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Foto: Reprodução/Instagram
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Teria Djavan feito uma guinada para se aproximar do jazz? Afinal, o 20° sexto álbum de sua carreira, que chega três anos depois de “D”, tem o nome “Improviso”. Quando se fala em improviso na música, é fácil pensar no jazz e na liberdade artística do gênero.
Mas poucos compositores trabalham com tanta liberdade quanto Djavan. Desde o início da carreira, há quase 50 anos, ele não faz jazz, pop, MPB tradicional ou samba. Não existem nem “os blues de Djavan”, como sugere Caetano Veloso em sua “Eclipse Oculto”. Djavan faz… música de Djavan.
Poucos, muito poucos, têm um DNA musical tão singular. É um som fluido, inclassificável, sedutor, de canções que grudam no ouvido e letras que compõem um discurso tão único que pode causar algum estranhamento antes de um inevitável encantamento.
Além do sucesso popular, Djavan coleciona elogios dos maiores nomes da música, dentro e fora do Brasil. Grandes nomes incontestáveis, como Burt Bacharach e Quincy Jones, declararam sua admiração por ele. E existe até uma ligação entre Jones e “Improviso”.
A faixa “Pra Sempre” pode ser apreciada com deleite por fãs de boa música pop brasileira, mesmo que o ouvinte nem imagine que a origem dessa canção é um pedido do lendário produtor. Jones queria uma música de Djavan para Michael Jackson cantar no álbum “Bad”, de 1987. Um pedido desses no momento em que Jacko era o maior popstar do planeta!
Mas o brasileiro atrasou o envio da música e a gravação não se concretizou. Agora, quase 40 anos depois, Djavan preenche a música com versos recentes, claramente dedicados a louvar voz e passos de dança do Rei do Pop. Talvez atraia a atenção midiática, mas é mais divertida do que relevante.
“Falta Ralar” é uma tentativa (bem-sucedida) de trocar as letras intrincadas escritas no famoso dialeto “djavanês” pelo suposto vocabulário de uma jovem adolescente às voltas com um garoto um tanto complicado.
Se “Pra Sempre” e “Falta Ralar” soam divertidas, brincalhonas mesmo, Djavan é arrebatador quando resolve, de certa maneira, “falar sério”. A música que abre o novo álbum, “Um Affair”, mesmo leve, descontraída, é mais uma construção de um letrista afiado, preciso, certeiro.
“Um affair, do jeitinho que se quer/ Não é pra todo mundo”. Assim, jogado no ar, o verso parece simples, querendo soar engraçadinho, mas, encaixado na pegada um tanto “jazzy” da canção, mostra que é uma pérola pop. E o álbum está repleto delas.
É curioso como Djavan consegue imprimir sua assinatura em faixas que tanto apresentam uma instrumentalização mais rarefeita, caso de “O Vento”, como em canções encorpadas, “cheias”, nas quais os músicos no estúdio parecem procurar todas as brechas possíveis para projetar seu som. É o caso da ótima “O Grande Bem”.
Para quem tem predileção pelos momentos do Djavan sambista, um lado de seu trabalho que alguns consideram o mais inovador, o álbum traz apenas um sambinha, “Cetim”, que é romântico e envolvente. São versos delicados, como “o que é não pensar em você?/ não sei o que é isso, não”.
Embora Djavan exponha em “Improviso” algumas letras mais simples em comparação a outras fases de sua carreira, seria insano pensar no álbum como um trabalho que possa atingir um público maior por causa disso. Para dar nome aos bois, não deve chegar aos jovens que atualmente são alimentados com música simplória e sem brilho.
Djavan continua um compositor especial. A proposta ousada de seu texto sempre carregou estranheza e frescor facilmente reconhecíveis pelas plateias, mas musicalmente Djavan também é um constante inovador. Sua trama instrumental ainda está longe de ser um biscoito para as massas.
O que mais surpreende é que as ideias novas soam melodicamente mais complexas, mas com um apelo pop que tem pouco espaço na cena musical de hoje. Essa é certamente uma safra recente de canções, porque Djavan já cansou de dizer que não guarda coisas de um disco para outro, para gravar depois.
Ele afirma escrever um repertório novo poucos meses antes da gravação de cada álbum, e em “Improviso” o que se ouve é um poeta querendo deixar claro que busca a paixão. Vários momentos das 12 faixas do disco apresentam aqui ou ali um homem cheio de amor para dar.
No ano que vem ele tem prevista uma turnê que deve passar por grandes arenas esportivas, nesta que é uma modalidade de show que parece ter sido a maneira que os grandes nomes da MPB escolheram para acolher os fãs de todas as gerações.
Djavan é um compositor poderoso para criar o setlist que quiser para uma apresentação diante de dezenas de milhares de pessoas. Seus sucessos, principalmente dos anos 1980 e 1990, precisam ser contemplados. Mas seria interessante reservar pelo menos uma pequena fatia no show para esse Djavan de “Improviso”, com suas leves canções que derramam romantismo.
Improviso
Onde Disponível: nas plataformas digitais
Autoria: Djavan
Gravadora: Luanda Records/Sony
Avaliação: Ótimo
*THALES DE MENEZES/Folhapress
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