro. Minha rotina mudou completamente, e me adaptar foi muito difícil”, conta.
Ela conta que sempre teve dificuldade com mudanças, resultado de uma vida extremamente estável: sempre morou na mesma casa e estudou a vida inteira no mesmo colégio. Apesar de fazer dois anos desde a transição, ainda sente nostalgia. “Já chorei várias vezes de saudade da vida escolar. Até hoje sinto falta daquela dinâmica”, relata.
O luto associado ao fim de um ciclo não se limita à perda de pessoas, explica Conceição. “Há fases de negação, tristeza e aceitação, que oscilam até que a pessoa consiga valorizar o que viveu e se abrir para novas oportunidades”, diz. Práticas como meditação e busca por apoio social ou profissional podem aliviar a ansiedade e facilitar o processo.
Maria Eduarda Cunha Sousa, 20, passou por experiência semelhante ao trocar seu primeiro emprego como professora assistente em uma escola infantil por uma vaga na UnB (Universidade de Brasília).
“Eu amava trabalhar com as crianças e tinha uma relação maravilhosa com meus colegas. Sair daquele ambiente foi muito difícil. Me despedir foi triste, mas gratificante. Senti que tinha dado o meu melhor”. Ela ainda mantém contato com os colegas que trabalharam com ela e também com os alunos da escola.
Para o psicanalista Christian Dunker, professor do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo), elaborar o luto de maneira coletiva pode tornar as transições mais saudáveis. “Os ritos de passagem são essenciais. Vivemos lutos bem vividos quando os compartilhamos com outras pessoas, trocamos histórias e buscamos soluções coletivas”, observa.
Além disso, Dunker destaca que cada ciclo traz oportunidades de autodescoberta. “Mudanças implicam um exercício de incorporar o que vivemos. Projetar sonhos para o futuro nos ajuda a superar o vazio que às vezes acompanha essas transições.”
Para superar desafios em momentos de mudança, Dunker recomenda que cada pessoa encontre seu tempo para processar as emoções, sem acelerar ou adiar o encerramento de ciclos.
“Planejar o futuro e olhar com carinho para a própria trajetória são fundamentais para lidar melhor com essas transições e não se sentir desamparado diante do próximo ciclo”, conclui.
*MAYALA FERNANDES/folhapress
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