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Muitas vezes, quando o namoro começa na adolescência, ele surge a partir da amizade ou da proximidade com amigos em comum. Mas quando o casal se conhece em outras circunstâncias e ocorre aquele momento de apresentar aos amigos, é possível que o namorado ou a namorada não goste das amizades do parceiro. O que fazer?
Essa é uma das situações mais complexas que podem surgir em um relacionamento, principalmente durante a adolescência, segundo Deise Lima Fernandes, psicóloga clínica e mestre em neurociências pela Unifesp.
Ela explica que nesse período da vida um dos fatores mais importantes é o lado social, porque estamos passando por um momento de formação da nossa identidade, e a convivência é essencial para que ela possa se desenvolver.
E esse processo pode ser afetado se o seu parceiro não gosta dos amigos ou vice-versa, uma vez que as interações acabarão sendo menores.
No caso da aversão que vem do parceiro, este terá que abrir mão de passar momentos juntos, que poderiam ser divertidos, para liberar o companheiro para vivê-los sozinho, caso decida não conviver com essas pessoas de que não gosta.
Mas o que acontece muitas vezes é o próprio parceiro se afastar dos seus amigos para evitar conflitos no relacionamento, o que também não é saudável.
Já quando são os amigos que não gostam do novo parceiro, a opinião e o comportamento deles podem afetar o relacionamento, já que as interações podem se tornar desconfortáveis para todos e pode até haver tentativas de influenciar um término.
“Se o grupo é a minha referência maior de comportamento, de vida, de vínculo, a opinião deles a respeito da pessoa que eu escolhi pra mim vai ter bastante peso”, diz Deise.
O peso não é necessariamente decisivo para que o relacionamento acabe ou não, ela afirma, mas a escolha de ficar entre o parceiro e o grupo é dolorosa.
“Muitas vezes os adolescentes recorrem àquela coisa do ‘ou eles ou eu'”, diz a psicóloga. “Isso desgasta muito, e pode até ser que o parceiro aceite num primeiro momento essa imposição, só que depois isso vai gerar desgaste emocional.”
Num relacionamento sempre é preciso existir um tempo reservado para cada um ter seus próprios hobbies, momentos se divertindo sozinho e, é claro, cultivar os amigos.
“É importante que haja momentos em que ambos tenham tempo e atividades que não vão fazer juntos”, diz a psicóloga. Para ela, esse tempo reservado garante que não haja uma despersonalização, ou seja, que ninguém perca a sua própria personalidade por causa do namoro.
Outro problema e que pode causar incômodo é o do parceiro ter um melhor amigo do mesmo gênero quem namora, isto é, uma menina heterossexual que tem um melhor amigo, por exemplo.
Esse é um ponto que costuma geras conflito e receio dentro do relacionamento, porque o companheiro se sente incomodado e com ciúmes. É muito comum ser repetido por aí que homens e mulheres não podem ser só amigos, ou seja, que há segundas intenções dentro dessa amizade.
Só que isso não é um fato, mas uma construção social.
De acordo com a psicóloga, essa ideia de que sempre há segundas intenções em uma amizade é muito negativa, principalmente na adolescência, porque nesse período somos mais inseguros.
A dica para lidar com essa e outras questões que podem aparecer dentro do relacionamento é a conversa, segundo a especialista.
Para que seja efetivo, o diálogo precisa ser assertivo, pontuando tudo que causa incômodo. “Tente falar para o parceiro de uma maneira calma, tranquila, sem acusações, de que você não está se sentindo à vontade, não está se sentindo pertencente.” Esse é um ponto chave porque muitas vezes o companheiro não percebe que tem ali inseguranças que precisam ser resolvidas.
Além disso, em casos nos quais a comunicação não está funcionando, ela indica terapia para conseguir lidar com esse problema que geralmente está atrelado a ciúmes e paranoias.
A psicóloga diz que também não devemos impor que a escolha entre nós mesmos e o amigo do parceiro, porque isso tende a levar ao fim do relacionamento. “Essa é uma escolha impossível de ser feita, porque são amores diferentes, são relações diferentes.”
* ANA CLARA COTTECCO/folhapress
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