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Educação e Ciência
Foto: Bruno Peres/Agência Brasil/Arquivo
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Depois da pandemia, saúde virou palavra-chave. Físico, mental ou estético, o cuidado de si ganhou importância. Mas como se manter saudável em um cenário que mistura doenças, vícios e pressão? É nesse contexto que cursinhos e escolas identificam um novo eixo para as redações do Enem 2025: corpo, saúde e comportamento.
De acordo com Rafael Cunha, professor de redação da plataforma Descomplica, doenças e problemas que pareciam distantes da nossa realidade se tornaram —ou voltaram a ser— muito próximos.
Cresceram o vício em apostas e o consumo de substâncias como drogas, cigarro eletrônico e álcool. Pessoas lidam com novos riscos, enquanto doenças já conhecidas continuam a avançar.
Em paralelo, nas redes sociais, multiplicam-se vídeos que exibem corpos definidos, rotinas de academia, dietas e desafios de disciplina. A estética virou meta. A vida fitness ganhou status de estilo de vida e de negócio.
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POR QUE O EIXO É IMPORTANTE
Para os educadores ouvidos pela Folha de S.Paulo, esse eixo ganha força nesta edição porque reflete dilemas atuais que atravessam o cotidiano dos brasileiros e têm impacto direto na saúde pública, no comportamento e na economia.
Segundo David Gonçalves da Silva, professor de redação da Plataforma AZ, os últimos anos mostram essas temáticas estão intimamente relacionadas a problemas sociais flagrantes, cuja intervenção envolve diversos aspectos constitutivos do país.
O tema das apostas ganhou machetes após a CPI das Bets e o avanço do transtorno do jogo. Desde 2020, o número de pessoas atendidas por dependência em apostas (ludopatia) na rede pública cresceu sete vezes, segundo dados do SUS (Sistema Único de Saúde). O aumento entre mulheres é maior do que entre homens.
As ameaças à saúde física também reforçam a importância do eixo. De acordo com relatório do Unicef, fundo das Nações Unidas para a infância, a obesidade superou a desnutrição como a forma mais prevalente de má nutrição em 2025, afetando 1 em cada 10 crianças e adolescentes em idade escolar e colocando-as em risco de doenças graves.
Para os professores, a vulnerabilidade e a desinformação são fatores centrais desse debate. Jovens estão mais expostos a comportamentos de risco —como o uso precoce de substâncias, o vaping e as apostas— enquanto o avanço das fake news alimenta a hesitação vacinal e enfraquece políticas públicas de saúde.
Por isso, o eixo não se limita a hábitos individuais, mas abrange problemas coletivos que exigem análise crítica e propostas de solução. Ao tratar de temas ligados à corpo, saúde e comportamento, o Enem mantém a tradição de cobrar reflexões sobre cidadania, desigualdade e bem-estar social.
COMO O TEMA PODE APARECER NA REDAÇÃO
O Enem sempre parte da premissa de que há um problema social. O candidato deve analisar causas, consequências e soluções.
Confira possíveis abordagens indicadas pelos educadores:
Tema sugerido – Escola/curso preparatório
As consequências sociais do vício em apostas no Brasil – Poliedro
Impasses na busca pela perfeição estética – SESI
Doping nos esportes – Colégio Politécnico da UFSM
Desafios sociais e de saúde pública relacionados ao consumo de substâncias no Brasil – Descomplica
Desafios para o enfrentamento da gravidez precoce e IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis) na adolescência brasileira – Descomplica
Desafios para o enfrentamento da obesidade infantil no Brasil – Bernoulli
A regulamentação dos jogos (bets) e seus impactos sociais e econômicos – Bernoulli
Desafios para o enfrentamento da hesitação vacinal no Brasil – Bernoulli
Os desafios no enfrentamento da dependência química no Brasil – Plataforma AZ
COMO ESTUDAR O TEMA
Para o professor Sousa Nunes, do colégio Farias Brito, o Enem cobra mais do que domínio técnico. Ele destaca a importância de ler jornais, acompanhar debates e se aproximar da literatura, das artes e das ciências sociais. A ideia é que o aluno escreva com base em um repertório próprio, e não apenas repita fórmulas.
A seguir, conceitos e referências úteis para a redação:
Conceitos-chave
– Saúde integral – Entendimento de que o bem-estar envolve dimensões física, mental, emocional e social, e depende tanto de escolhas individuais quanto de condições coletivas, como acesso a serviços públicos e informação de qualidade.
– Vício e dependência – Relação de compulsão e perda de controle diante de substâncias ou comportamentos (como drogas, álcool, cigarro eletrônico e apostas), associada a fatores sociais, psicológicos e econômicos.
– Estética e corpo – Valorização da aparência física e dos padrões de beleza, intensificada pelas redes sociais e pela cultura fitness, que pode gerar pressões, frustrações e práticas nocivas à saúde.
– Desinformação em saúde – Circulação de fake news e discursos pseudocientíficos que interferem em decisões individuais (como a hesitação vacinal) e enfraquecem políticas públicas de prevenção e cuidado.
– Saúde pública e desigualdade – Desafios estruturais do sistema de saúde e da distribuição desigual de recursos e oportunidades, que agravam vulnerabilidades e dificultam o acesso a tratamentos e informação.
Leituras e referências culturais sugeridas
– Constituição Federal de 1988 (Art. 196) – Define a saúde como “direito de todos e dever do Estado”, base para discutir políticas públicas e desigualdade no acesso a tratamentos e prevenção.
– Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas) – Marco legal sobre o uso e o combate às drogas, que também prevê medidas educativas e de reinserção social, útil para debater dependência e políticas de saúde.
– “O Mito da Beleza” (Naomi Wolf) – Obra para compreender como padrões estéticos e pressões sobre o corpo feminino se consolidaram como forma de controle social.
– “Sociedade do Cansaço” (Byung-Chul Han) – Ensaio sobre como a busca constante por produtividade e autocuidado transforma o corpo e a mente em objetos de desempenho e cobrança.
O QUE EVITAR
Ao abordar temas de grande apelo social, como os relacionados ao corpo, à saúde e ao comportamento, especialistas alertam que o candidato não deve inventar dados. Estatísticas irreais sobre doenças, vícios ou hábitos da população reduzem a credibilidade do texto e podem ser facilmente identificadas pelos corretores.
Também é preciso cuidado para não simplificar problemas complexos. Questões como dependência química, obesidade ou transtornos alimentares envolvem fatores sociais, psicológicos e econômicos, e não podem ser explicadas apenas por “falta de força de vontade” ou “influência das redes sociais”.
Os professores dizem que opiniões puramente pessoais, desconectadas da dimensão social do tema, comprometem a redação. Para ter bom desempenho, o estudante deve demonstrar consciência coletiva e senso crítico, articulando os desafios individuais da saúde com seus impactos sociais, econômicos e culturais.
Este é o último de uma série de textos que abordam as principais apostas para o tema da redação do Enem 2025. Elas foram reunidas em oito eixos temáticos, detalhados com dicas de educadores sobre o motivo da escolha, como se preparar, possíveis abordagens e erros a evitar durante o estudo e a realização da redação.
*GUSTAVO GONÇALVES/folhapress
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