Brasil

Ex-vice de Bolsonaro foi preso porque tentou pegar detalhes de delação de Mauro Cid

Da Redação*
Publicado em 14 de dezembro de 2024 às 13:22

braga netto

Foto: Isac Nóbrega/PR

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O general Walter Braga Netto entrou em contato com o pai do tenente-coronel Mauro Cid, o general Mauro Lourena Cid, para conseguir informações sigilosas sobre a delação premiada do militar, diz a Polícia Federal em relatório enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal).

Braga Netto foi preso este sábado (14) sob suspeita de obstrução de Justiça. Segundo a Polícia Federal, o general atuou de forma “reiterada e destacada para impedir a completa identificação dos fatos investigados”.

A defesa do general da reserva não se pronunciou até o momento. Em manifestações anteriores, disse que não poderia se manifestar por não ter tido acesso pleno às investigações.

As suspeitas foram confirmadas pela PF após perícia no celular de Lourena Cid e um novo depoimento de Mauro Cid, em 5 de dezembro. Segundo os investigadores, as tentativas de Braga Netto ter acesso às informações começaram logo após o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) ser solto em setembro de 2023.

“Isso aconteceu logo depois da minha soltura, quanto eu fiz a colaboração naquele período, onde não só ele como outros intermediários tentaram saber o que eu tinha falado”, disse Cid em depoimento à PF.

“Fazia um contato com o meu pai, tentavam ver o que eu tinha, se realmente eu tinha colaborado, porque a imprensa estava falando muita coisa, ele não era oficial, e tentando entender o que eu tinha falado. Tanto que o meu pai na resposta, que é aquele de terceiro, disse ‘não, o Cid falou que não era’.”

Mauro Cid diz que as abordagens começaram quando havia “burburinho” sobre a homologação de sua delação premiada. “Talvez intermediários pudessem estar tentando chegar perto de mim, até pessoalmente, para tentar entender o que eu falei, querer questionar, mas como eu não podia falar, eu meio que desconversa e ia para outros caminhos”, afirma o militar.

Segundo a PF, as informações mostram que Braga Netto “praticou condutas no sentido de interferir na investigação, notadamente a partir de ações voltadas à obtenção de dados sigilosos fornecidos pelo colaborador Mauro Cesar Barbosa Cid à Polícia Federal”.

Outras duas suspeitas de interferir nas investigações foram levantadas pela Polícia Federal. A primeira foi o fato de o general Lourena Cid ter apagado conversas com Braga Netto às vésperas da Operação “Lucas 12:2”, de agosto de 2023, sobre a venda de joias de Estado para benefício de Bolsonaro.

“A perícia realizada no aparelho celular apreendido em poder Lourena Cid demonstrou que todas as mensagens trocadas por meio do aplicativo WhatsApp foram apagadas nas primeiras horas do dia 08.08.2023, três dias antes da mencionada operação”, diz a PF no relatório.

Dias após o anúncio da delação premiada, o coronel reformado Jorge Luiz Kormann enviou mensagem ao general da reserva Mario Fernandes. Ele dizia que a mãe e o pai de Cid teriam ligado para Braga Netto e Augusto Heleno dizendo que “é tudo mentira” sobre o acordo.

“O contexto dos fatos indica que o general Braga Netto tentou obter os dados do acordo através de familiares do colaborador e que a informação chegou ao investigado Mario Fernandes, como forma de tranquilizar os demais integrantes da organização criminosa de que os fatos relativos aos mesmos não estariam sendo repassados à investigação”, diz a PF.

Outro elemento suspeito levantado pela Polícia Federal foi um documento apreendido na sala do coronel Flávio Peregrino, assessor de Braga Netto, durante buscas na sede do PL em fevereiro deste ano.

O papel listava uma série de perguntas e respostas acerca da colaboração premiada de Mauro Cid. Para a PF, o documento indica que interlocutores de Braga Netto haviam conseguido informações sobre o depoimento do tenente-coronel.

Flávio Peregrino foi alvo de buscas neste sábado. Ele também recebeu medidas cautelares diversas da prisão, que envolve a proibição de conversas com os demais investigados.

“As ações perpetradas indicaram que Braga Netto tentou obter os dados repassados pelo colaborador Mauro Cid à investigação, com o objetivo de controlar as informações fornecidas, alterar a realidade dos fatos apurados, além de consolidar o alinhamento de versões entre os investigados”, conclui a PF.

*CÉZAR FEITOZA/folhapress

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