Brasil

Cantor Neguinho da Beija-Flor avisa saída do Carnaval

Da Redação*
Publicado em 20 de novembro de 2024 às 20:31

Foto: Reprodução/Globo

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Considerado o maior puxador de escola de samba das últimas décadas, o cantor Neguinho da Beija-Flor vai se apresentar pela última vez com a escola que o consagrou no Carnaval do Rio de Janeiro em 2025.

O anúncio foi feito pelo intérprete em entrevista para a TV Globo nesta quarta (20). Em carta publicada em suas redes sociais, Neguinho explicou que quer curtir mais a sua vida após 50 anos de envolvimento com a Beija-Flor. Ele continuará sua carreira como cantor em shows pelo Brasil.

“O tempo é inimigo da perfeição. O tempo é maravilhoso. Eu já cheguei a 75 anos, são 50 anos de convivência na escola que é minha família, esse momento é difícil”, disse Neguinho em conversa com a apresentadora Mariana Gross.

“Depois do carnaval de 2025, que é uma homenagem ao mestre Laíla, eu encerro a minha carreira na avenida da Marquês de Sapucaí. A gente morre duas vezes, quando morre de verdade e quando para”, afirmou.

Neguinho da Beija-Flor é intérprete da escola de samba de Nilópolis, cidade da baixada fluminense, desde 1975. De lá para cá, ganhou 14 carnavais, o que fez a Beija-Flor ser a escola que mais ganhou títulos no período em que foi seu líder.

Como cantor, tem grandes sucessos como O Campeão, tocada em todos os estádios de futebol do país, unificando todas as torcidas, que sempre modificam uma parte da letra que diz que: “Domingo eu vou ao Maracanã, vou torcer pelo time que sou fã…”

LEIA A ÍNTEGRA DE SUA CARTA DE DESPEDIDA
“O desfile de 2025 marcará minha despedida como intérprete de seus hinos na Passarela do Samba.

No próximo Carnaval, escreverei, com a comunidade nilopolitana, o ponto final da trajetória cinquentenária, tempo de muita felicidade e alegria. Vamos atravessar a Passarela do Samba pela derradeira vez, eu com a minha voz e o orgulho de sempre, sustentando a força e a magia de nossa comunidade que brilha no altar dos bambas. Será mais um momento de nosso amor eterno.

Lembro emocionado, querida escola, do início dessa história, quando cheguei jovenzinho para participar da disputa de samba, no inesquecível “Sonhar com rei dá leão”. Joãosinho Trinta, também recém-chegado, criara o enredo sobre o jogo do bicho e eu, então Neguinho da Vala, sonhava entrar para a ala de compositores. O saudoso carnavalesco permitiu que eu tentasse – e deu certo. Com o samba composto por mim, fomos campeões.

De lá para cá, você ganhou 14 carnavais, e me concedeu o privilégio de estar presente em todos. Fomos tricampeões duas vezes, levamos o Cristo mendigo coberto pela censura, na imagem mais conhecida do Carnaval. E o mais importante: inserimos a Beija-Flor de Nilópolis na história da maior festa popular do Brasil. Em lugar de protagonista.

Consolidou-se a Maravilhosa e Soberana, como está no nosso hino-exaltação, “Deusa da Passarela”, que tive a honra de compor. E virou seu merecido apelido no planeta Carnaval.

Por você, venci o câncer, cantando na avenida ainda sob tratamento. Tenho fé que me curei graças a Deus e ao abençoado remédio do Carnaval. Nunca esquecerei como a comunidade me recebeu, na volta aos ensaios, em nossa quadra sagrada. O aplauso e a montanha de carinho estão para sempre tatuados na memória.

Por isso e muito mais, jamais cogitei receber salário da Beija-Flor. Nunca assinei contrato nem me submeti a qualquer burocracia. Nossa relação é única e dispensa protocolos. Costumo repetir que se alguém deve algo, sou eu a você, minha escola. Tenho muito orgulho de carregá-la em meu nome oficial, o da carteira de identidade: Luiz Antonio Feliciano Neguinho da Beija-Flor Marcondes.

Guardo como um tesouro a primeira carteira de integrante da ala de compositores. Está lá a data, 11 de junho de 1975, do começo de tudo. Dos companheiros originais, ainda estão aqui o patrono Anísio Abrahão David e a querida Pinah. Começamos juntos a aventura de conduzir uma pequenina escola da Baixada Fluminense ao panteão das gigantes de nossa cultura popular. E chegamos lá, com a participação de muitos outros sambistas que vieram depois e seguirão rumo ao futuro.

Chegou a minha hora. Em 2025, cantarei a exaltação de meu parceiro Laíla – a quem conheci ainda antes do primeiro Carnaval, na lendária roda de samba do Bola Preta-, como epílogo dessa odisseia que durou meio século de folia e felicidade. Superou muito meus melhores sonhos. E continuarei lhe amando. Você pode contar comigo por toda a eternidade.

Obrigado por tudo, minha escola, minha vida, meu amor.
Olha a Beija-Flor aí, gente!”.

*GABRIEL VAQUER/Folhapress

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