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Educação e Ciência
Foto: Jardiel Carvalho/Folhapress
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Há 15 anos, era difícil imaginar idosos e crianças pequenas navegando com tanta familiaridade no mundo digital. Hoje, quase todos carregam um universo de informação no bolso. Os smartphones chegaram até a população —a educação digital, não.
É comum esbarrar em uma notícia, imagem ou vídeo claramente falso, mas que muita gente considera verdadeiro. A cultura digital mudou a forma de aprender, debater e consumir informação.
Para professores, essa transformação abriu uma questão urgente: como formar cidadãos capazes de interpretar o mundo, filtrar conteúdos e argumentar com autonomia? A discussão sobre educação, letramento digital e pensamento crítico é uma das principais apostas para o tema da redação do Enem 2025.
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POR QUE O EIXO É IMPORTANTE
Em 2025, o MEC (Ministério da Educação) determinou que escolas incluam educação digital e midiática nos currículos. O Conselho Nacional de Educação fixou 2026 como prazo para implantação. A mudança ocorre em paralelo à lei que restringe o uso de celulares por alunos em sala de aula.
O eixo que especialistas apontam para a redação do Enem reúne três frentes: qualidade da educação, letramento digital e responsabilidade cidadã. A pauta vai do combate à desinformação até a exclusão digital, que ainda impede milhões de acessar conteúdos básicos e se orientar nesse ambiente.
O debate sobre o uso ético da tecnologia e o combate à desinformação virou parte da formação. A responsabilidade diante de discursos de ódio nas plataformas digitais dialoga com direitos humanos, democracia e cidadania digital.
No campo da educação, o eixo exige capacitação de professores e mudança curricular para desenvolver habilidades críticas, digitais e criativas.
Para os docentes ouvidos pela Folha, a escola não pode ignorar o lugar onde as pessoas se informam. Dados da SaferNet mostram aumento nas denúncias de discurso de ódio e desinformação na internet. Nas redes, boatos circulam com mais velocidade que conteúdos educativos.
Segundo Maria Aparecida Custódio, professora de redação do Objetivo, o combate às fake news não passa apenas por regulamentação das plataformas, mas por formação. “O combate à desinformação se faz com o desenvolvimento do pensamento crítico”, afirma.
Além do uso crítico, o eixo envolve inclusão. Para Gabrielle Cavalin, coordenadora de redação do Poliedro, a falta de acesso aos meios digitais mantém desigualdades invisíveis e por isso pode aparecer no Enem.
COMO O TEMA PODE APARECER NA REDAÇÃO
Para a maioria dos professores ouvidos pela reportagem, o Enem não deve abordar regulação de mídias. O foco será a formação digital do cidadão e estratégias para combater a desinformação.
Confira possíveis abordagens indicadas pelos educadores:
Tema sugerido – Escola/curso preparatório
Caminhos para a reestruturação do modelo educacional brasileiro na era digital – Alpha CEM
Desafios para a formação do pensamento crítico como ferramenta para filtrar informações – Objetivo
Educação digital como forma de combater a desinformação – Objetivo
Inclusão digital como pré-requisito para a educação digital – Objetivo
Desafios relacionados à falta de alfabetização ou letramento digital dos idosos – Bernoulli
O analfabetismo no século 21: barreiras para uma educação plena – Anglo
COMO ESTUDAR O TEMA
Segundo Sousa Nunes, professor do colégio Farias Brito, a prova não avalia apenas técnica. “Ler jornais, acompanhar debates públicos, ter contato com literatura, artes e ciências sociais é fundamental.” O objetivo é que o estudante escreva com repertório próprio, e não reproduza modelos.
A seguir, conceitos e referências úteis para a redação:
Conceitos-chave
– Letramento digital – Capacidade de navegar, avaliar fontes e interpretar conteúdos online.
– Pensamento crítico – Analisar informações, identificar argumentos e evitar manipulações.
– Desinformação – Conteúdo enganoso que provoca confusão e influencia decisões públicas.
– Exclusão digital – Falta de acesso à internet ou a dispositivos, limitando participação e aprendizado.
– Cidadania digital – Postura ética no uso das redes, com respeito a direitos humanos e diversidade.
Leituras e referências culturais sugeridas
– Edgar Morin – Sociólogo e pensador da complexidade; defende a educação voltada ao pensamento crítico e criativo; Ele conversou com o jornal em 2019.
– “A Máquina do Ódio: Notas de uma Repórter sobre Fake News e Violência Digital” (Patrícia Campos Mello) – O livro da repórter da Folha mostra como o meio digital é manipulado por líderes políticos e seus gabinetes para disseminar desinformação.
– “A Era do Capitalismo de Vigilância” (Shoshana Zuboff) – A obra debate como o que consumimos no mundo online manipula comportamentos. Contrapõe a visão de uma internet neutra, como esta entrevista ajuda a entender.
– Brexit: The Uncivil War (Toby Haynes) – O filme retrata como dados pessoais e desinformação podem orientar decisões coletivas, mostrando a urgência de educação digital e pensamento crítico para evitar manipulação. Leia a crítica.
O QUE EVITAR
Professores alertam que é comum o candidatos usar, nesse eixo, expressões como “negligência estatal”, “omissão da sociedade” ou “falta de investimento”, mas, segundo Sidneya Azevedo, professora do colégio Bernoulli , o Enem busca autenticidade. Ela diz que o texto precisa ter “a digital do estudante”.
Outro erro frequente é inventar dados estatísticos para “encher” o argumento. “Os corretores vão checar”, diz Azevedo. Também há risco em propor a criação de uma nova lei. Professores lembram que já existem normas sobre inclusão digital e acessibilidade; o que o corretor espera é que o aluno apresente ações possíveis dentro do que já está previsto.
Além disso, o candidato deve evitar deixar lacunas argumentativas —quando afirma algo sem explicação ou causa. Na prática, textos assim geram dúvidas como “por quê?”, “como isso funciona?” ou “qual o impacto?”. O texto precisa ser autossuficiente.
Este é o sexto de uma série de textos que abordam as principais apostas para o tema da redação do Enem 2025. Elas foram reunidas em oito eixos temáticos, serão detalhados com dicas de educadores sobre o motivo da escolha, como se preparar, possíveis abordagens e erros a evitar durante o estudo e a realização da redação.
*GUSTAVO GONÇALVES/foilhapress
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