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A idade mínima para ser vereador no Brasil é de 18 anos, a menor entre as posições políticas. No entanto, apenas 2% dos vereadores nas capitais estaduais têm menos de 30 anos —são 10 homens e 7 mulheres entre os 821 políticos nessas Câmaras Municipais.
O levantamento realizado em junho deste ano pela ONG Girl Up Brasil revela a baixa participação da juventude na casa legislativa que costuma ser porta de entrada para jovens na política, tanto pela idade quanto pela proximidade com pautas do dia a dia da cidade.
“Temos uma das maiores populações jovens do mundo e esses espaços democráticos não refletem isso, é uma falha de representatividade”, diz Daniela Costa, gerente de redes e advocacy da Girl Up Brasil, organização que apoia meninas pela igualdade de gênero.
Das 26 capitais, 15 não têm representantes jovens nas Câmaras. Belém tem 4, Maceió tem 3 e Teresina tem 2 —único caso com mais de uma mulher jovem entre os vereadores.
Municípios como Rio de Janeiro (RJ), Florianópolis (SC), Curitiba (PR), Campo Grande (MS) e Salvador (BA) não têm nenhum político com menos de 30 anos. Também não há jovens presidindo Câmaras Municipais. A análise leva em conta o Estatuto da Juventude, que considera jovem o cidadão com menos de 30 anos.
Em março, a Folha mostrou que nenhuma mulher preside as Câmaras Municipais brasileiras. Entre essas cidades, a Câmara mais feminina é a de Florianópolis, com 6 mulheres entre os 23 vereadores, resultando em 26% de representação feminina.
Outro levantamento mostrou ainda que mulheres chefiam só um quarto das secretarias municipais em 26 capitais brasileiras. Apenas em uma cidade, Natal (RN), elas ocupam pelo menos 50% dos cargos. Na piauiense Teresina, há somente uma mulher nesse posto.
O cenário legislativo dá uma pista do que se vê no Executivo: só há 3 prefeitas nas capitais (11% do total) e um prefeito com menos de 30 anos —João Campos (PSB), 30, que chegou ao cargo com 27 anos no Recife (PE).
“A gente vê no ano eleitoral como a violência política de gênero cresce, então as mulheres acabam entrando mais tarde, quando se sentem preparadas para enfrentar essas barreiras”, afirma Costa.
À margem das estatísticas está a deputada federal Dandara Tonantzin (PT). Vereadora mais votada em 2018 para a Câmara Municipal de Uberlândia (MG), aos 26 anos, chegou ao Congresso Nacional aos 28. Elenca inúmeras barreiras enfrentadas como mulher jovem, negra e periférica.
“É comum que um parlamentar branco, com mais idade, fale a mesma coisa que eu e seja aplaudido e elogiado. Preciso pedir para um amigo respaldar minha fala para que eu seja considerada”, diz Dandara, 30.
Ela conta que, mesmo eleita, teve dificuldades para assumir espaços estratégicos —entre eles, a vice-liderança da bancada do PT na Câmara Federal.
“Tenho que provar dez vezes mais minha capacidade de articulação política. Perguntam de onde venho, se tenho sobrenome ou padrinho, e atribuem meu capital político a uma tal sorte.”
Pré-candidata à prefeitura de Uberlândia neste ano, Dandara diz que há preconceito geracional que limita a juventude a crescer em espaços de poder e que leva, inclusive, a alguns desistirem da política.
“Quantos jovens presidem comissões ou casas legislativas? Quantos são relatores de matérias importantes?”, indaga. E pede: “Parem de me chamar de menina, sou uma mulher de 30 anos”, ao que atribui ser estratégia para diminuí-la politicamente.
O deputado federal Amom Mandel (Cidadania), mais votado no Amazonas em 2022, enfrenta no Congresso Nacional as mesmas barreiras geracionais com que teve que lidar na Câmara Municipal de Manaus, quando foi eleito aos 19 anos e com um segundo no horário eleitoral.
“É uma dificuldade de ser levado a sério, de ser tratado como igual”, diz ele, aos 23 anos e pré-candidato à prefeitura manauara.
Amom quer ser o prefeito mais jovem da história —e brinca com o apelido dado a ele pelos adversários: “O ‘menino de vó’ é muito querido pela terceira idade, não vão me tirar do sério com isso.”
Para ele, a melhor maneira de enfrentar o preconceito geracional e a “sensação de não pertencimento” é com políticas para inclusão da juventude na política, como programas que aproximam meninos e meninas do dia a dia dos órgãos públicos, inclusive com simulações do que é a atividade parlamentar.
“A gestão pública no Brasil está no século 20, enquanto as tecnologias estão no século 21. Precisamos de mais jovens no poder, de novas ideias e sem medo de inovar”, afirma Amom.
Segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o eleitorado jovem voltou a cair em 2024 no Brasil, apesar do aumento significativo em 2022, com campanhas pelo primeiro voto, como a “Seu Voto Importa”, liderada pela Girl Up. Cerca de 2,2 milhões de jovens entre 16 e 17 anos têm título de eleitor, número abaixo dos 2,5 milhões registrados em 2022.
A ONG lidera uma coalizão de organizações da sociedade civil para avançar com o projeto Juventude Eleita, que propõe cota mínima de 10% das candidaturas para pessoas com menos de 30 anos.
“Em um sistema eleitoral adultocêntrico e excludente, eleição após eleição, poucos jovens são eleitos”, diz Daniela Costa. “Sem intervenções concretas, a tendência é a manutenção ou piora desse quadro, que é ainda mais grave para juventudes negras, indígenas, quilombolas, LGBTQIA+, e para as meninas”, completa.
O gabinete de Dandara Tonantzin protocolou, na última semana, requerimento para mesa diretora da Câmara pedindo uma audiência pública para tratar da participação da juventude na política.
“Não é um racha”, diz Dandara. “Respeitamos e reverenciamos aqueles que vieram antes de nós, mas lideranças jovens precisam ser fortalecidas.”
*GABRIELA CASEFF/folhapress
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