Política

Darcon Sousa: Empresário na política, a administração pública e a meritocracia

Da Redação*
Publicado em 26 de outubro de 2024 às 20:39

darcon sousa

Foto: ParaibaOnline

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A racionalidade do homem de negócios é o traço mais marcante da modernidade capitalista. Sua característica principal consiste no primado da escolha dos meios mais adequados para o alcance de fins previamente definidos.

O senso prático, o controle e a impessoalidade acompanham as decisões do empresário e essa forma de escolher cursos de ação se tornou hegemônica no ocidente. Em muitos contextos, versões variadas dessa “razão instrumental” têm sido aplicadas à gestão pública.

No Brasil, a “Administração Pública Gerencial” é difundida desde os anos 1990, quando o então Ministro Bresser-Pereira delineou sua proposta de reforma do Estado. Aqui mesmo na Paraíba, experiências gerencialistas foram aplicadas por um governo de verniz ideológica esquerdista. Terceirização, avaliação de desempenho de políticas e formas descentralizadas de prestação de serviços públicos foram implementadas com benefícios, problemas e contradições típicas da complexidade peculiar à coisa pública.

Dentre os elementos desafiantes para a adoção da Administração Pública Gerencial estão, por um lado, a ganância de empresas que veem nas relações com os governos formas de multiplicar lucros em pouco tempo e, por outro lado, a resistência de grupos sociais à flexibilização dos mecanismos de gestão pública que estejam fora do enquadramento estatista e das carreiras do funcionalismo público.

Entretanto, a busca por eficiência do setor público tem relação com práticas, modelos e tecnologias de gestão que, claro, utilizadas por gestores competentes, apresentarão resultados melhores. Racionalização e profissionalização são imprescindíveis, sobretudo em contraposição ao fisiologismo, ao clientelismo e ao nepotismo, carrapatos que historicamente infectam o organismo público, impedindo-o de atender à população de maneira eficaz, sabotando a própria ideia de uma ‘res pública’ (coisa do povo) verdadeiramente democrática.

Nesta direção, o empresário não está proibido de participar da vida política e de candidatar-se a gerir os governos. Todavia, precisam ir além da razão instrumental, baseada exclusivamente em resultados objetivos. O serviço público não se mede apenas pela régua do custo-benefício, ainda mais numa realidade como a nossa, desigual e excludente. Também as relações do governo com a sociedade exigem acordo, convencimento, transparência e participação. Assim é nas sociedades democráticas.

O mando à mão de ferro – conquanto haja saudosistas de um passado mítico a reverenciarem seus valores – é um instrumento ultrapassado e insuficiente, mesmo no universo das corporações privadas do século XXI. Por isso, do empresário aspirante a ser político espera-se empatia, solidariedade e a emissão de sinais por intermédio dos quais ele transmita aos outros a compreensão de que sua trajetória de sucesso não explica tudo e não é uma palmatória para bater em quem “não chegou lá”.

Em outro sentido, a presença de empresários no debate público por vezes desperta ilusões sobre os superpoderes do empreendedor de sucesso, supostamente transferíveis para sua atuação no governo. As pessoas bem sucedidas, desde que o mundo é mundo, têm a necessidade de justificar e legitimar as posições que ocupam. Nesse processo, ocultam benefícios, contingências e momentos nos quais a graça, o favor imerecido e uma dose de sorte impulsionaram suas realizações. Vamos combinar, o mérito nunca é totalmente individual, cara pálida.

Transformadas em discurso político, as falas do “self-made man”, candidato a governar, tendem a culpabilizar os pobres por seus infortúnios, algo intuitivamente rejeitado por eles. Violências simbólicas erguem um muro de desconfianças entre o empresário rico e pobres ansiosos por oportunidades mínimas para viver com dignidade e sem recursos básicos para competir em igualdade de condições, tal como ocorre no mundo empresarial, formado por megas, grandes, médias, pequenas e micro empresas.

Aliás, por terras brasileiras, estas últimas são 99% do total dos negócios. Isso se deve a muitos motivos, menos pela falta de vontade e/ou esforço de seus proprietários. A sociedade é hierarquizada e a escada não é rolante, mas ainda formada por materiais antigos e novos que confabulam para tornar a subida mais lenta, com degraus inalcançáveis para uns tantos, garantindo o topo para uns poucos, os quais, de lá, bradam que ninguém é mais merecedor do que eles.

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