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Jair Bolsonaro vai ao Senado negociar anistia para vândalos e para ele próprio

Da Redação*
Publicado em 29 de outubro de 2024 às 21:44

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Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

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O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) esteve na tarde desta terça-feira (29) no Senado para negociar o apoio do PL às candidaturas de Davi Alcolumbre (União Brasil) e Hugo Motta (Republicanos-PB) às presidências do Senado e da Câmara, respectivamente.

Na saída da reunião, defendeu enfaticamente a anistia aos golpistas de 8 de janeiro de 2023 e a ele próprio, que está inelegível devido a duas decisões da Justiça Eleitoral.

“Foi um julgamento político [a inelegibilidade] e estamos buscando maneiras de desfazer isso aí.

A prioridade nossa é o pessoal que está preso, eu sou o segundo plano”, afirmou Bolsonaro.

Após derrotas e questionamento à sua liderança no campo conservador nas eleições, o ex-presidente disse também não enxergar a hipótese de uma direita sem ele.

“Já tentaram varias vezes, não conseguiram”, afirmou.

Ao ser questionado diretamente se colocou a sua própria anistia como condicionante ao apoio a Alcolumbre e Motta, ele negou, mas disse que há acordos que são feitos apenas cara a cara, sem formalização.

“Não tem condicional nenhuma. Tem certos, acordos, não vou enganar vocês, que a gente faz no tête-à-tête, não tem nada escrito, nem passa para fora. O que a gente quer é solução.”

Em outro ponto da entrevista, admitiu ter conversado sobre sua anistia nas negociações.

“A gente conversa, poxa, na mesa [de negociação] é igual namoro, você conversa tudo, vou casar: vai ter filho, não vai ter filho, vai morar onde, o que você tem, o que você não tem”, disse, acrescentando que a resposta que teve da cúpula do Congresso foi positiva.

“Em um namoro, você tem quase tudo sim, ou não é? Ou você namorou diferente de mim? Então, tá indo bem.”

O PL tem a maior bancada da Câmara, com 92 das 513 cadeiras. No Senado, tem 14 dos 81 senadores, menos apenas que o PSD, que tem 15.

Bolsonaro também disse ter conversado nesta segunda com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e apoiou a decisão do parlamentar de retirar da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e colocar em uma comissão especial o projeto de anistia aos participantes do 8 de janeiro.

Indagado se se a comissão seria para “enterrar a anistia”, respondeu que “muito pelo contrário”.

“Arthur Lira não está impondo nada para mim nem eu para ele. Em comum acordo, uma das alternativas foi a criação da comissão. O que o pessoal pretende ao criar a comissão é trazer para cá os órfãos de pais vivos”, disse o ex-presidente.

Segundo ele, se a comissão conseguir cumprir seus prazos, o tema pode ser votado ainda neste ano.

Outro argumento usado pelo ex-presidente para defender o perdão a si próprio e, por consequência, a sua candidatura em 2026, foi a decisão do ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), de anular todas as condenações do ex-juiz e hoje senador Sergio Moro (União Brasil) contra o ex-ministro José Dirceu na Lava Jato.

“José Dirceu está livre de tudo, o mentor de tudo o que há de errado no Brasil, não só no tocante à corrupção, é José Dirceu, e ele está elegível, ele pode ser candidato a deputado federal.”

A ideia dos aliados do ex-presidente é incluir o perdão a ele no projeto durante a tramitação.

“Entendemos que o 8 de janeiro não foi uma tentativa de golpe, muito menos armada. Tem gente inocente, gente que tem seis filhos, é uma questão humanitária.”

As eleições para o comando da Câmara e do Senado ocorrem em fevereiro. Alcolumbre e Motta são favoritos.

Bolsonaro indicou que o PL deve apoiar os dois nomes, possivelmente nesta quarta-feira (30).

“Sabemos da força do Alcolumbre, que ele deve ser o presidente no futuro”, disse, lembrando que a decisão do PL de confrontar a candidatura de Rodrigo Pacheco (PSD) à presidência do Senado em 2023 deixou o partido sem cargos na Mesa Diretora e nas comissões.

Bolsonaro também disse que não exigiu a relatoria do projeto sobre anistia e ironizou, afirmando que ela poderia ser dada até aos seus adversários.

” Nós não queremos paternidade, quero que alguém do PT seja o pai da anistia, gostaria de que o Lula tomasse a iniciativa de anistiar. Com todos os defeitos que ele tem, será que ele não tem coração também, não sabe quem está preso? São pessoas humildes.”

Declarado inelegível pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) até 2030 por ataques e mentiras sobre o sistema eleitoral, o ex-presidente foi indiciado neste ano pela Polícia Federal em inquéritos sobre as joias e a falsificação de certificados de vacinas contra a Covid. Ele também é alvo de outras investigações.

Caso seja processado e condenado pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado democrático de Direito e associação criminosa, poderá pegar uma pena de até 23 anos de prisão e ficar inelegível por mais de 30 anos.

RACHA NA DIREITA

Também no Senado, o presidente respondeu as críticas que recebeu de outros políticos da direita durante as eleições.

“Esses caras juntam quantas pessoas no aeroporto, em um bate-papo em qualquer lugar do Brasil? Não sabem a linguagem do povo. Muitos têm uma utopia. Todos que tentaram se arvorar como líder através de ‘likes’ e de lacração não chegaram a lugar nenhum”, disse, sem se referir a nomes. “São conhecidos como estrategistas intergalácticos.”

O ex-presidente teve a sua liderança contestada de forma robusta com a candidatura de Pablo Marçal (PRTB) à Prefeitura de São Paulo.

No segundo turno, sofreu diversas derrotas em cidades em que se empenhou massivamente, entre elas Goiânia, onde seu candidato perdeu para o do governador Ronaldo Caiado (União Brasil), com quem travou uma queda de braço particular.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, o governador disse que a eleição aplicou uma lição a Bolsonaro e que o país está cansado do seu jeito de fazer política.

“O Caiado é uma pessoa que, se você desagrada, ele vira seu inimigo. Por quatro vezes quando eu estava na Presidência, ele rompeu comigo. Na eleição agora, ele tinha um candidato, eu tinha outro. Enfrentemos a máquina do governo do estado, a máquina da prefeitura, e uma busca e apreensão inexplicável na sexta-feira antes da eleição”, afirmou Bolsonaro nesta terça, se referindo à medida contra o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) por suspeita de desvio da cota parlamentar.

Outro “aliado-desafeto” sobre quem Bolsonaro teceu comentários nesta terça foi o pastor Silas Malafaia, que na eleição chegou a exclamar “que porcaria de líder é esse” ao falar sobre o titubeio de Bolsonaro na eleição de São Paulo.

O ex-presidente disse que ficou chateado com Malafaia, mas que mandou “coraçãozinho” em reposta e que, para ele, está tudo bem.

*RANIER BRAGON E THAÍSA OLIVEIRA/folhapress

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