Economista explica tarifaço de Trump e impactos sobre o Brasil

O economista e professor Johnatan Brito analisou nesta quinta-feira (07), no quadro “O bê-a-bá da economia”, da Rádio Caturité FM, os desdobramentos da política econômica do governo dos Estados Unidos sob o comando de Donald Trump, especialmente no que se convencionou chamar de tarifaço — uma série de sobretaxas aplicadas unilateralmente a produtos importados, incluindo os brasileiros.

Segundo Brito, o tarifaço é resultado direto de uma estratégia de recomposição fiscal norte-americana, que começou com justificativas políticas e chegou à economia.

“Trump acusa outros países de gerarem déficits comerciais para os EUA. Ou seja, ele diz que os Estados Unidos estão perdendo dinheiro ao negociar com outras nações. Mas os dados mostram o contrário”, afirmou o professor.

O economista destacou que a carta enviada pelo governo americano ao Brasil possui, nos dois primeiros parágrafos, um tom claramente político, tentando influenciar decisões internas do país.

“É uma tentativa de intervenção na soberania brasileira. No terceiro parágrafo, ele entra na economia — mas usando falácias. Trump afirma que há prejuízo na balança comercial com o Brasil, quando, na verdade, os EUA acumulam superávits expressivos nos últimos anos”, pontuou.

Brasil tem a maior sobretaxa do mundo: 50%
Johnatan Brito explicou que, apesar de diversos países terem sido atingidos pela medida, o Brasil lidera o ranking da sobretaxa, com 50% de tarifa sobre diversos produtos exportados. “Ninguém sabe de onde ele tirou esse número. Não houve negociação, nem justificativa técnica. Foi uma decisão unilateral que nos atinge fortemente”, criticou.

Produtos como café, calçados, carne bovina e outros itens agropecuários estão entre os mais afetados. No entanto, algumas exceções foram feitas de forma considerada “conveniente” pelo professor: “O suco de laranja, que tem alto consumo nos EUA, e os aviões da Embraer, que emprega muitos americanos, foram retirados da lista”.

Impactos para o Brasil
Entre os possíveis efeitos da medida, Brito comentou que o mercado interno brasileiro poderá registrar queda nos preços de produtos como o café, devido ao excedente de oferta. Já a economia paraibana, embora envolvida com exportação de calçados, não deve sentir grandes impactos, segundo o economista, devido ao volume ainda pequeno de vendas para o mercado norte-americano.

O professor também chamou atenção para a reação de setores que sempre apoiaram politicamente a direita brasileira, como o agronegócio, que agora se vê diretamente prejudicado pela medida.

“O agro que apoiou, agora está sendo atingido. É o efeito de se misturar economia com geopolítica de forma desequilibrada”, finalizou.