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A crise dos preços dos ovos vai além do período de maior demanda na Páscoa e de mutações do clima. É um fenômeno internacional puxado pelos Estados Unidos, Europa e Ásia.
Essas regiões vivem uma fase aguda da gripe aviária, o que tem reduzido o número de poedeiras, diminuído a produção de ovos e gerado uma necessidade maior de importação, o que mexe com os preços internacionais.
Até o Brasil, que mantém internamente 99% de sua produção, está entrando com mais força no mercado internacional. Nos dois primeiros meses deste ano, o país exportou 4.884 toneladas de ovos, 38,2% a mais do que em igual período de 2024.
O ritmo das exportações é crescente, com as vendas externas de fevereiro atingindo 2.527 toneladas, 57,5% a mais do que em igual mês do ano passado. Os principais compradores do Brasil em fevereiro foram Emirados Árabes e Estados Unidos, ambos com volume superior a 500 toneladas cada um, segundo a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).
O cenário mais grave no setor é o dos Estados Unidos. Desde o retorno da doença ao país, em 2022, os americanos já perderam 166,4 milhões de aves por morte ou necessidade de abates devido à gripe aviária.
Em todo início de ano as esperanças são que a situação melhore, mas não é o que acontece. Donald Trump recebeu o governo com um quadro extremamente complicado nesse setor, e a primeira medida que tomou foi mandar embora cientistas e funcionários que tentavam pôr um fim ao avanço da gripe aviária no país.
A alta dos preços dos ovos e a preocupação com a inflação fizeram o governo voltar atrás e buscar novamente esses funcionários. Assim como Joe Biden havia investido US$ 800 milhões em 2024 para controlar a gripe aviária, que migra das aves para o gado leiteiro, Trump prometeu US$ 1 bilhão para o setor.
Os números são alarmantes. Apenas nos dois primeiros meses deste ano, os Estados Unidos perderam 30,1 milhões de poedeiras pela doença. Esse número representa 8% do total de 375 milhões de aves destinadas à produção de ovos no país.
Esse quadro de desajuste interno nos Estados Unidos ocorre em um momento em que o consumo per capita de ovo vinha subindo. O resultado são preços recordes, que atingiram, em casos excepcionais, a US$ 13 (R$ 75) por dúzia no varejo.
Os dados desta quarta-feira (12) do U.S. Bureau of Labor Statistics indicam que o ovo mantém forte pressão no bolso do consumidor. Os preços subiram, em média, 12,5% no mês passado, após ter tido alta de 15,2% em janeiro. Nos últimos 12 meses, essa proteína está 59% mais cara para os americanos.
Com a queda no número de poedeiras, a produção de ovos dos Estados Unidos deve recuar para 8,9 bilhões de dúzias, se a gripe aviária não avançar ainda mais pelo setor.
Antes da ocorrência da doença, a produção chegava a 9,4 bilhões.
A redução da produção mexe com os preços no campo. Em 2019, a dúzia de ovos era negociada a US$ 0,80, valor que atingiu US$ 2,39 no primeiro ano da volta da gripe aviária e chegou a US$ 4 no ano passado.
Diante do cenário atual, o Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) revisou todos os dados do setor. Conforme estimativas desta terça-feira (11), a produção fica abaixo dos 9 bilhões de dúzias neste ano, e as importações sobem para 67 milhões de dúzias, 125% a mais do que no ano passado. O consumo desacelera forte e vai para 266 unidades per capita. Em 2019, chegou a 293.
A situação atual força os Estados Unidos a exportar menos e a importar mais. Em 2019, as importações somavam 124 mil toneladas. No ano passado, o volume subiu para 172 mil e, para 2025, os planos do governo são de uma compra de pelo menos 100 mil toneladas rapidamente para reduzir os preços internos.
Os principais fornecedores de ovos para os Estados Unidos são México, Canadá e Turquia. No estilo Trump, no entanto, esses exportadores já prometeram que, para resguardar a oferta interna, podem colocar barreiras nas exportações para os americanos.
A União Europeia, com a gripe aviária espalhada por seus principais países produtores, também registra forte elevação de preços e importação maior. Os países do bloco, com 387 milhões de poedeiras, produzem 6,8 milhões de toneladas de ovos por ano.
No ano passado, conforme dados disponíveis até novembro, as importações feitas pela União Europeia subiram para 111 mil toneladas, 32% a mais do que em igual período de 2023.
Desde 2021, quando a doença foi intensificada, os europeus buscaram 224% mais ovos no mercado externo. Assim como os Estados Unidos, a União Europeia também exporta, mas o volume cresceu apenas 60% no mesmo período.
O preço dos ovos de galinhas em gaiolas, os mais baratos, teve alta de 61% nos últimos quatro anos, subindo para EUR 238 por 100 kg, medida adotada pelos europeus. O orgânico foi a EUR 424.
A Austrália também busca recompor o número de poedeiras e garantir o consumo per capita, que está em 266 ovos, o maior em dez anos. O preço dos ovos teve aumento de 33% neste ano.
A China, ao somar 613 bilhões de ovos, lidera a produção mundial. Índia, Estados Unidos e Indonésia vêm a seguir. Em quinto lugar está o Brasil, com 60 bilhões de ovos.
Apesar de participar pouco do mercado externo e não ter a presença da gripe aviária, o Brasil não fica imune à elevação dos preços. Em fevereiro, o preço dos ovos subiu 15% para o consumidor, acumulando 18% no ano, segundo a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
*MAURO ZAFALON/Folhapress
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