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O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) ativou a operação de três linhas de transmissão e uma subestação de energia na semana passada para ampliar a capacidade de escoamento de energia do Nordeste para o restante do país, em especial o Sudeste, onde está concentrada a maior demanda de eletricidade. As estruturas estão localizadas no Ceará.
O anúncio do ONS -antecipado pelo jornal “Valor Econômico”- tenta, de certa forma, amortecer a pressão de empresas geradoras de energia renovável, que nas últimas semanas aumentaram as críticas à estratégia do Operador de cortar a geração de energia em parques do Nordeste.
A prática, conhecida como curtailment, busca evitar uma produção de eletricidade maior do que a demanda do país e acima da capacidade máxima de escoamento das atuais linhas de transmissão da região.
Esse procedimento já era comum no setor, mas se intensificou após o apagão do ano passado. A partir do evento, o ONS estabeleceu novos limites de intercâmbios de energia entre as diferentes regiões do país, a fim de garantir maior segurança ao sistema elétrico.
Mas, como a Folha de S.Paulo mostrou no mês passado, empresas de geração de energia eólica e solar têm cobrado do governo o ressarcimento pelos cortes de energia, em especial daqueles parques do Ceará e Rio Grande do Norte.
As empresas do setor pedem na Justiça uma fatura que já chega a R$ 1,2 bilhão, o que pode onerar ainda mais os consumidores de energia. Segundo a Abeeólica, o corte de geração entre agosto e setembro foi equivalente a três meses de geração de energia da hidrelétrica de Itaipu.
As empresas de renováveis afirmam que, como não são responsáveis pelos cortes, devem ser ressarcidas pela perda de receita. Mas a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) entende que a regulamentação não prevê ressarcimento nesse caso.
Relatório divulgado na semana passada pelo Itaú BBA estima de, no terceiro trimestre, os cortes afetaram 13,5% da capacidade de geração eólica e 17,5% da capacidade de geração solar do país, com forte concentração no Ceará, epicentro do apagão de 2023.
A empresa mais prejudicada no período foi a Equatorial, com cortes equivalentes a 30,6% de sua capacidade de geração. Em segundo lugar, vem a CPFL, com 21,7%.
De acordo com o ONS, o acréscimo no escoamento de energia do Nordeste para o Sudeste e Centro-Oeste será de cerca de 12%, com os índices saindo dos atuais 11.600 MW (megawatts) para 13 mil MW. Já a carga exportada do Nordeste para o Norte poderá ser aumentada em quase 30%, avançando do patamar de 4.800 MW para 6.200 MW.
Os valores, segundo o Operador, voltam ao patamar anterior ao apagão. Deve ainda entrar em operação até o final de outubro uma linha de transmissão na Bahia -todos os empreendimentos foram adquiridos em leilão de 2018.
O assunto foi um dos mais comentados nesta terça-feira (22) durante um evento organizado pela indústria do setor eólico em São Paulo. Nele, executivos e representantes do governo federal defenderam uma solução rápida para os cortes.
“Temos que tratar esse assunto como um assunto de 2024, ele não pode se propagar nos próximo anos […]. A gente entende que às vezes há uma política de segurança a todo custo, mas mesmo que se aplique uma política de segurança da operação do sistema a qualquer custo, isso não pode ser ao nosso custo; tem que ser devidamente negociado”, afirmou Fernando Elias, presidente do Conselho de Administração da Abeeólica, na abertura do evento.
Acompanhavam a fala dele, por exemplo, o secretário nacional de Transição Energética e Planejamento do Ministério de Minas e Energia, Thiago Barral, um dos maiores especialistas no tema dentro do governo federal. Ele já tratava sobre o tema em 2021, quando ainda era presidente da EPE (Empresa de Planejamento Energético).
Também presente no evento, a presidente da Abeeólica, Elbia Gannoum, celebrou o anúncio do ONS. “Isso muito nos ajuda neste momento muito frágil que estamos vivendo, que são os cortes de geração que estão acontecendo no Nordeste”, disse.
“A gente sabe que o corte de geração é uma característica das economias que fizeram uma forte expansão em energias renováveis não despacháveis, como eólica e solar, e o mundo inteiro está tentando buscar soluções para isso, e nós vamos trazê-las”, acrescentou.
Em comunicado divulgado nesta terça, o ONS diz que as novas linhas “são uma etapa a mais no equacionamento dessa questão”.
O próprio operador, porém, alerta para o risco de desequilíbrio no sistema com a sobreoferta de energias renováveis nos próximos anos.
Em documento divulgado no início do mês, diz que pode não dar conta de gerenciar toda a geração renovável em horários de muito sol e dias de pouco consumo e pede que as distribuidoras invistam para poder cortar também geração distribuída, aquela gerada no ponto de consumo ou próximo dele.
Para especialistas, a solução para esse problema passa pela introdução de baterias para armazenar energia no sistema elétrico brasileiro.
*PEDRO LOVISI/folhapress
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