Eleições

Inquérito da PF: facção vetou candidatos e usou ONG para atuar em João Pessoa

Da Redação*
Publicado em 30 de setembro de 2024 às 14:33

CICERO-LUCENA-E-LAUREMILIA-LUCENA

Foto: Reprodução/Redes Sociais

Continua depois da publicidade

O inquérito da Polícia Federal que investiga suspeitas de aliciamento violento de eleitores em João Pessoa (PB) aponta o controle da facção criminosa Nova Okaida em comunidades e a atuação do grupo para vetar atos de campanha das eleições.

A investigação embasou a Operação Território Livre, que resultou na prisão de seis pessoas. Dentre elas, está a primeira-dama de João Pessoa, Lauremília Lucena, esposa do prefeito e candidato à reeleição, Cícero Lucena (PP).

A esposa do prefeito é apontada como responsável por gerenciar os pedidos dos cargos na prefeitura, onde não tem cargo oficial. A decisão que decretou sua prisão diz que ela teve papel central na nomeação de pessoas ligadas a facções criminosas na prefeitura.

O prefeito Cícero Lucena disse que a esposa é alvo de uma prisão política, que sofre “um ataque covarde e brutal” dos adversários e que Lauremília mostrará na Justiça que é vítima de perseguição.

A hipótese central da investigação é que a facção Nova Okaida interfere na eleição municipal por meio do controle de territórios e intimidação de moradores que são partidários de candidatos que não são apoiados pelo grupo criminoso.

Um dos centros da atuação da facção é o bairro São José, zona leste de João Pessoa. O tráfico na região seria controlado de dentro da cadeia por Keny Rogers Gomes da Silva, conhecido como Poeta.

Sua esposa, Pollyanna Monteiro Dantas dos Santos, foi presa PF na operação sob suspeita de aliciamento violento no bairro São José.

As investigações apontam que Pollyanna atuaria politicamente por meio da ONG Ateliê da Vida. Na avaliação da polícia, a entidade serviria para dar legitimidade às suas ações e atrair recursos em forma de doações.

Em uma das mensagens encontradas pelos investigadores, o traficante Poeta orienta a esposa a pedir verbas para a ONG. Para os investigadores, esta seria uma forma de pagamento ao seu apoio político no bairro.

“Não peça dinheiro para mim, peça só verba para o Ateliê. O Ateliê tendo todo mês o certo, a gente fica despreocupado”, afirmou o traficante em áudio encaminhado à esposa.
A ONG é presidida por Taciana Batista do Nascimento, apontada como braço direito de Pollyanna. Ela também foi presa.

Mensagens também apontam a atuação de Pollyanna para monitorar ações de campanha de candidatos adversários. Em uma mensagem, ela é procurada por uma moradora que manda fotos de um ato do candidato a prefeito Luciano Cartaxo (PT) no bairro.

Em resposta, Pollyanna afirma que mandou averiguar a situação e que não havia nenhum morador da comunidade no ato. Caso tivesse, ela diz que acionaria o marido para intervir.

Responsável pela defesa de Pollyanna, o advogado Felipe Pedrosa critica a operação pela espetacularização e diz que a prisão é desproporcional. Disse ainda ser “impossível juridicamente” a caracterização do crime de aliciamento violento, já que este demandaria violência ou grave ameaça a eleitores.

“Inexiste nos autos da investigação notícia de violência ou grave ameaça e sequer um eleitor que tenha sido vítima do crime”, afirma.

Em outro diálogo, Pollyanna negocia com a vereadora Raíssa Lacerda (PSB) cargos na prefeitura para o seu filho, que posteriormente seria contratado por uma unidade de saúde municipal com salário de R$ 12 mil.

Raíssa Lacerda também foi presa e renunciou à candidatura. Em nota publicada no dia da prisão, a assessoria da vereadora afirmou que ela é inocente e está sendo vítima de uma “ardilosa perseguição” eleitoral.

Durante a investigação, a polícia também identificou um elo entre Raíssa Lacerda e Kaline Neres dos Nascimento Rodrigues, que ocupou cargo na Prefeitura de João Pessoa. Ela também foi presa.

O advogado Raffael Simões, responsável pela defesa, disse que não iria se manifestar.
A polícia identificou trocas de mensagens entre Kaline e Davis Sena, identificado como “Cabeça”, apontado pelos investigadores como gerente do tráfico de drogas do bairro Alto de Matheus em João Pessoa. Em áudios, Kaline pede para que Davis apoie a candidatura de Raíssa e promete cargos na prefeitura.

Os áudios de Kaline para o traficante foram encaminhados para a vereadora. Depois de ouvir os áudios enviados, Raíssa manda a cabo eleitoral informar a Davi que é apoiada por “Doido Olé”, apontado pelos investigadores como traficante. Kaline responde que ambos são da mesma facção.
Em um áudio, Kaline também sugere ao traficante que impeça a entrada no bairro de Tassiana Farias, candidata a vereadora pelo PP.

“Como a gente faz para ela não pisar mais aí embaixo, hein? Para ela ser proibida de entrar aí embaixo, hein? Tem algum jeito? Você acha que tem? Sem sujar a gestão, está entendendo?”, afirmou.

Kaline ainda afirma no áudio que tem atritos com Tassiane e que levou a situação para a primeira-dama Lauremília Lucena.

A investigação da Território Livre foi iniciada a partir de suspeitas de atuação da Nova Okaida em uma eleição para conselheiro tutelar no bairro São José.

O grupo teria atuado em favor da candidatura de Josevaldo Gomes da Silva, que seria pai traficantes que atuam no bairro. Eleito, ele teria se utilizado do cargo para controlar votos na comunidade com o apoio da facção.

Em nota, o advogado Alberdan Coelho afirmou que Josevaldo é inocente e sempre se pautou pela integridade no exercício do cargo de conselheiro tutelar.

*JOÃO PEDRO PITOMBO/folhapress

Valorize o jornalismo profissional e compartilhe informação de qualidade!

ParaibaOnline

© 2003 - 2024 - ParaibaOnline - Rainha Publicidade e Propaganda Ltda - Todos os direitos reservados.