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As bonecas de pano habitam o imaginário brasileiro e marcaram a infância de crianças em diversas regiões do país. Elas são uma herança das etnias africanas, que confeccionavam as abayomis, bonecas feitas com retalhos de tecido.
Feitas à mão por artesãos, essas bonecas representam a visão do ser humano em diferentes culturas. As artesãs brasileiras homenageiam, através de suas criações, filhos, vizinhos, pais e avós, honrando a memória daqueles que partiram e deixaram saudades.
Dão vida aos personagens que marcaram a história de muitos, como o lendário casal de cangaceiros Lampião e Maria Bonita, e além disso, retratam figuras que remetem aos festejos juninos, como os noivos, o trio de forró e os santos João, Antônio e Pedro.
Típicas das festas juninas, as bonecas, são feitas com palha de milho, um material abundante nas zonas rurais do Nordeste durante o mês de junho. Estas bonecas vestem trajes típicos juninos da celebração, refletindo a estética das festividades e simbolizando a simplicidade e a riqueza do artesanato popular.
Já as bonecas nordestinas bruxinhas são conhecidas pela aparência característica de bruxas, feitas à mão com tecidos coloridos e detalhes que remetem à cultura e folclore do Nordeste. Elas são vistas como amuletos de boa sorte e proteção.
Essas bonecas, vistas como bonecas da sorte, são símbolo de prosperidade e paz. São confeccionadas com pano cru, tecido de chita, fitas, bicos de renda, linha de crochê e costura, variando em tamanhos e cores de pele e cabelos. Dessa forma, essas bonecas perpetuam a criatividade e habilidade dos artesãos nordestinos, mantendo viva a tradição e a cultura popular em cada detalhe de suas confecções, especialmente na época junina.
São essas bonecas curiosas e ricas de histórias que embelezam as ruas da Vila do Artesão, em Campina Grande. Mulheres artesãs que produzem as famosas bruxinhas, espantalhos e bonecas de pano representando personagens importantes como Lampião e Maria Bonita, Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. A vila abriga uma diversidade gigantesca de estilos, materiais, personalizações e representações dessas bonecas ícones da cultura nordestina e junina.
Fátima Monteiro, artesã e professora de reforço escolar natural de Lagoa Seca mais conhecida como Fafá, conta que aprendeu a produzir bonecas com sua tia ainda criança. Filha de agricultores da zona rural, os únicos brinquedos que tinha acesso eram as próprias bonecas produzidas por sua tia, geralmente feitas de milho e palhas, o que causava irritação de seu pai, já que o milho era uma de suas únicas fontes de renda e alimento, e ele enxergava a produção de bonecas um desperdício.
Ela e sua tia também fabricavam as bruxinhas, com retalhos e pedaços de fios que encontravam pela casa. Hoje em dia ela considera a arte que faz uma terapia: “Eu amo fazer bonecas. Elas servem também como uma terapia pelo fato de eu ter muita insônia. Então quando eu estou com insônia eu me sento lá na cama e começo a fazer boneca até o sono chegar. Tem noites de eu passar em claro, sem ter um pingo de sono. Mas pelo menos eu estou relaxando com elas.”
Enquanto Fafá aprendeu a costurar desde criança, Maria do Socorro adquiriu o dom apenas mais tarde. Natural de Tocantins, e professora de educação infantil, ganhou uma máquina de costura de presente de seu marido, e começou a usar de seu tempo ocioso assistindo vídeo aulas no Youtube para aprender a costurar.
Em pouco tempo ela já estava produzindo suas primeiras bonecas. Ela conta que seus primeiros trabalhos foram bonecas por ter dito teve uma infância muito humilde e não tinha condições de ganhar brinquedos e seu maior sonho na época era ganhar uma: ‘’A gente não teve acesso a brinquedos. Éramos uma família de doze irmãos e meu pai muito sacrificado. Então no Dia das Crianças os presentes que ganhamos eram copinhos e pratinhos de plástico, nunca bonecas”, recordou.
Além de bruxinhas e bonecos de palha, hoje em dia ela também produz bonecas representando bebês didáticos, para auxiliar mães de primeira viagem, como também bonecas com características humanas reais, muito requisitadas pelo público.
O processo de produção
O trabalho de confecção das bonecas é único e cheio de detalhes: as artesãs tecem o tecido das bonecas, podendo utilizar de malhas ou tecido de algodão na confecção do corpo.
A fibra, que é um tipo de enchimento utilizado para encher o corpo, além da lã para fazer o cabelo. Nos bonecos espantalhos são utilizados tecido, enchimento com sisal para incrementar a decoração no cabelo, mãos e pernas. Esse último é utilizado para representar as palhas de milho.
Maria Roseli, artesã natural de Campina Grande, encanta os visitantes da Vila do Artesão, onde ela comercializa suas artes há mais de 11 anos. Seu início no artesanato deu-se com sua avó, que também era artesã e passou seus ricos conhecimentos para os netos.
“Minha avó tinha uma barraca na Feira Central aqui de Campina Grande, onde ela vendia as bonecas que produzia. Eu a via fazendo as bonecas na feira de flores e achava interessante. Então, comecei a fazer as bonecas também, como uma forma de gerar renda, e até hoje trabalho com isso e gosto bastante”, comenta Maria Roseli.
As bonecas artesanais, seja de pano, palha ou outros materiais, têm um papel fundamental na preservação e valorização da cultura brasileira, especialmente no Nordeste.
Elas não apenas habitam o imaginário de muitas gerações, mas também representam a história de vida desses artesãos que viram na confecção de bonecas uma forma de seguir sendo criança com alegria, cores e sonhos. Em locais como a Vila do Artesão em Campina Grande, essas bonecas ganham vida nas mãos de diversas mulheres que perpetuam essa tradição nordestina.
O processo artesanal, que pode incluir desde a confecção de bonecas mais modernas com arame e porcelana fria até espantalhos e bonecas de palha. É um trabalho meticuloso e apaixonado que conecta gerações e mantém viva a memória cultural e a simplicidade de ser criança. Essas bonecas são mais do que simples brinquedos; são símbolos de uma herança rica, prosperidade e paz.
Repórter Junino – Reportagem: Lincon Silva/ Fotografia: Adrian Miguel/ Produção e Edição: Jaine Glaser / Especial: UFCG-UEPB
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