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Foto: Rede social x/Donald Trump
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O cessar-fogo entre Israel e o Irã começou a valer nesta madrugada de terça (24), mas já sofreu abalos. O patrono do acordo, Donald Trump, disse que ambos os rivais violaram o combinado, mas centrou suas críticas nos aliados em Tel Aviv que recuaram de um ataque maior contra Teerã e suspenderam nova ações.
“Nós basicamente temos dois países que têm lutado há tanto tempo, e tão duramente, que eles não sabem que porra estão fazendo. Você entende isso?”, afirmou irritado sobre os rivais a repórteres na Casa Branca, ao embarcar para a cúpula da aliança militar Otan, na Holanda, onde queria fazer sua “volta da vitória”, vendendo-se como pacificador.
“Eu não estou feliz com o Irã, não estou feliz com Israel”, disse a repórteres, embora tenha focado suas críticas no Estado judeu. “Eu preciso fazer Israel se acalmar. Assim que aceitaram o acordo, eles vieram e lançaram um monte de bombas, algo que eu nunca tinha visto, a maior carga que já vimos”, disse, com o exagero habitual.
Na rede Truth Social, ele havia acabado de publicar: “Israel. Não lance essas bombas. Se fizer isso, será uma grande violação. Traga seus pilotos para casa, agora!”.
Teve sucesso: Tel Aviv cancelou um ataque grande contra Teerã e ordenou a volta de seus caças, limitando-se a bombardear uma estação de radar. Segundo o governo israelense, a decisão foi tomada após Trump ligar para o premiê Binyamin Netanyahu, que prometeu parar os ataques.
A fragilidade do acordo era previsível, e será necessário esperar as próximas horas para ver se estão em curso espasmos naturais de um processo tenso ou a volta às hostilidades abertas, iniciadas na forma atual no dia 13 pelo Estado judeu.
Trump, claro, já tenta tratar o assunto como passado. Publicou depois do recuo israelense um chiste sobre Pequim, aliada de Teerã. “A China agora pode continuar comprando petróleo do Irã. Espero que eles também comprem bastante dos EUA”, escreveu.
Horas antes, quando o arranjo passou a valer, à meia-noite em Washington (1h em Brasília), o presidente havia pedido “por favor, respeitem” o acordo aos beligerantes. Oficialmente, ambos os rivais aceitaram o acordo do americano.
Ele mesmo já havia pulado fora do conflito antes de anunciar a trégua. No sábado (21), um poderoso ataque com bombardeiros B-2 atingiu três instalações nucleares vitais para Teerã. O mundo prendeu a respiração, temendo uma escalada incontrolável.
Mas retaliação dos aiatolás foi meramente simbólica, com 14 mísseis lançados inocuamente contra a maior base do EUA no Oriente Médio, no Qatar. A ação teve aviso prévio a Washington e Doha, exacerbando seu caráter de propaganda para consumo interno do regime iraniano.
Trump se deu por satisfeito, agradeceu Teerã e pediu o fim do conflito, inclusive a Netanyahu. Duas horas depois, foi anunciado o cessar-fogo, que prevê uma pausa do lado de Teerã de 12 horas seguida por outra igual de Tel Aviv. Dando tudo certo, a guerra acaba.
A realidade se interpôs logo antes do início do acordo, com um ataque iraniano matando quatro pessoas em Beersheba, sul de Israel. Segundo Teerã, foi uma última salva de 14 mísseis. Depois da trégua, as forças israelenses registraram dois mísseis vindos do Irã, que fizeram soar alarmes no norte do país.
O governo em Teerã negou ter feito os lançamentos pós-trégua. O belicoso ministro Israel Katz (Defesa) determinou então a retaliação, voltando a dizer que atacaria não só alvos militares, mas também do regime, que gostaria de ver cair pelas mãos de uma oposição ora impotente. Ela foi coibida pela reprimenda de Trump.
O Qatar, que se viu no meio do tiroteio, voltou a se queixar da ação do Irã, pela qual o presidente Masoud Pezeshkian se desculpou com emir Tamim bin Hamad al-Thani.
O governo qatari aproveitou o clima de conversa e disse que é possível fazer avançar um acordo para um cessar-fogo na Faixa de Gaza, algo que tenta mediar com o Egito. A guerra no território controlado pelo Hamas palestino, iniciada com o mega-ataque terrorista de 7 de outubro de 2023, foi o estopim para a série de conflitos que desaguaram no ataque de Israel ao Irã.
As causas fundamentais da desavença entre os rivais seguem em aberto. Se é certo que houve danos significativos a suas instalações nucleares, os 400 kg de urânio enriquecido a 60% que a ONU diz estar nas mãos dos aiatolás seguem a salvo.
Os iranianos podem não ter mais as ultracentrífugas de Fordow, Natanz e Isfahan para elevar a gradação aos 80% necessários para uma ogiva nuclear, mas pode haver outros equipamentos no país, e mesmo com esse enriquecimento é possível criar perigosas bombas sujas que só espalham radiação.
Trump por ora finge que isso não é um problema, insistindo na obliteração do programa iraniano. Já o presidente francês, Emmanuel Macron, disse nesta terça que o assunto ainda depende de negociações, que já vinham ocorrendo entre EUA e Irã antes da guerra.
Essa etapa do conflito matou mais de 610 iranianos e 28 israelenses, segundo os países, deixando milhares de feridos e deslocados internos. Em Israel, a escala de destruição em alguns pontos é sem precedentes.
A trégua de Trump foi desenhada para que todos os envolvidos possam cantar vitória, mas a posição do Irã é a de derrota militar. Israel degradou suas capacidades de defesa antiaérea, e hoje o país está aberto a qualquer ataque pelos céus.
Sua força de mísseis balísticos de médio e longo alcance, estimada em 2.000 armas antes do conflito, teve os sistemas de lançamento bastante afetados pelos bombardeios. Com efeito, as primeiras ondas de retaliação tiveram 220 mísseis, número que caiu a 22 nas últimas, registradas nesta terça.
O país retém suas capacidades de disrupção no Golfo Pérsico e o arsenal de mísseis de curto alcance, mas já não parece ter uma Força Aérea. O acordo estratégico assinado com a Rússia prevê a entrega de caças e sistemas de defesa, mas é incerto o ritmo disso agora.
Na segunda (23), o chanceler iraniano, Abbas Araghchi, foi a Vladimir Putin pedir ajuda. Saiu só com palavras de apoio, repetidas nesta terça pelo porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, segundo quem “a posição da Rússia” já basta. O líder russo precisa continuar com a boa vontade de Trump acerca de sua guerra na Ucrânia.
* IGOR GIELOW (FOLHAPRESS)
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