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Edjamir Sousa Silva

Edjamir Sousa Silva

Padre e psicólogo.

“Sou eu mesmo!”

Por Edjamir Sousa Silva
Publicado em 14 de abril de 2024 às 15:00

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“A paz esteja convosco!”. O evangelho de Lucas (24, 35-48), neste III Domingo da Páscoa, testemunha que Jesus continua a aparecer aos discípulos. Tendo superado o obstáculo da pedra (cf. Lc 24, 2. Mt 28,2-6.) e as portas fechadas (cf. Jo 20,19-31.) agora o Crucificado-Ressuscitado lhes mostra os sinais da crucificação e come com os discípulos para removê-los da incredulidade.

“Um espirito não tem carne nem ossos como vocês estão vendo que eu tenho” (Lc 24, 39). As comunidades lucanas, que procuram viver a ética da misericórdia (cf. Lc 6, 36. Atos 2, 44), entendem que Jesus Ressuscitado não é apenas um espirito, ou fantasma, pois Ele tem carne, ossos e tem fome. Não é um Deus “desencarnado”. REMOVER A INCREDULIDADE E ENCARNAR-SE É A LINGUAGEM DO EVANGELHO.

“Sou eu mesmo!” (Lc 24, 39b). A identidade de Jesus são suas mãos e pés machucados. O antes e o depois da cruz formam Jesus inteiro, integralmente vivo!  As feridas são sinais do amor de Jesus, que “amou até o fim” (Jo 13,1), e, por isso, elas são importantes nesta cena. É o amor que vence a morte, é o amor que tira a força da morte.

As chagas de Cristo são como uma pedagogia para encorajar as comunidades, que também estavam sendo perseguidas: “Vocês serão testemunhas de tudo isso!” No sofrimento dos primeiros cristãos está, igualmente, a identidade de Jesus.

Os verbos olhar, tocar, comer, fazem distinção à imagem de tudo que é irreal ou ilusório. Compreender a ressurreição passa por “ressuscitar” os próprios sentidos, ativar as vias humanas para ver e tocar no Crucificado-Ressuscitado.

A espiritualidade do evangelho supera tudo que anestesia, que disfarça o humano, ou uma paz sem inquietude, pois é estranho à Deus um seguimento fantasioso. Desde sua origem o cristianismo é um convite à sensibilidade (cf. Atos 4, 32-35), por isso, os sentidos devem estar despertos: “Desperta, tu que dormes, levante-te dentre os mortos e Cristo resplandecerá sobre ti” (Ef 5, 14).

“Vocês tem alguma coisa para comer?” (Lc 24, 41b). Na cruz, pouco antes de ter o peito rasgado pela lança do soldado, Jesus disse: “tenho sede” (Jo 19,28). Agora, o Crucificado-Ressuscitado “tem fome”. Ele “continua humano” como nós e, ainda, carrega em si, a sensibilidade e a provocação das bem aventuranças: “fome e sede de justiça” (cf. Mt 5,6).

“Ofereceram-lhe um pedaço de peixe assado. Ele pegou e comeu diante deles” (Lc 24, 42-43). Os discípulos continuam a fazer a mesma coisa que o Mestre: oferecer o que tem para que a vida continue a acontecer. A identidade de Jesus é, agora, a mesma identidade dos discípulos e, assim, a existência se torna autêntica.

Em Jesus há um despertar novo, pois “o amor é um despertador dos sentidos” (Mendonça, Tolentino. card. A mista da do instante, 2015).

“Sereis testemunhas de tudo isso” (Lc 24, 48). A Páscoa de Jesus foi um ponto de viragem na vida dos seus discípulos-amigos. De medrosos e incrédulos a pessoas de fé; sensíveis e denunciadores da insensibilidade como extensão da incredulidade (cf At 3, 13-15. 17-19).  A INSENSIBILIDADE PODE ESTAR LIGADA A FALTA DE FÉ.

A Palavra de Deus ensina que a Páscoa de Jesus acontece na vida de muitas pessoas que, despertados pelo Amor, se doam na construção de um mundo mais justo. Ninguém se esqueça que o Ressuscitado marca presença na comunidade reunida que celebra e partilha a palavra e o pão; na família unida em torno da mesa; nos grupos organizados em defesa da vida e dignidade humana, nas politica públicas em prol da superação da fome, da miséria e da exclusão social e religiosa.

Louvamos ao Senhor porque em nossas comunidades há um empenho evangélico de serviço à dignidade humana como sinal de fé.

Boa semana!

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