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Edjamir Sousa Silva

Edjamir Sousa Silva

Padre e psicólogo.

Uma Mulher no céu foi vista

Por Edjamir Sousa Silva
Publicado em 18 de agosto de 2024 às 20:28

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Iniciamos a SEMANA NACIONAL DA FAMÍLIA (10-18 de Agosto) falando da paternidade de Deus e pedindo ao Senhor um coração de Filhos, no seu Filho, para alcançar a herança eterna. Terminamos a semana falando de uma Mulher (Mãe) revestida da Glória de Deus: imagem da Nova Jerusalém, da Igreja e da Mãe do Senhor.

Maria (Hebraico= Mirian) de Nazaré, como era conhecida e como gostamos de chamá-la, fazia parte de um povo colonizado pelo Império Romano. Assim como em muitas famílias sua posição social nem sempre favorecia uma ascensão: mulher, camponesa e da periferia da Galileia.

Segundo os evangelhos, Maria de Nazaré era esposa de um carpinteiro (Grego= tekton), um artesão. Ela fazia parte da classe pobre dos artesãos. As famílias artesãs produziam e processavam praticamente toda a comida, a roupa e outros meios de sobrevivência. Uma amostra desse trabalho familiar aparece nas parábolas de Jesus sobre o fermento colocado na farinha (Lc 13, 20-21) o remendo em roupa velha com pano novo (Lc 5, 36) e o vinho novo em odres velhos (Lc 5, 37-39).

Herodes Antipas, O filho de Herodes, coletou muitos impostos, não para suprimir as necessidades do povo, mas apenas para reconstruir uma nova capital em Tibério e reconstruir a antiga capital Séforis da Galileia, há poucos quilômetros de Nazaré. A exibição de riqueza e poder dessas cidades ampliou a desigualdade entre os camponeses e as classes altas. É AQUI QUE COMEÇAMOS A ENTENDER O CONTEXTO DO CÂNTICO DE MARIA.

Maria e José tinham uma vida pontuada pelo ritmo da oração: observância do sábado, as festas religiosas, as peregrinações ao Templo de Jerusalém. É nesse ritmo que Maria e José fazem discernimentos sobre a vontade de Deus. Ambos são apresentados como “servos de Deus”, assim como as grandes figuras do Antigo Testamento: Abraão (Sl 105,42), Moisés (2Rs 18, 12), Josué (Jz 2, 8) e os profetas (Am 3, 7).

É dentro desse contexto, no espirito de fé e de serviço que escutamos a narrativa do evangelho proposta para essa Solenidade da Assunção (Lc 1, 39-56). São as primeiras narrativas da Nova Aliança, marcadas por encontros (Maria e Isabel /João Batista e Jesus) cheios de ternura, de pessoas simples, pobres, humildes, de muita fé e cheias do Espirito Santo. Que contrasta com o silêncio do sacerdote Zacarias, esposo de Isabel, fechado à Boa Noticia e incrédulo à esperança na mensagem do Reino de Deus.

“A minha alma engrandece”. O Cântico de Maria é pura espiritualidade e mensagem de esperança para os pequenos que louvam e se alegram em Deus Salvador. Ele vê a humildade dos servos (Pr 22, 4. 29, 23. Sl 138, 6. Sf 2,3. Is 57, 15. Lc 1, 48) vê e sente compaixão e misericórdia do povo (Ex 2, 24. 33, 19./ Is 49, 13. 45. / Sl 103, 1-14. / Sl 145, 9. / Zc 7, 9-10.).

O Livro do Apocalipse (11, 19a;12, 1-6a) retrata a vida das primeiras comunidades cristãs nos primeiros séculos e devido a Solenidade da Assunção, o destaque é a mulher em dores de parto. As primeiras comunidades cristãs estavam mergulhadas numa dolorosa situação de perseguição e fica evidente que a “mulher” no texto do apocalipse é a imagem simbólica destas comunidades.

