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Jornalista, Pós-Graduada em Comunicação Educacional, Gerente de Negócios das marcas Natura e Avon.
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A impermanência não é um acidente do caminho: ela é o próprio caminho. Vivemos elaborando projetos como quem traça rotas precisas, confiantes de que o destino responderá fielmente ao que planejamos. No entanto, a vida, tal qual os aplicativos de GPS, nos surpreende com desvios inesperados e nos convida, com serenidade ou urgência, a refazer a rota. Não porque erramos, mas porque o percurso mudou ou porque nós mudamos.
Os sonhos, por vezes tão intensamente sonhados, também envelhecem. Não por impossibilidade, mas por perda de sentido. Aquilo que ontem nos incendiava pode hoje apenas aquecer a memória. O desejo de hoje pode ser exatamente aquilo que amanhã não queremos mais. E não há fracasso nisso. Há honestidade. Há escuta. Há maturidade.
Lembro-me de um episódio simples, recente, mas revelador. Antes de viajar para a convenção em Cancún/México, acreditando que partiria no domingo, marcamos um churrasco em casa, com amigos. Tudo foi organizado: compras feitas, convites enviados, expectativas criadas. Próximo da data, descobri que a viagem seria no sábado. Desmarcar? Nem pensar. Sabia que minha presença na minha casa era importante, mas também tinha consciência de que tudo poderia seguir sem mim. E fui para a convenção tranquila, até porque meu marido é um excelente anfitrião e os amigos são de casa. E tudo transcorreu da melhor maneira. Enquanto seguia, compreendi, mais uma vez, que não controlamos tudo e que, ainda assim, tudo pode encontrar seu equilíbrio.
Entre as poucas certezas que temos, a impermanência é talvez a mais fiel. O que é hoje, amanhã pode não ser mais. Quantos planos já fizemos? Quantas profissões já escolhemos? Na fertilidade da imaginação, especialmente nas fases de certezas equivocadas, já fui médica, advogada, apresentadora de telejornal, nutricionista, professora… Foram muitas. E até aquela da qual trago o diploma, exerci por apenas cinco anos, entre jornais impressos e rádio FM. E nada foi em vão. Tudo foi ensaio. Tudo foi aprendizado.
Por isso, não me causa estranhezas, quando nas minhas reminiscências me perco e me deparo com outra pessoa. E nestas horas cultivo a gratidão. Mudanças são necessárias. A lapidação é indispensável. Até pedras que não rolam criam limo. Somos organismos vivos, carentes de alimento novo todos os dias, especialmente na alma, que precisa estar forte para atravessar as portas que se abrem sem nos revelar o que existe do outro lado. Viver talvez seja isso: aceitar que não somos linha reta, mas curva; não somos chegadas, mas travessia. Nada nos pertence para sempre, nem os nossos sonhos, nem as certezas, nem quem fomos ontem. E ainda assim seguimos, refazendo rotas, despedindo-nos do que já não nos cabe, confiando que mudar não é perder-se, mas finalmente permitir-se existir, abraçar a felicidade e gastar muito bem o tempo que nos resta.
Que tenhamos a coragem para mudar. Coragem para ser. Coragem para nos revelar, sobretudo a nós mesmos. Porque nada é definitivo. Tudo é enquanto é. E tudo é… até a hora que deixar de ser.
Atenção: Os artigos publicados no ParaibaOnline expressam essencialmente os pensamentos, valores e conceitos de seus autores, não representando, necessariamente, a linha editorial do portal, mas como estímulo ao exercício da pluralidade de opiniões.
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