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Foto: Gilvan de Souza/Flamengo
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Filipe Luís tinha só 22 anos em 2007 e levava à loucura o técnico espanhol Miguel Ángel Lotina por não saber defender.
O experiente treinador do Deportivo La Coruña dizia a cada treino: “No ataque é como Roberto Carlos, mas na defesa…”. E o fazia permanecer ao fim de cada atividade para corrigir detalhes técnicos da posição de lateral, desde o posicionamento do corpo até os movimentos táticos mais complexos.
“Lotina teve muita paciência comigo”, lembrou aos risos o atual técnico do Flamengo, em entrevista ao Universo Valdano, programa comandado pelo ex-atacante Jorge Valdano, em 2019.
“Ele só pensava em atacar o gol adversário”, conta à Folha o ex-zagueiro argentino Diego Colotto, companheiro do brasileiro no clube espanhol. “Conversava muito com Filipe para que voltasse [para marcar], mas havia nele uma forma de jogar sempre atacando ou pensando no gol. Ele não compreendia. E Lotina, que era muito tático, fez com que ele enxergasse isso. Ele o amava muito. Curiosamente, esse virou o ponto forte dele nos times em que jogou.”
Aquele lateral esquerdo com dificuldades de observação tática é hoje, aos 39 anos, o técnico sensação do futebol brasileiro e conduz o Flamengo na Copa do Mundo de Clubes. Em menos de um ano na função de treinador de um time profissional, conquistou os títulos da Copa do Brasil, da Supercopa do Brasil e do Campeonato Carioca, carregando a experiência vivida em sua quarta temporada na Europa, sob comando de Lotina.
“Para mim, sinceramente, não é nenhuma surpresa. Obviamente, a gente nunca espera que tão cedo sejam alcançados resultados expressivos. Isso, sim, surpreende, mas o vejo hoje como consequência do garoto que conheci e encarava o futebol de uma maneira profissional desde muito jovem”, diz o ex-meia Sérgio Manoel.
Sérgio Manoel era um veterano do Figueirense quando Filipe Luís dava seus primeiros passos como profissional no clube de Florianópolis. “Ele parava para ouvir absolutamente tudo o que falávamos com ele. Abdicou muito da vida pessoal para estar onde está. Sempre teve essa paixão pelo jogo.”
O sucesso rápido no Flamengo foi alcançado com um perfil paciente e semelhante ao de seu mentor. Na nova carreira, o catarinense tem como braço direito o auxiliar espanhol Ivan Palanco, que trabalhou com Lotina até a sua aposentadoria.
Técnico mais jovem do Mundial ao lado do belga Vincent Kompany, do Bayern de Munique, seu rival neste domingo (29), ele não entra em embates com jornalistas, evita criticar atuações de árbitros e acredita na recuperação de jogadores. Fez isso com Gabigol, hoje no Cruzeiro, que estava esquecido no clube com Tite e foi fundamental na conquista da Copa do Brasil.
Apesar da influência de Lotina, o ex-lateral também já disse ter criado um estilo próprio tirando lições valiosas com nomes como Diego Simeone, Tite, Jorge Jesus, José Mourinho e Dorival Júnior.
Ele exalta constantemente a intensidade que aprendeu com Simeone, com quem mais trabalhou, em oito temporadas no Atlético de Madrid. Elogia também o conhecimento tático de Jesus e a estabilidade oferecida ao elenco por Tite, seu comandante na seleção brasileira.
Foi de Tite que Filipe herdou sua primeira chance como treinador de um time principal. Após a demissão do gaúcho do Flamengo, o catarinsense assumiu o elenco profissional após bons resultados nas equipes rubro-negras sub-17 e sub-20.
“No Atlético, Filipe marcou tanto uma era que até hoje as pessoas continuam procurando por seu herdeiro. As expectativas como treinador são altas. Se ele continuar nesse nível, sua oportunidade na Europa não vai demorar a chegar. Talvez até no Atlético, mas ainda é cedo para dizer”, afirma o jornalista Eduardo Burgos, do diário As, de Madri.
Com 50 jogos no comando do time carioca, Filipe Luís ostenta 75,3% de aproveitamento, com 33 vitórias, 14 empates e apenas três derrotas. No século, só fica atrás de Jorge Jesus (81,6%) e Joel Santana (77,7%).
Diante do Chelsea, na partida mais esperada do clube até aqui no Mundial, ele correu riscos: deixou Léo Ortiz no banco para escalar Danilo na defesa e, em desvantagem de 1 a 0, tirou o uruguaio Arrascaeta, considerado o melhor jogador do time, para a entrada de Bruno Henrique. Os gols da virada foram marcados por Bruno Henrique e Danilo. Depois, o técnico apostou no jovem Wallace Yan, que selou o triunfo por 3 a 1.
“Sabíamos que teríamos chances, porque tínhamos um jeito de jogar e seguir o caminho. Quando fiz as mudanças, o time começou a acreditar”, afirmou, orgulhoso.
Para o velho companheiro Sérgio Manoel, “o futuro dele é a seleção”. “Há tanta carência hoje de bons nomes que o vejo como uma luz naquele fim do túnel que a gente tanto espera de um treinador brasileiro”, observa.
Antes de pensar nessa possibilidade, Filipe Luís se concentra em levar o Flamengo a superar o forte Bayern, em Miami Gardens. O ex-lateral que só sabia atacar aprendeu a surpreender os europeus.
* KLAUS RICHMOND (FOLHAPRESS)
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