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Com a chegada do São João, o Nordeste do Brasil amplia ainda mais o seu leque de possibilidades para quem quer empreender e/ou deseja aumentar o faturamento da sua empresa. É nessa época em que os negócios são beneficiados com a chegada de turistas, além de alavancar vendas com o público local. É comum que os serviços de alimentação, beleza, moda e rede hoteleira se destaquem no mercado, mas tão importante quanto a escolha do que vender, é saber para quem. Conhecer o seu público-alvo melhora a comunicação do seu negócio e traz melhores resultados, de acordo com diversos especialistas de marketing e empreendedorismo.
Campina Grande é conhecida como a terra d’O Maior São João do Mundo, mas imagine nascer na Rainha da Borborema e não saber dançar forró!… São mais de 30 dias de festa em um lugar que respira São João o ano inteiro e tem vários palcos, palhoças e coretos espalhados pelo Parque do Povo (PP), lugar que recebe o evento anualmente.
Pensando nisso, os professores Karen e Luiz, que são um casal, criaram um curso para quem deseja aprender a dançar forró e se desenrolar nas noites do Parque do Povo. “Era algo recorrente nas procuras. Quando dá o mês de janeiro/fevereiro o pessoal procura muito aula de dança de salão querendo se preparar para o Parque do Povo”, explicou Luiz.
Ele comentou ainda que a principal pergunta era “mas eu vou chegar no PP dançando?” e foi a partir disso que surgiram as aulas: “Juntou essa coisa do pessoal perguntando e eu disse: rapaz, vamos criar um curso ‘Do Zero ao PP’? E quem se inscrever vai chegar no Parque do Povo dançando! A proposta ‘Do Zero ao PP’ veio não só a partir de mim, mas da procura dos próprios alunos”, comentou.
Rodolfo Bolconte (26) poderia facilmente estrelar um clipe com Edu Falaschi e Calcinha Preta:
“Há 25 anos eu sou do Rock. Nascido em Campina Grande, comecei a passar vergonha… O porquê? Não sabia dançar forró. Aí pensei: preciso de um curso de forró! Dei sorte de ser chamado por um antigo professor, entrei nesse curso e na primeira aula eu realmente não sabia nada, mas depois dela eu saí ‘do zero’ e sabendo o ‘dois pra lá e dois pra cá’ e hoje eu estou rodando todo mundo, igual um Beyblade”, comentou com muito humor.
Já Tiago Brasileiro (32) explicou que a noiva foi a sua maior motivadora, mas que o fato de estar em uma terra com bastante tradição forrozeira também o influenciou: “Entrei no curso com Careca e Cabeluda e foi quando realmente comecei a aprender novos passos. Eu sou de Patos (PB), terra que também tem um São João muito forte, só que eu só sabia aquele “forró de terreiro” e com o curso eu aprendi a técnica, alguns giros e fui melhorando”, comentou.
O casal, que além da dança, nutre uma paixão pelo humor, uniu as duas ideias para criar a marca: Careca e Cabeluda. Mas a criatividade não parou por aí, pois o nome da escola é “Gafieiragem”, a união de duas palavras distintas, mas que formaram um casamento mais que perfeito: gafieira e garagem. Sendo a primeira qualquer local onde se possa dançar e a segunda o espaço escolhido para ser a escola de dança dos dois.
Karen explicou que a ideia da escola de dança surgiu despretensiosamente, quando o casal precisou arrecadar fundos para uma viagem profissional. Após fazer o curso que juntaria o valor para essa viagem, eles passaram a receber várias propostas dos alunos com pedidos para abertura de novas turmas regulares e foi necessário, de fato, colocar o projeto pra frente: “Atualmente a gente dá aula de segunda a sexta-feira e agora em julho vamos colocar no sábado, pois não tá mais cabendo gente”, comentou.
