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São João
Foto: Iasmin Pereira/UFCG
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Muito mais que competições festivas, os festivais de quadrilha desempenham um papel importante na valorização da cultura popular nordestina, especialmente, no tocante às festas juninas, ajudando a manter viva uma tradição que passa de geração em geração. O período das festividades juninas abre espaço para diversas manifestações culturais, sendo uma das mais representativas as quadrilhas juninas, danças folclóricas que reúnem grupos e pares em apresentações marcadas por coreografias ensaiadas, trajes típicos e muita animação.
Durante o período junino, a cidade de Campina Grande, conhecida em todo o Brasil como a terra do Maior São João do Mundo, e região se destacam por sediar uma série de festivais de quadrilhas juninas. Segundo Lima Filho presidente da Associação de Quadrilhas Juninas de Campina Grande (ASQUAJU) são quatro tipos de festivais ao todo: o Festival das Estrelas Juninas Etapa Agreste, Estrelas Juninas Etapa Campina Grande, Quadrilhas Juninas de Campina Grande e Quadrilhas Juninas da Região Agreste.
Os eventos reúnem um total de 30 quadrilhas participantes, com uma média de 14 quadrilhas em Campina Grande e 16 na Região Agreste. Com uma trajetória de sucesso, o evento já se encontra na sua 25ª edição e se consolidou como uma tradição importante na região, celebrando a rica cultura junina e a dança que une gerações.
Mais do que uma expressão artística, as quadrilhas carregam um forte simbolismo de identidade regional, especialmente no Nordeste, onde os festivais se consolidaram como verdadeiros palcos de celebração da cultura popular. A participação vai além do envolvimento dos adultos, estendendo-se também às crianças, que desde cedo são incentivadas a conhecer e valorizar a cultura popular.
A vivência nos festivais de quadrilha contribui para o desenvolvimento do senso de pertencimento, da expressão artística e da identidade cultural. Com planejamento e organização, os grupos conseguem transformar suas ideias em apresentações marcantes, nas quais cada elemento como as coreografias, figurinos e cenários, é pensado com atenção aos detalhes. Esse cuidado torna os espetáculos ainda mais envolventes e representativos da riqueza cultural das quadrilhas juninas.
O II Festival de Quadrilhas Juninas Escolares promovido pela prefeitura da cidade de Campina Grande-PB, é um exemplo dessa realidade. O evento que atraiu um grande público ao quadrilhódromo, situado na grande área do Parque do Povo, de acordo com informações fornecidas pela pesquisadora em folkcomunicação, e membro do júri de festivais de quadrilhas, Giseli Sampaio, durante os três dias de realização, contou com a participação de aproximadamente 1.200 pessoas, entre crianças, adolescentes, jovens adultos e profissionais da educação.
Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Anísio Teixeira, que participou do festival, por exemplo, a organização da apresentação foi planejada com bastante antecedência. Segundo a diretora da escola Janaína Regis, tudo começa com a escolha do tema, respeitando o regulamento do evento. “A partir dessa definição, iniciamos a criação do roteiro, do cenário, trilha sonora e coreografia. Para isso contamos com diversos parceiros da escola e do bairro”, relatou.
Esse cuidado com cada etapa do processo reforça o caráter coletivo e educativo das quadrilhas juninas, que vão além da dança. Elas se tornam experiências formativas, mobilizando a comunidade escolar e promovendo o trabalho em equipe, a criatividade e o respeito à cultura popular.
Para Wênia Sonály, que construiu sua trajetória nas quadrilhas juninas desde os tempos em que foi Rainha Junina até sua atual atuação como jurada em festivais realizados em diversas regiões do país, essa vivência é uma forma potente de manter viva a cultura popular e transmitir valores entre gerações. “Atualmente, posso contribuir com minha arte por meio de oficinas realizadas nas escolas, sob a coordenação de eventos da SEDUC, levando a experiência das grandes quadrilhas para dentro do ambiente educacional”, afirmou.
