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Foto: Allison Sales/Folhapress
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O cuidador de idosos no Brasil é predominantemente mulher, 92,1%, e está na faixa etária de 36 a 55 anos.
O crescimento da ocupação em uma década, intensificado pela pandemia de Covid-19, ocorre em um cenário de informalidade que desafia tanto a qualificação quanto a segurança dos cuidadores e dos idosos.
Esse é o perfil traçado em uma pesquisa conduzida pela MasterCare e o Movimento Nacional pelos Cuidadores, Cuidados e Longevidade, que entrevistou 2.568 cuidadores entre 2020 e 2021 por meio de questionário online, buscando compreender as dimensões, necessidades e oportunidades de aprimoramento do cuidado domiciliar no país.
O fato de a profissão ser majoritariamente feminina reflete aspectos culturais que atribuem o cuidado às mulheres, muitas vezes de forma compulsória e naturalizadora, afirma Márcia Vieira, fundadora da MasterCare e idealizadora do Congresso Nacional de Cuidadores, Cuidados e Longevidade (Conacare). Segundo o levantamento, os homens representam apenas 7,7% dos cuidadores.
Mais de 40% dessas profissionais são responsáveis pelo sustento completo da família, e 72% dos cuidadores têm filhos.
Um perfil comum é o de trabalhadoras domésticas que, de um dia para o outro, assumem a função de cuidadoras dos idosos para os quais já trabalhavam. “Elas vêm para a profissão porque também já tiveram essa experiência pessoal”, explica Vieira.
Um dos principais desafios da ocupação, segundo Jorge Roberto, fundador da Associação dos Cuidadores de Idosos de Minas Gerais, é a falta de compreensão sobre o que realmente faz um profissional de cuidado, resultando em desvio de função. “É aquele familiar que confunde o trabalhador que cuida com o trabalhador doméstico tradicional, colocando-o para lavar, passar, cozinhar e fazer tantas outras atividades que não cabem à profissão”, afirma.
Há também a questão da desvalorização dos cuidadores e o problema salarial. O levantamento mostra que a principal aspiração ao trabalhar como cuidador está ligada à segurança e estabilidade material: 62% desejam conseguir casa própria, 10% pagar dívidas, 8% viajar, 6% ter um trabalho estável, outros 6% fazer faculdade, 2% construir uma família e 2% comprar carro.
O estudo se insere em um contexto de envelhecimento populacional recorde no Brasil. A população acima de 60 anos em 2023 atingiu 33 milhões de pessoas no país e a expectativa é que, até 2070, 38% da população seja idosa.
Esse cenário impulsionou a demanda por cuidadores e marcos importantes na área, como a criação da Política Nacional de Cuidados em dezembro de 2024 e a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos em agosto, que reconhece o cuidado como direito. “O cuidado constitui uma necessidade básica, inevitável e universal, da qual depende tanto a existência da vida humana quanto o funcionamento da vida em sociedade”, afirmou a corte.
Vieira percebeu isso a partir de experiência pessoal. Há 13 anos, como filha única cuidando dos pais idosos, teve dificuldades para encontrar cuidadores qualificados. Essa experiência a levou a compreender as lacunas sociais e educacionais nessa área, motivando-a a criar a MasterCare, que oferece capacitação e consultoria para cuidadores.
“Não se pode improvisar com a vida humana”, diz.
A maior parte dos cuidadores, 56%, possui ensino médio completo, mas enfrenta limitações na formação e capacitação continuada. Do total, 71% têm formação na área de cuidado de idosos, 12% são técnicos em enfermagem e 5% auxiliares de enfermagem.
Para Roberto, muitos cursos de baixa qualidade são oferecidos, o que seria mais uma consequência da desvalorização da profissão.
Enquanto a maioria sabe aferir pressão arterial, 89%, uma parcela significativa, 84%, aponta a movimentação do idoso na cama como a maior dificuldade no cuidado. Outros dados mostram que 71% sabem aferir temperatura, 53% frequência cardíaca, 32% saturação de oxigênio, 27% frequência respiratória e 67% já cuidaram de casos de hipertensão arterial.
Tanto Vieira quanto Roberto demonstram otimismo em relação ao futuro da profissão. Para a fundadora da MasterCare, a área representa uma oportunidade próspera de geração de trabalho e renda, especialmente para mulheres, apesar da informalidade ainda ser expressiva. Segundo Vieira, é importante a ação conjunta entre sociedade, governo e profissionais da saúde.
*VITÓRIA MACEDO/folhapress
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