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São João
Foto: Letícia Curvêlo/Repórter Educom
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Na festa de São João de Campina Grande (PB), onde o forró embala multidões, a moda também acompanha as transformações do tempo. Se antes os tecidos coloridos, o xadrez e a chita eram predominantes nos looks que circulavam pela grande área do Parque do Povo, o QG do forró, hoje a cena revela uma mistura curiosa. O preto, referências urbanas e tendências contemporâneas ganharam espaço no São João, refletindo um público cada vez mais conectado com a estética das redes sociais e da moda global.
Ainda assim, os elementos tradicionais seguem firmes e começam, inclusive, a ocupar lugar de destaque. Apostar no xadrez, nas estampas floridas, nos babados e nos laços deixou de ser algo restrito às quadrilhas e passou a ser também uma escolha de quem quer afirmar suas raízes culturais em meio à festa. E até mesmo as tendências que viralizam nas redes acabam resgatando elementos do São João. É o caso da saia jeans com bandeirolas, proposta feita pela influenciadora Laura Britto, e rapidamente se espalhou como uma releitura moderna dos símbolos juninos.
Se vestir para o São João nunca foi apenas sobre aparência, é uma declaração de pertencimento, uma forma de carregar consigo a memória e a identidade nordestina. Esse movimento de valorização começa desde cedo. A tradição de vestir as crianças com trajes típicos nas escolas e nas festas juninas permanece como um dos gestos mais potentes na preservação desse legado cultural. São esses pequenos detalhes que perpetuam a cultura de geração em geração.
Artesãs dão vida à moda junina com talento, afeto e resistência
Por trás dessas peças que enchem os arraiais de cor e significado, estão as mãos que dominam a arte do fazer manual. As artesãs da Vila do Artesão, em Campina Grande, são fundamentais nesse processo. São elas que, com seus tecidos, agulhas e criatividade, ajudam a transformar tradição em expressão estética.
“Eu amo ser artesã. Isso aqui é feito no peito e na raça. Aprendi porque era uma necessidade, mas hoje é amor. Quando alguém leva uma peça minha, leva também um pedaço da nossa cultura”, conta Edileusa de Sousa Silva, 63 anos, que há mais de uma década trabalha com algodão colorido e costura artesanal.
Essas mãos que tecem tradição também abastecem a estética junina que se espalha pela cidade. Saias de fuxico, laços, blusas de crochê, acessórios feitos à mão e detalhes que enriquecem os figurinos partem, muitas vezes, desses ateliês que mantêm viva a identidade da festa.
Apesar da valorização que a festa proporciona, os desafios ainda existem. Lua Pereira, 60 anos, artesã com mais de 40 anos de trajetória, explica que o trabalho manual muitas vezes enfrenta uma concorrência desleal. “O problema são os atravessadores, que vendem como se fosse deles e colocam preços abaixo do que vale. Isso prejudica quem faz de verdade. Crochê é uma arte milenar que precisa ser respeitada”, defende.
Ela também observa que, mesmo diante das dificuldades, há um resgate acontecendo. “As pessoas estão, aos poucos, entendendo que quando compram uma peça feita à mão, estão levando mais do que um produto. Estão levando história, cultura e resistência”, pontua.
Na mesma linha, Maria das Merces Santos, 76 anos, que trabalha com crochê, fuxico e tear, reforça que o São João é muito mais do que uma época de vendas. É o momento em que o valor simbólico do fazer artesanal fica evidente. “É agora que a gente percebe como nosso trabalho faz parte da festa. Quando termina, fica mais parado, mas nesse tempo, as pessoas enxergam mais a importância do que fazemos”, afirma. E deixa um recado que também soa como um alerta: “Eu não paro, porque quem para adoece. Isso aqui é minha terapia.”
Seja na confecção de vestidos juninos, saias com aplicações de fuxico ou blusas estampadas, cada ponto, cada nó e cada corte carrega um pedaço da história nordestina. E, mesmo que a moda da festa abrace influências de fora, a tradição segue presente, se adapta, se fortalece e se mantém viva nas mãos de quem escolhe, todos os dias, a memória, cultura e identidade.
No Parque do Povo, os figurinos desfilam entre tendências e raízes. E quem escolhe vestir xadrez, laços e estampas coloridas não faz só uma escolha estética, faz um gesto de afirmação. Enquanto houver mãos dispostas a bordar essas histórias, o São João nunca deixará de pulsar.
*Equipe Repórter Educom
Texto: Clara Santos
Fotos: Letícia Curvêlo
Edição: Mariana Cantalice
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