Amor de Forró
Como se não bastasse empreender com a dança em um momento tão marcante para o Nordeste, o casal começou a escrever a sua história n’O Maior São João do Mundo: “A gente se conheceu no Parque do Povo, dançando forró em um show de Rita de Cássia, em 2010. Eu queria muito dançar com ele, ele fazia parte de uma escola de dança daqui da cidade”, disse Karen.
A professora explicou como foram os primeiros passos na dança profissional: “Desde 2010 a gente passou a fazer dança de salão, primeiro a gente começou como alunos mesmo, com pouco tempo viramos monitores, criamos a nossa companhia de dança em 2011 e eu passei pra Dança na UFPB e a gente precisou se mudar pra lá [João Pessoa]. Quando eu tava na metade do curso, o Careca passou pro mesmo curso e a gente ficou um tempo lá, não só na universidade, mas também em escolas de dança”, explicou.
Luiz contou que a mudança para a capital foi bem positiva para eles: “João Pessoa é um canal em que professores de outras regiões chegam com maior facilidade. E aí a gente estudou muito com professores de outras regiões, inclusive, temos um professor de Fortaleza (CE). […] Fizemos um curso de forró estilizado com ele. Lá [em João Pessoa] nós conhecemos vários professores e tivemos essa pluralidade de poder estar em contato com outros profissionais e assim poder abranger mais o nosso conhecimento em dança de salão”, finalizou.
Karen pontuou a importância da teoria para a fixação da técnica no forró: “Todas as danças vão ter uma ancestralidade e aí é muito importante! Nós sempre trazemos para os nossos alunos, historicamente, o que foi que veio antes para eles contextualizarem e [a dança] ficar cada vez melhor no corpo deles”, explicou a professora.
Agora em junho a turma saiu da Gafieiragem e foi ao PP para uma aula super diferente: “É aquele contato que você tem com o forró, de fato, e podemos dançar com várias pessoas do curso, trocando informações e experiências. O nome já diz qual é a ideia [Do Zero ao PP], principalmente pra gente que tá iniciando, que tá aprendendo aqueles passos iniciais”, disse Bolconte, aluno da turma iniciante.
Ele comentou sobre o fato de participar de uma turma um pouco menor do que as encontradas em outras escolas de dança da cidade: “Cara, é excelente! É um curso com poucas pessoas, então tem uma organização maior. Toda a parte teórica é de muito fácil compreensão, então não é apenas a prática. Ainda mais trazendo a gente para o Parque do Povo, é uma imersão, é um plus do curso”, falou empolgado.
O roqueiro, que agora também é apaixonado por forró, finalizou com a contagem de dias dançados n’O Maior São João do Mundo: “Esse curso foi uma virada completa na minha vida. Enquanto no ano passado eu fui três dias ao Parque do Povo, esse ano eu estou no vigésimo dia, dançando todos os dias… Não passei nem um único dia sem dançar! […] Foi uma mudança completa que essas aulas de dança fizeram na minha vida. A partir desse São João eu sou uma nova pessoa”, finalizou.
Empreender na dança não é fácil! É um local de resistência e repleto de desafios.
Apesar de ser vista muitas vezes como um passatempo pela sociedade, a dança traz diversos benefícios para quem a pratica e é uma arte que serve para valorização e perpetuação da cultura de um povo.
O curso “Do Zero ao PP” não é apenas uma forma dinâmica e cheia de humor para se aprender um forró que vai te levar às palhoças do PP, mas um aprendizado que exalta a tradição local e fortalece o sentimento de pertencimento. A Gafieiragem do Careca e da Cabeluda segue como um espaço de acolhimento e preservação cultural por meio da dança.
O forró, o xote, o xaxado, o baião e tantos outros ritmos e manifestações artísticas continuarão sendo perpetuados por meio desses alunos e professores apaixonados pela arte e pelo poder transformador de dançar um forró n’O Maior São João do Mundo.
*Repórter Junino – Reportagem: Samya Amado e Isabella Silva/ Fotografia: Eduarda Queiroz e Samya Amado/ Edição: Gabryele Martins
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