ONS: energia solar ameaça segurança do setor elétrico

O ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) voltou a alertar sobre a necessidade de medidas para reduzir riscos à segurança do setor elétrico provocados pelo crescimento desordenado da geração distribuída de energia no país.

Em seu planejamento de médio prazo da operação, divulgado nesta terça-feira (16), o operador vê risco de colapso já em 2026, em função da falta de flexibilidade para reduzir a geração controlável em momentos de elevada geração solar e menor demanda por energia.

A capacidade instalada de micro e minigeração distribuída (MMGD), os painéis instalados sobre telhados ou em pequenas fazendas solares, já supera 43 GW (gigawatts), o equivalente a quase 20% de toda a capacidade de geração de energia no país.

Segundo o ONS, deve chegar a cerca de 65 GW até 2030, respondendo por um quarto da capacidade de geração de energia no país.

O excesso de energia quase provocou colapso no sistema no dia 10 de agosto. Às 13h05 daquele dia, a MMGD geração respondia por quase metade da demanda e o ONS teve que desligar todas as eólicas e solares de grande porte para evitar sobrecarga no sistema.

Com o crescimento previsto da capacidade dessa fonte de geração, é grande a possibilidade de que o corte de geração centralizada, aquela sobre a qual o ONS tem controle, não seja suficiente.

“A expansão da geração distribuída, que atualmente não tem controlabilidade, pode acarretar desequilíbrio entre carga e geração, especialmente em dias de demanda elétrica reduzida”, diz o operador.

“Caso nenhuma ação seja tomada, esse desequilíbrio pode comprometer a estabilidade de frequência do SIN [Sistema Interligado Nacional].”

No planejamento de médio prazo, o operador estima que a situação pode ficar fora de controle por até sete dias em 2026. Em 2029, o número de dias em risco chega a 12. Uma das soluções apontadas: reduzir o uso de térmicas para abaixo dos níveis de inflexibilidade contratual, ajuda mas não resolve.

“Observa-se uma tendência de aumento do número de dias com risco de perda de controlabilidade ao longo do horizonte de estudo, independentemente do despacho da geração térmica, decorrente do fato de a expansão da MMGD superar o crescimento da demanda do sistema”, diz o documento.

Reduzir o uso de térmicas garante segurança em 2026, indica o operador, mas ainda há risco de perda de controle da situação nos anos seguintes.

“Em cenários em que o crescimento da demanda seja inferior ao projetado ou em que a expansão da MMGD mantenha um ritmo acelerado e ultrapasse as previsões”, diz o operador, “os riscos associados podem se elevar de forma significativa”.

“Nessas condições, medidas emergenciais, potencialmente mais complexas e onerosas, poderão se tornar recorrentes para assegurar a confiabilidade da operação do SIN.”

O ONS vem alertando desde ao menos 2024 sobre o risco da expansão descontrolada da MMGD, beneficiada por subsídios que já deveriam ter sido extintos, mas vêm sendo estendidos por lobbies no Congresso Nacional.

O governo vem trabalhando em medidas para tentar minimizar o problema, como leilões de armazenamento de energia e a implantação de um sistema que permita cortar também a MMGD em cenários de sobre oferta.

A implantação de preços horários de eletricidade é outra alternativa, ao fomentar o deslocamento do consumo para horários de maior geração. No planejamento divulgado nesta terça, porém, o ONS diz que o diagnóstico mostra que é preciso mais.

“Será fundamental racionalizar políticas públicas, incentivos e subsídios, de modo que a expansão futura da oferta, sobretudo solar (centralizada e distribuída) não continue avançando em ritmo superior ao crescimento da carga”, afirma.

*NICOLA PAMPLONA/folhapress