São João

A saga dos músicos dos trios de forró para além do São João

Da Redação*
Publicado em 22 de junho de 2025 às 19:45

Foto: Iasmin Pereira/Repórter Educom

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No centro do forró tradicional, também conhecido como forró pé de serra, está uma formação musical que sobrevive há décadas sem perder sua essência: zabumba, triângulo e sanfona. Esses três instrumentos formam o núcleo principal de um gênero que, mesmo diante de modismos e pressões comerciais, mantém viva sua identidade. E quando o mês de junho chega, o som desses equipamentos ecoam nas ruas de Campina Grande, na Paraíba.

Uma tradição nordestina como um chamado para os artistas que gera renda, atrai turistas e uma identidade cultural singular brasileira. É no tempo de São João que os trios de forró pé de serra se tornam protagonistas das festas populares. Mas o que acontece com esses músicos quando as bandeirolas são recolhidas? Como vivem aqueles que mantêm viva essa tradição musical e que dependem dela para sobreviver?

O trio de forró tradicional é um formato consagrado por Luiz Gonzaga, que popularizou o gênero pelo Brasil, contando histórias do nortista, como era conhecida parte da atual região nordeste. Para muitos músicos, integrar um trio de forró não é apenas uma escolha artística, mas uma profissão que garante o sustento de diversas famílias, além da identidade que integra gerações de pessoas pela luta e reconhecimento da sua identidade.

A trajetória dos trios de forró costuma nascer dentro de casa. Segundo João Batista, membro do “Trio Esperança”, há 8 anos, e com cerca de 20 anos de carreira, muitos músicos aprendem o ofício com os pais. “A história do trio, geralmente, vem de pai pra filho. Começa em casa, o pai tocando forró, desde o tempo da sala de reboco. Aí, mais tarde, encontra um amigo que toca sanfona, outro que toca zabumba, faz aquela farra de fim de semana… e daí monta-se o trio”, explica ele.

João Batista relata que com o tempo, o grupo se estrutura, participa de festivais, casas de show e ganha profissionalismo, mas sem abandonar as raízes: “A gente mantém as músicas tradicionais. Prefere aquelas de raiz, principalmente as de época, porque são elas que mantêm viva a cultura.”

Nesse período, trios de forró pé de serra se revezam, levando a autenticidade do ritmo nordestino a diversos locais, como, por exemplo, o centro da cidade de Campina Grande. Em meio ao vai e vem dos pedestres, a sanfona, a zabumba e o triângulo transformam a rotina em festa, garantindo que a cultura do forró esteja acessível a todos: moradores, turistas e trabalhadores que cruzam o centro diariamente.

Aldo, vocalista do trio Forró Society, conta que, embora o período junino concentre a maior demanda, o grupo mantém uma rotina constante de apresentações ao longo do ano. Em casas de forró, festas particulares, eventos culturais e bares de diferentes cidades, eles seguem levando o ritmo nordestino para diversos públicos. Mesmo fora da temporada de São João, o cantor destaca que é possível garantir alguma estabilidade, graças ao apoio de associações locais, trabalhos informais e a resistência dos próprios músicos, que seguem firmes com apresentações independentes.

Além de promover a cultura local, esses trios ajudam a dinamizar a economia. Eles geram renda direta através de cachês pagos por prefeituras, empresas ou pequenos eventos particulares e também movimentam uma cadeia produtiva: transportes, alimentação, figurinos, e instrumentos. Em muitos casos, o show de um trio de forró em uma feira ou evento comunitário e festas torna-se o ponto alto da visita de um turista, que leva consigo a lembrança não apenas da música, mas de toda cultura, um modo de vida.

Às margens do Açude Velho, cartão-postal de Campina Grande, o “Trio Esperança” já se preparava para mais uma entrada: dessa vez, no palco montado no Hall do SESI Museu Digital em Campina Grande. Sem tempo para descanso, os músicos ajustavam os instrumentos e afinavam a voz, repetindo o ritual que se estende ao longo de todo o mês de junho.

A agenda apertada não é exceção, mas regra nesse período. Para trios como o “Esperança” ou “Society”, o São João é uma maratona e também o momento mais decisivo do ano. “Às vezes são duas, três apresentações por dia. A gente sai de um canto, corre pro outro. Mas é gratificante, porque é quando o povo valoriza de verdade o nosso som”, comentou João Batista, vocalista e triangulista do trio Esperança.

A vida dos músicos fora do período junino
Os músicos também ressaltam que fora do período junino, alguns deles possuem também trabalhos formais. Por isso, muitos mantêm empregos formais em outras áreas e conciliam a rotina profissional com a paixão pela música. Essa realidade reflete os desafios enfrentados por quem vive da cultura popular, que muitas vezes precisa dividir o tempo entre o trabalho fixo e os palcos para continuar levando o forró adiante.

Os músicos dos dois trios evidenciaram a sazonalidade da economia cultural brasileira, ao valorizar tradições em datas específicas, mas que não garante sustentabilidade ao longo do ano: “Em junho a gente vive da música. Depois, sobrevive com ela.”, relata João Batista, ele destaca que é microempreendedor, o que completa sua renda. Mas o recado é claro: o forró precisa tocar o ano inteiro não só no período junino.

Entre uma nota sanfona e outra apresentação, o forró segue firme, enchendo as ruas de som, suor e memória. E os trios, mesmo sob sol forte ou ao cair da noite, seguem tocando porque sabem que essa visibilidade intensa, é o que mantém a tradição de pé. Entender como vivem, produzem e resistem, é valorizar não apenas uma sonoridade, mas todo um modo de vida.

*Repórter Educom
Texto: Manuel Messias
Revisão: Carol Bezerra e Mariana Cantalice
Foto: Iasmin Pereira

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