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Foto: Ascom/Vaticano
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“Hoje é o grande dia”, garantia o empresário carioca George Neder, na praça São Pedro desde a manhã desta quinta-feira (8). Neder não tem fontes no Vaticano, mas fez a mesma previsão que o decano do Colégio de Cardeais, o italiano Giovanni Battista Re. “Espero esta noite a fumaça branca”, disse Re, de manhã, durante a celebração da Súplica à Bem-Aventurada Virgem Maria, na cidade italiana de Pompeia.
Bem informados ou não, os dois acertaram. Às 18h08 (13h08 em Brasília) um público estimado em 50 mil pessoas na praça São Pedro irrompeu em gritos ao ver a fumaça branca sair da chaminé instalada no telhado da Capela Sistina. “Habemus Papam!”, berravam alguns, antecipando as palavras que seriam ditas dali a uma hora.
A praça, que já estava cheia, foi se enchendo ainda mais com turistas e locais correndo pela Via della Conciliazione, que liga o Vaticano à capital da Itália. O alvoroço deu lugar a uma breve perplexidade quando o nome do cardeal eleito foi anunciado.
Os italianos esperavam ouvir Parolin, Zuppi ou Pizzaballa, os três compatriotas que apareciam na lista dos favoritos entre os papáveis, o que traria a Igreja Católica de volta à batuta de um italiano depois de um hiato de 47 anos. “São como os torcedores de três times”, explicava à reportagem o jornalista Giancarlo Giojelli, chefe do escritório da RAI no Oriente Médio.
Por isso, muitos ficaram sem entender as palavras “Robertum Franciscum Prevost”. Uns perguntavam aos outros quem era o novo papa. Depois de anunciado o nome “Leonem decimum quartum”, porém, a multidão começou a gritar “Leone! Leone! Leone!”
“Quando falaram ‘americano’, todo mundo ficou meio assim”, disse o analista de orçamento Raniero Rocca, de mãe brasileira e pai italiano, segurando um cartaz com a bandeira do Vaticano e os dizeres “Viva il papa”. “Mas quando ele se apresentou, foi uma revelação. O italiano dele é perfeito”, elogiou.
Os italianos ouvidos pela Folha na praça São Pedro garantiram que a escolha não os decepcionou, apesar do favoritismo dos cardeais locais. “A ideia de que seria um papa italiano estava forte, mas, como dizemos aqui, quem entra no conclave como papa, sai como cardeal”, lembrou Lorenzo Rosselli, membro da associação leiga Militia Christi.
De fato, a eleição de Leão 14 mais uma vez reforçou a tese de que, assim como em 2013, com Francisco, o clima de “já ganhou” não funciona no altíssimo escalão da Igreja Católica.
Passeando pela praça com o marido e os três filhos, depois que a multidão se dispersou, a romana Angela Loiacono fez coro. “Não, não, não, não estamos decepcionados, absolutamente. Um papa não italiano dá continuidade ao sopro de abertura do papa Francisco. Esperamos que o velho papa ilumine o novo Leão 14.”
Os americanos que se encontravam no Vaticano foram imediatamente assediados por um exército de repórteres -ao todo, há 5.000 credenciados de 90 países no conclave. Nem os jornalistas americanos presentes escaparam. “Uau. Todo mundo lá em Chicago está comemorando”, disse à reportagem Vince Gerasole, veterano apresentador da rede de TV CBS.
“Ele passou a maior parte da carreira fora dos Estados Unidos. Mas saber que um americano virou papa faz as pessoas perceberem que a Igreja é algo tangível no próprio quintal”, acrescentou Gerasole.
Outro americano na praça era o teólogo jesuíta Thomas Reese. Autor de um livro intitulado “Dentro do Vaticano: a Política e a Organização da Igreja Católica”, ele atribuiu a vitória de Prevost à influência dos cardeais da América Latina. “Eles não o veem como um gringo. Enxergam-no como um dos seus. Todos o conhecem”, afirmou.
Para ele, possíveis conflitos de ideias entre o novo papa e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não tiveram influência no conclave. “Os cardeais não se importam com o que Trump pensa”, opinou.
Muitos americanos na praça sabiam pouco sobre o compatriota eleito papa. William, natural de Washington e estudante de administração em Roma, comemorava, enrolado na bandeira americana. “Estou orgulhoso de um papa americano. Não sei muito sobre esse, especificamente, mas espero que ele unifique o planeta.”
*ANDRÉ FONTENELLE/Folhapress
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