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Quem expressa sentimentos de maneira intensa e rápida nas redes sociais recebe a pecha de “emocionado”, que é visto como algo ruim pela sociedade.
No entanto, especialistas dizem o contrário: que tal comportamento é um contraponto à cultura do desapego e da fluidez das relações do mundo digital.
Em uma época marcada pelo desinteresse e pela falta de atenção ao outro, os emocionados prevalecem, constatam os especialistas. Segundo a mestre em psicologia Lígia Baruch, o termo “emocionado” é hoje uma gíria contemporânea, nascida na internet, “que carrega um aspecto pejorativo, pois a palavra foi deslocada de seu uso habitual e inserida nesse contexto digital, onde as interações são superficiais, narcísicas e defensivas”, diz.
O comunicólogo Rafael Yamamoto, de 32 anos, se considera parte desse grupo. Ele diz que demonstra sentimentos quando está saindo com alguém e observa que muita gente reprime suas emoções para “jogar o jogo” dos relacionamentos, temendo se machucar ou parecer vulnerável.
Yamamoto conta que há uma falta de perspectiva entre os homens ao seu redor. Eles falham em atender às expectativas dos relacionamentos heterossexuais, moldadas por uma cultura do ideal de masculinidade.
Segundo a neuropsicóloga Priscila Ximenes, especializada em terapia cognitivo-comportamental (TCC) pelo Child Behavior Institute of Miami, a cultura incentiva os homens a esconderem suas emoções, com o estereótipo de que homem não chora, “o que cria uma dificuldade adicional para que expressem sensibilidade sem enfrentar estigmas”.
Ximenes explica que a sociedade vive em um momento em que todos querem compartilhar suas vidas nas redes sociais, mas a demonstração de emoções genuínas é frequentemente julgada de forma negativa. Ela também aponta o que pode ser visto como uma reação natural e até uma forma de rebeldia contra a frieza digital e o período pós-pandemia, um desejo de retornar às emoções e ao contato humano.
Marina Marletti, 30, se considera direta em suas relações, o que é confundido com ser emocionada apenas porque não tem receio de demonstrar interesse.
“Alguns homens criam uma imagem na cabeça de que você está mais apegada do que realmente está e acabam tendo uma conversa mental com essa versão imaginária.
Quando finalmente decidem falar, dizem algo como ‘não quero nada sério’, sem perceber que essa percepção não corresponde à realidade”, avalia.
Marletti, que é designer, diz que é prática também quando percebe que a outra pessoa não está alinhada com suas expectativas, e que prefere seguir em frente em vez de perder tempo com “jogos” em relacionamentos.
Já Ximenes afirma que, culturalmente, as mulheres também são pressionadas a esconder suas emoções para evitar serem vistas como desesperadas. Em resposta, a autenticidade e a comunicação são essenciais nos relacionamentos, lembra, e que ser “emocionado” é uma expressão natural na busca por conexão, não algo negativo, algo que é contraindicado em vídeos e posts frequentes no TikTok e Instagram aconselhando como as pessoas devem se comportar no início de um relacionamento.
“Muitas vezes, esses conselhos acabam prejudicando, especialmente quando se tratam de orientações prescritivas e genéricas sobre como homens e mulheres devem se comportar”, diz Lígia Baruch, que além de psicóloga é autora do livro “Tinderellas: O amor na era digital”.
A especialista observa que, no mundo digital, há mais vulnerabilidade e exposição, o que compromete as emoções genuínas. É comum que as pessoas criem defesas, como o uso da ironia, para lidar com essa vulnerabilidade.
Baruch apoia os aplicativos de encontros como forma de fazer novos contatos, mas diz que os encontros virtuais devem migrar para a vida real, onde as interações são menos pressionadas.
“É comum demonstrar insegurança, porque cada pessoa lida com a vulnerabilidade de maneira diferente, seja se afastando, sendo irônica ou se entregando à relação”, completa.
*RAÍSSA BASÍLIO/Folhapress
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