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Paraíba
Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil/Arquivo
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A agricultura no interior da Paraíba é marcada por memórias de trabalho árduo, resistência e, sobretudo, incertezas. Em reportagem especial da Rádio Caturité FM, agricultores compartilharam suas histórias e vivências, revelando a força necessária para enfrentar tanto a seca quanto as mudanças no clima.
Infância no campo e trabalho precoce
José Pereira Souza começou cedo na lida rural.
— “Comecei a trabalhar na agricultura mais ou menos com 8 anos de idade. Meu pai sempre trabalhou na roça e, naquela época, era comum os filhos acompanharem cedo os pais no trabalho. Muitas vezes, até o estudo ficava de lado”, relembra.
Durante duas décadas, ele trabalhou em atividades como cavar, colher e bater feijão manualmente, sem o auxílio de máquinas. Mas, aos 19 anos, percebeu que a lavoura, nas condições em que vivia, não oferecia estabilidade.
— “Era um trabalho que mal dava para se alimentar. Eu vi que aquilo não era muito bom pra mim, não”, conta.
Produção apenas para subsistência
Sem grandes áreas de terra ou recursos, a família de José produzia basicamente para o consumo próprio.
— “O que a gente vendia era só para comprar roupa, calçado ou fazer uma pequena feira. O restante era para se alimentar durante o ano”, explica.
A estratégia para sobreviver à seca incluía o armazenamento de alimentos em silos.
— “Meu pai enchia um silo de farinha e outro de feijão. Era a garantia para o ano todo, porque no inverno o que lucrou, lucrou. O que não lucrou, não lucra mais”, detalha.
O peso da seca e a incerteza do clima
José descreve o período de estiagem como um tempo de apreensão.
— “O agricultor vive sem saber se vai chover, se a planta vai vingar. É sempre uma incerteza”, lamenta.
Outro agricultor entrevistado reforça essa sensação, mas lembra que o inverno também traz alegria e esperança.
— “O sentimento do agricultor em relação à chuva é maravilhoso. É quando você abastece a despensa e pode vender um pouco para proporcionar uma vida melhor para a família. Mas também é um misto de sentimentos: às vezes quase se perde tudo com o excesso de chuva ou com o sol forte”.
Essa instabilidade tem sido intensificada pelas mudanças climáticas.
— “Hoje o agricultor está meio perdido. Não sabe quando vai chover ou quando vai parar. Esse tempo mudou, e o próprio ser humano ajudou a mudar”, afirma.
Busca por outros caminhos
Sem perspectivas na agricultura, muitos migraram para outras atividades ou para outros estados.
— “Meu irmão foi para São Paulo, e depois eu também fui. Trabalhei com verduras por seis anos, mas também não dava futuro. O salário era muito pouco, mal dava para fazer uma compra”, conta José.
Mesmo com os desafios, os relatos revelam que a agricultura continua sendo mais que um meio de sustento: é um modo de vida, profundamente ligado à identidade e às raízes desses homens e mulheres que resistem no campo.
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