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Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
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Imagine que você fosse ao supermercado em 2006 com R$ 100. Hoje, para comprar os mesmos itens, precisaria de R$ 270. De forma simplificada, isso é a inflação: o aumento geral dos preços ao longo do tempo. Agora, imagine que seu plano de saúde, naquele mesmo ano, custasse R$ 100.
Em 2024, ele estaria em torno de R$ 427. Em porcentagem, significa que o preço dos convênios médicos subiu 327% em 18 anos, quase o dobro da inflação geral do País, que ficou em 170% no mesmo período.
É o que mostram dados recentes de uma nota técnica do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS). O levantamento analisou, ao longo dos anos, as mudanças dos preços na área de “Saúde e Cuidados Pessoais”, uma das categorias descritas no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Calculado pelo IBGE, o IPCA acompanha a variação dos custos dos bens e serviços mais consumidos pelas famílias brasileiras, como saúde, habitação e alimentação. Ele é considerado o principal termômetro da inflação no País.
Assim, o estudo observou o crescimento do custo dos planos no bolso dos brasileiros. Dados do IPCA indicam que, em dezembro de 2006, eles representavam 3,25% do orçamento das famílias com rendimento entre 1 e 40 salários mínimos. Em dezembro de 2024, os planos passaram a ocupar 4,06% da carteira.
O IEPS avalia que o o acesso à saúde suplementar está se tornando cada vez mais oneroso para o orçamento da população – principalmente para os idosos – e das empresas, que costumam oferecer o convênio médico como benefício aos seus funcionários
Por que os planos subiram tanto?
De acordo com o IEPS, o aumento pode ser atribuído a uma soma de fatores, como a incorporação de tecnologias mais caras, reajustes autorizados pelos órgãos reguladores e ineficiências regulatórias.
O estudo também menciona que a população está envelhecendo e vivendo mais, o que significa mais consultas, mais exames e mais tratamentos no longo prazo.
Em nota ao Estadão, a Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) confirma a hipótese. A associação diz que um dos principais fatores a pressionar o reajuste das mensalidades de planos de saúde é a variação dos custos médicos, o que define como “historicamente superior à inflação geral”.
A instituição também aponta que fatores estruturais explicam a aceleração dos preços no mundo, como novas tecnologias cada vez mais caras, bem como o envelhecimento e predominância de doenças crônicas na população.
Ainda segundo a FenaSaúde, há questões particulares e conjunturais do Brasil, como “o aumento contínuo do rol de cobertura obrigatória e a excessiva judicialização, muitas vezes voltada à obtenção de coberturas não previstas nos contratos.”
Brasil está entre países com maior aumento
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) apontou que “é de amplo conhecimento que em vários países os custos em saúde crescem a taxas superiores à variação média dos demais preços da economia”. Nesse cenário, segundo a agência, há a tendência de que uma parcela maior da renda seja comprometida com gastos de assistência à saúde.
O estudo do IEPS confirma essa inclinação, mostrando que os planos de saúde vêm ficando mais caros do que a inflação em várias partes do mundo. Ainda assim, o Brasil se destaca entre os países com os maiores aumentos, superando a inflação geral em maior grau do que em países como Alemanha, França e Estados Unidos.
Ainda de acordo com a ANS, a precificação dos planos de saúde não deve ser comparada diretamente com a inflação geral. Isso porque as mensalidades e reajustes anuais consideram não só o aumento dos preços de insumos e produtos, mas também o quanto os beneficiários usaram os serviços de saúde. Se mais pessoas buscaram atendimento, os custos das operadoras aumentam.
O IEPS justifica que o estudo busca comparar a variação de preços dos planos com outros grupos de produtos e serviços da cesta de consumo do brasileiro.
“Dentro dos componentes do IPCA, buscamos documentar que o subgrupo de ‘planos de saúde’ cresceu mais que o índice de preços e mais do que outros grupos, como alimentação, vestuário e moradia”, diz Vinicius Peçanha, pesquisador do instituto e um dos autores da nota técnica.
No fim das contas, o estudo concluiu que o gasto com as operadoras foi o principal fator de pressão nos custos com saúde e cuidados pessoais dos brasileiros. Outros serviços de saúde também subiram, mas em um ritmo menos acelerado. Por exemplo, os serviços médicos e dentários acumularam alta de mais de 200%.
Para Peçanha, o aumento expressivo nos preços dos convênios médicos pode impactar não só a saúde suplementar, mas também o sistema público de saúde. Na visão do economista, os valores cada vez mais altos podem fazer com que uma parcela da população não possa mais pagar pelo serviço da saúde suplementar.
“Do lado do sistema público, isso pode pressionar ainda mais um sistema que já é subfinanciado, e do lado da saúde suplementar, isso pode afetar a sustentabilidade de alguns planos de saúde”, avalia.
A ANS diz estar buscando mecanismos que possam trazer segurança e sustentabilidade ao mercado, “com a devida manutenção dos serviços e da qualidade do que é ofertado aos consumidores”.
Entre as medidas, menciona que, em outubro do ano passado, levantou uma consulta pública sobre a Reformulação da Política de Preços e Reajustes. No entanto, uma decisão judicial suspendeu o andamento do processo.
Em resposta, a ANS diz que “está adotando as medidas judiciais cabíveis a fim de preservar sua competência de agência legalmente responsável pela regulação do setor de saúde suplementar e seguirá atuando para manter a sustentabilidade do mercado e a prestação desse serviço à população brasileira”.
* Por Layla Shasta (conteudo estado)
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