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Na Paraíba, escolas públicas de tempo integral se inspiram em sonhos e metas profissionais dos alunos do ensino médio para criar disciplinas eletivas, clubes temáticos e outras atividades, com o objetivo de engajar os jovens e permitir que eles tenham um vislumbre de possibilidades de futuro enquanto estão no colégio.
Logo no primeiro dia de aula, os estudantes paraiabanos preenchem um formulário informando quais são seus maiores sonhos.
A maior parte deles quer ser médico (10,5%). Em seguida, vem os que desejam ser jogador de futebol (6,1%) e advogado (6%).
As conquistas que eles anseiam vão além de objetivos profissionais: 29,8% querem ter uma casa própria, 17,4% sonham em presentear a família com uma moradia, e 10,3% desejam viajar para o exterior.
Os dados ficam compilados no Dashboard dos Sonhos, da Secretaria de Educação da Paraíba.
“A grande maioria dos nossos estudantes chega à 1ª série sem perspectiva de futuro e não sabe o que quer fazer ao sair do ensino médio”, afirma Romário Farias, gerente operacional de protagonismo da pasta. “Mas quando eles forem à escola, terão educadores para ajudá-los.”
Os primeiros passos para concretizar esses sonhos ocorrem nas aulas de projeto de vida. Nelas, os estudantes refletem sobre sua identidade, desejos e metas a serem alcançadas.
Ao longo dos anos, eles aprendem sobre quais são seus pontos fortes e no que podem melhorar.
“As aulas vão mudando e sendo mais relacionadas a sentimentos, ao Enem [Exame Nacional do Ensino Médio] e à vida profissional. Já precisamos ir pensando nessas coisas por estarmos na 2ª série [do ensino médio], para não ficarmos tão perdidos no ano que vem”, diz Joaquim Neto, 17, aluno da Escola Cidadã Integral e Técnica João da Matta Cavalcanti de Albuquerque localizada em Mamanguape, no interior do estado.
Ele sonha em fazer medicina, inspirado pela atuação da mãe, que é técnica de enfermagem. Para Joaquim, as atividades de projeto de vida trouxeram mais confiança em sua capacidade de passar no vestibular, já que o curso é um dos mais concorridos no Enem.
Já Emanuelly Rocha, 16, também aluna da 2ª série, afirma que as experiências na escola permitiram que ela expandisse as escolhas do que fazer depois de se formar.
Ela decidiu se tornar fisioterapeuta para ajudar os avós, que precisam do apoio desses profissionais, e por ter interesse em trabalhar na área de cuidado. No entanto, também pretende estudar para ser técnica em segurança do trabalho.
“O projeto de vida colaborou para o nosso desenvolvimento pessoal e profissional. Eu já tinha o sonho de fazer fisioterapia, mas com o tempo fui despertando mais desejos por outras áreas”, afirma.
As ambições dos alunos variam a cada ano: em 2021, profissões na área da saúde, em geral, eram as mais populares. Em 2022, a maior parte dos estudantes queria ser policial.
Há, inclusive, uma escola que oferece uma disciplina eletiva de preparo para concursos na área de segurança pública, com o objetivo de atender ao interesse dos estudantes, segundo Romário Farias, da Secretaria de Educação do estado.
No colégio de Mamanguape, tornar-se profissional de tecnologia é o segundo sonho mais popular, atrás apenas de atuar na área da saúde. A escola, além de contar com um clube de robótica, passou a ofertar um curso técnico em programação de jogos digitais.
Segundo a diretora da instituição, Myrtes Bezerra, a plataforma também permite que os docentes identifiquem e, se necessário, intervenham em casos de estudantes que não demonstram interesse pelas aulas ou por objetivos de longo prazo. Lá, 12% dos alunos ainda não têm um sonho definido.
“Existe uma mudança de comportamento por parte dos professores, porque eles sabem a quem vão atingir e onde querem chegar. Isso leva a toda uma mudança dentro da escola”, diz.
A implementação do projeto é acompanhada pela Secretaria de Educação, para que as atividades escolares derivadas dos sonhos sejam eficazes em engajar os alunos, segundo Romário Farias, que atua na pasta.
O sucesso da iniciativa também depende de uma boa infraestrutura nos colégios. Na Paraíba, 97,6% das escolas públicas de ensino médio têm acesso à internet, mas só 55,6% contam com quadra de esportes, 48,3% têm laboratório de ciências e 35,4% laboratório de informática, segundo dados do Censo Escolar de 2023.
Romário Farias, diz que a secretaria está aberta às demandas dos docentes por condições básicas para dar aulas. “Vejo muito protagonismo dos profissionais de educação em cobrar a secretaria e fazer parcerias para executar as atividades [escolares].”
Instituições de tempo integral são mais bem preparadas por centralizar o trabalho do docentes, de acordo com Janine Marta, professora de educação da UFPB (Universidade Federal da Paraíba).
São escolas que costumam ter melhor infraestrutura e dedicação exclusiva dos educadores.
Em colégios estaduais de São Paulo, por exemplo, o ensino em tempo integral aumentou o desempenho dos alunos em 35% em matemática e 26% em português, segundo estudo do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Educação e Economia Social, ligado à USP (Universidade de São Paulo), em parceria com a ONG Instituto Sonho Grande.
Janine diz que o projeto do estado tem condições para reduzir a evasão, se for monitorado e mantiver as estruturas necessárias para oferecer atividades aos alunos.
“A evasão se dá pelo desinteresse, falta de motivação e muito pela dificuldade nas aprendizagens, pela fragilidades e lacunas não apreendidas nos níveis anteriores de ensino”, afirma. “Uma escola integral que ocupa o adolescente com atividades curriculares formativas traz oportunidade dele ser protagonista de suas escolhas.”
*LUANY GALDEANO/folhapress
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