Isso demonstra a importância de existir espaços, como festivais e projetos culturais, que ofereçam oportunidades para que todos os interessados possam participar e vivenciar essa manifestação cultural. Além disso, esses eventos também atraem o público, que se reúne para apreciar as apresentações, contribuindo para o fortalecimento e a valorização da cultura em nossa sociedade.
Na produção dos festivais, além da participação dos grupos de quadrilha, existe um trabalho cuidadoso de organização, que vai desde a escolha dos temas até a coordenação de toda a parte logística e artística. Muitas pessoas estão envolvidas nesse processo os coreógrafos, cenógrafos, músicos, jurados e produtores culturais, todos dedicados a garantir que as apresentações sejam de qualidade e mantenham a autenticidade da tradição.
Lucas Olles, gestor do Museu de Arte e Ciência de Campina Grande (MAC) e jurado do II Festival de Quadrilhas Juninas Escolares, explica que para análise técnica do júri existem diferenças em aspectos como proporção, tamanho e incentivo entre as quadrilhas escolares e as adultas, mas que o objetivo permanece o mesmo: os quadrilheiros infantis de hoje podem se tornar os quadrilheiros do futuro, buscando que essa tradição continue sendo valorizada e fortalecida ao longo do tempo.
A continuidade e o fortalecimento dessa manifestação cultural por meio de eventos como os festivais, são essenciais para preservar a identidade e o orgulho cultural, funcionando como forma de resistência e envolvendo as novas gerações no conhecimento de suas raízes, na valorização das tradições e na responsabilidade de mantê-las vivas.
Quadrilhas Juninas como ferramenta pedagógica
As quadrilhas juninas, tradicionalmente conhecidas como manifestações folclóricas, vêm conquistando um novo espaço dentro das salas de aula do Nordeste. Em Campina Grande, elas têm se consolidado como importantes instrumentos pedagógicos, capazes de promover o pertencimento cultural e a valorização das tradições populares entre crianças e adolescentes.
Ricas em danças coreografadas, comidas típicas e as mais diversas e genuínas manifestações tradicionais nordestinas, as celebrações juninas estão sendo incorporadas ao currículo escolar como atividades interdisciplinares. Por meio de vivências práticas, leitura de autores regionais e dinâmicas em grupo, alunos e professores constroem experiências educativas que conectam cultura, identidade e história.
Na Escola Lafayete Cavalcante, por exemplo, a preparação para os festejos transforma o ambiente escolar. Para a professora Robenia, gestora adjunta da instituição, o São João é uma oportunidade única de integrar o conteúdo didático à realidade dos estudantes. “As tradições juninas fazem parte da nossa história e da nossa cultura. Trabalhamos essas temáticas alinhadas ao currículo, com vivências práticas, leitura de autores regionais e atividades interdisciplinares”.
Através dos pares, das roupas coloridas, das saias rodadas e do ritmo contagiante do forró, as quadrilhas se tornam verdadeiros espetáculos que narram histórias, resgatam memórias e reforçam os laços culturais. Preservar essa tradição é garantir que sua riqueza siga inspirando e existindo ao longo do tempo.
O sentimento de valorização das raízes também é compartilhado pelos pais dos estudantes que participam das quadrilhas juninas infantis. “Eu incentivo minha filha desde pequena a vivenciar essa tradição. Quero mostrar a ela nossas raízes, a cultura da nossa cidade. O São João não é só no mês de junho, a gente respira São João o ano inteiro aqui em Campina Grande”, relatou Jéssica Silva, mães de dois dos alunos participantes .
Ver os alunos protagonizando essa celebração é testemunhar o futuro abraçando o passado com amor e respeito. É entender que ensinar também é emocionar, e que aprender pode e deve ser uma experiência cheia de cor, música e identidade. E, nesse contexto, sem sombra de dúvidas, iniciativas como a dos festivais promovidos pelo Poder Público é uma das mais importantes ferramentas de alavanca e fortalecimento da cultura popular nordestina.
*Reportagem: Mariana Cantalice/ Karla Nóbrega/Nayara Rocha/Ana Júlia Cardoso
Imagem: Iasmin Pereira
Edição: Carol Bezerra
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