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Professor Titular aposentado do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
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Minhas lembranças mais pretéritas do São João em Campina Grande-PB remontam ao início do decênio de 1960. Naquele tempo, a maioria das ruas dos bairros periféricos da cidade não era asfaltada e havia a tradição de acender fogueiras na frente das casas nas noites comemorativas de Santo Antônio, São João e São Pedro.
No período junino, era comum ver casas enfeitadas com lanternas confeccionadas com papel multicolorido. À noite, essas lanternas eram acesas e tudo ficava bonito, na zona urbana e na zona rural.
Em junho, durante os principais festejos, era comum o consumo de quentão (bebida à base de cachaça, gengibre, cravo-da-índia e canela), pé-de-moleque, comidas à base de milho (canjica, pamonha, mungunzá, bolo, milho assado e milho cozinhado) e batata doce assada debaixo do borralho da fogueira.
No céu, para além da fumaça das fogueiras, podiam ser vistos balões e fogos de artifício. Nas ruas, as noites frias e, às vezes, chuvosas eram aquecidas pelo calor humano e pelo calor das fogueiras.
Tempo bom, no qual adultos e crianças podiam se postar diante das fogueiras e conversar até tarde da noite, pois a bandidagem não tinha tomado conta das ruas das cidades e da zona rural.
No dia de Santo Antônio, em 13 de junho, data rememorativa de sua morte, algumas fogueiras eram acesas e as moças faziam adivinhações para saber a letra do nome do rapaz com quem se casariam, pois, segundo a tradição, Santo Antônio seria casamenteiro.
As comemorações de São João (nascimento de João Batista), na véspera e no dia 24 de junho, eram (e continuam sendo) o ponto alto das festas juninas. Na sequência, é comemorado o dia de São Pedro, em 29 de junho, com fogueiras, fogos e balões, porém em menor quantidade comparada às comemorações de São João.
Até meados do decênio de 1970, no período junino, tudo refletia a resistência da cultura rural mantida no meio urbano. O forró autêntico, com sanfona, triângulo e zabumba, era a música executada e dançada pelos casais em salas e salões decorados com bandeirolas no teto, folhas de eucalipto no chão e palhas de coqueiros nas portas e janelas.
Mas, como não poderia ser diferente, o tempo passa e tudo muda. A cidade cresceu, veio o desenvolvimento e, com ele, as mudanças: as ruas foram pavimentadas e asfaltadas; a violência afastou as pessoas da frente das casas; o forró autêntico foi se tornando eletrônico (o chamado forró de plástico); as fogueiras foram proibidas de serem acesas; os folguedos juninos foram perdendo a autenticidade; e a liberdade das manifestações populares foi sendo limitada.
Mesmo assim, algumas dessas manifestações resistiam em manter a tradição, como, por exemplo, a realização de quadrilhas (música e dança) no meio da rua. Neste particular, foram essas quadrilhas que motivaram a criação, por parte da Prefeitura Municipal de Campina Grande (PMCG), de um espaço público destinado às comemorações juninas. Esse espaço foi criado e inaugurado em 1986, sob a denominação de “O Parque do Povo”.
E foi assim que Campina Grande, a “Rainha da Borborema”, se transformou na cidade do “Maior São João do Mundo”, que neste ano de 2024 comemora cento e sessenta anos de emancipação com uma obra espetacular: a ampliação do “Parque do Povo” e sua interligação com o “Parque Evaldo Cruz” (Parque do Açude Novo).
Conforme a PMCG, com a conclusão das obras de ampliação e interligação, a área disponível passou dos 31.595 m² para 39.934 m², consolidando a marca de “O Maior São João do Mundo” e impactando a economia da cidade de forma positiva.
Viva São João! E viva Campina Grande!
Atenção: Os artigos publicados no ParaibaOnline expressam essencialmente os pensamentos, valores e conceitos de seus autores, não representando, necessariamente, a linha editorial do portal, mas como estímulo ao exercício da pluralidade de opiniões.
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