Na releitura que fazemos, tal como as comunidades sofreram as dores da perseguição, enquanto geravam o Cristo e o novo estilo de vida, Maria sofreu para gerar Jesus que viria nos libertar de toda a forma de perseguição. As primeiras comunidades entenderam facilmente a imagem do dragão identificando-o com o Império Romano. E o vencedor desta luta é o Filho. A Mulher agora torna a dar à luz e vida a novos cristãos.

Em meios às perseguições e mortes dos cristãos as primeiras comunidades se perguntavam qual seria o fim de todos os seguidores de Jesus. O apóstolo Paulo (1Cor 15, 20-26.28) teve a preocupação de esclarecer, entre tantas coisas que eram ditas, a questão da ressurreição de Cristo e a nossa.

Recordando as primícias que eram oferecidas a Deus no primeiro dia da semana (domingo), depois do sábado da páscoa, assim, Jesus é apresentado como esta oferta ao Pai (como primeiro) que vai puxando a fila dos que Nele morreram. Assim, Paulo explica a ressurreição de Cristo em três etapas: A primeira, a ressurreição de Cristo (já acontecida). A segunda, a expansão da ressurreição para todos no fim dos tempos. E a terceira etapa é a submissão de tudo com a vitória sobre os inimigos até o último.

A Sagrada Escritura não fala nada a respeito do final da vida de Maria. Nos primeiros séculos os cristãos tinham o costume de guardar com cuidado os restos mortais dos apóstolos, dos mártires e pessoas queridas das comunidades. Mas, nada há sobre o corpo de Maria. João mostra que ela foi dada na cruz, por Jesus, à comunidade, como mãe (19, 25-27). Lucas diz que ela estava com os seguidores de seu Filho no dia de dia de Pentecostes com a vinda do Espirito Santo (cf. Lc 1, 14 – 2, 1ss). Biblicamente falando, o que se percebe é que Maria de Nazaré está sempre nos momentos decisivos da comunidade dos discípulos de Jesus.

No século IV já se tinha noticias da festa devocional chamada “Dormição de Nossa Senhora” e do túmulo vazio em uma pequenina capela em Jerusalém. Duzentos anos depois a festa começa a ser difundida em vários lugares. E no século VIII a devoção popular falou do final de Maria de Nazaré que teria sido levada para o céu sem morrer (textos apócrifos).

Depois do Dogma da Imaculada Conceição (1854) houve um outro momento para que a Assunção de Maria se transformasse também em dogma. Isso aconteceu com o Papa Pio XII (1952), mas a bula papal não entra em detalhes como foi a morte de Maria. PORTANTO, A ASSUNÇÃO DE MARIA DE NAZARÉ DEVE SER ENTENDIDA EM RELAÇÃO A RESSURREIÇÃO DE JESUS, assim como Paulo nos disse na segunda leitura: “Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram e nós o seguiremos” (1Cor 15, 20). MARIA SEGUIU O SEU FILHO.

O Dogma da Assunção serve-nos para estimular nossa caminhada de fé, mesmo em momentos de crise. Olhar Maria, ressuscitada e glorificada, que seguiu os passos de Jesus, nos animamos em lutar pelo bem, pela verdade e justiça.

Quando ouvimos Maria de Nazaré dizer que “O Senhor derrubou os poderosos de seus tronos e elevou os humildes (…), encheu de bens os famintos e despediu os ricos de mãos vazias” (Lc 1, 52-53), ficamos a imaginar muitos seguidores de Jesus que, erroneamente, transformaram o discurso de “Vitória em Cristo”, o clima “evangélico” e “devocional” em identificações narcísicas de ostentação, poder e riquezas. CUIDADO PARA NÃO NOS TORNAMOS ASSIM: “RICOS VAZIOS”.

O evangelho sempre deixou claro que o céu é dos pequeninos (bem aventuranças). E aqui reside o Mistério do Dogma da Assunção e que nos ajuda a ser mais autênticos seguidores de Jesus, como Maria foi “elevou os humildes”.

Boa semana!

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