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Benedito Antonio Luciano

Benedito Antonio Luciano

Professor Titular aposentado do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).

Sobre a tranquilidade da alma

Por Benedito Antonio Luciano
Publicado em 7 de agosto de 2024 às 12:57

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“De tranquillitate animi” é uma obra em latim de autoria do filósofo estoico Sêneca (Lúcio Aneu Sêneca), nascido em Córdoba, Espanha, em 4 a.C., durante o Império Romano. Além de filósofo, Sêneca foi um político importante, dramaturgo e conselheiro do Imperador Nero. No início de 65 d. C., Sêneca foi acusado de fazer parte de uma conjuração. Condenado à pena capital, ele morreu em Roma, em 19 de abril do mesmo ano.

Um exemplar da versão brasileira da obra citada chegou às minhas mãos por intermédio do colega José Saraiva. Intitulada “Sobre a tranquilidade da alma”, ela foi lançada em 2021, pela Editora Principis, Jandira-SP, como uma tradução da versão em inglês “On the tranquility of the mind”, publicada em 1990.

“Sobre a tranquilidade da alma” é uma obra densa, escrita em dezessete capítulos, contidos em apenas setenta e nove páginas. No Capítulo 1 (“Sereno a Sêneca”) é apresentado um texto em formato de carta, na qual Sereno expõe o seu estado de espírito e perturbações mentais, fazendo uso da imagem de um paciente que procura um médico (Sêneca) que possa prescrever o remédio adequado para reaver a tranquilidade.

Do Capítulo 2 (“Sêneca a Sereno”) em diante, como resposta às inquietações de Sereno, são apresentadas as considerações de Sêneca sobre como viver a vida em rumo firme, enfrentando os percalços, mesmo em momentos de crises, sem elevar-se ou abater-se. Enfim, sobre como manter a tranquilidade da alma em meio às turbulências.

Para despertar a curiosidade do leitor, seguem os títulos de alguns capítulos: “Doutrina pessoal de Sêneca” (Capítulo 4); “Maus efeitos da riqueza” (Capítulo 8); “Como se portar na infelicidade” (Capítulo 10); “Superioridade e desprendimento do sábio” (Capítulo 11); “Fugir à agitação estéril” (Capítulo 12); “Não se obstinar contra circunstâncias” (Capítulo 14); e “Praticar a simplicidade” (Capítulo 17).

Neste contexto, poderia apresentar um resumo da obra. Mas, para não me alongar, optei por destacar alguns aforismos de Sêneca nela presentes:

“A estabilidade mental duradora que os gregos chamam de eutimia, “bem-estar da alma”, sobre a qual Demócrito criou um excelente tratado; eu chamo de tranquilidade”.

“Assim como as viagens se sucedem, um espetáculo substitui o outro, e como diz Lucrécio: “Assim cada um foge sempre de si mesmo”. Mas para que fugir se não nos podemos evitar? ”.

“Se você se dedica aos estudos, terá escapado de todo desgosto na vida, não ansiará pela chegada da noite por estar cansado da luz, nem será enfadonho para si mesmo ou inútil aos outros; atrairá muitas amizades, e aqueles que se reunirem à sua volta serão os mais excelentes”.

“Muitas vezes, um homem muito velho não tem nada para provar que viveu muito, além de seus anos”. “O último dos males é sair do número dos vivos antes de morrer”.

“Mesmo que as mãos de um homem sejam cortadas, ele descobre que pode fazer alguma coisa de seu lado na batalha, se ocupar sua posição e ajudar nos gritos”.

“O serviço de um bom cidadão nunca é inútil; ele ajuda ao ser ouvido e visto, por sua expressão, por seus gestos, por sua obstinação silenciosa e até por seu caminhar”.

“Nosso dever será, primeiro, examinar a nós mesmos, depois os assuntos que devemos tratar e, por último, aqueles por quem ou em cuja companhia os trataremos”.

“Porém, evite em especial os que são melancólicos e reclamam de tudo, que sentem prazer diante de toda oportunidade para queixas. Mesmo garantindo lealdade, a companhia que está sempre aborrecida e reclama de tudo é inimiga da tranquilidade”.

“Feliz é aquele cuja única obrigação é com o único a quem pode recusar tudo com felicidade, ele mesmo! ”.

“Porém, como não temos tamanha força de caráter, devemos ao menos reduzir nossas posses, de forma a estarmos menos expostos às ofensas da Fortuna. No caso do dinheiro, um valor que não desça à pobreza, mas que não esteja muito longe dela, é o mais desejável”.

“A vida toda é uma servidão. E não invejemos os que estão em posições mais altas; onde há altura, há precipícios. Saiba, então, que tudo na vida muda, e o que acontece com qualquer homem pode acontecer com você também”.

“De que adianta ter livros incontáveis e bibliotecas cujos títulos o proprietário não pode ler nem durante todo o tempo de uma vida? ”.

“Há pessoas que não param de se atormentar com lembranças das coisas passadas; outras se afligem pelos males que virão. Assim, devemos adotar uma visão mais leve das coisas, e lidar com elas com uma disposição indulgente; é mais humano rir da vida do que lamentá-la”.

“Junte a isso também o fato de que merece mais da vida aquele que rir dela, não aquele que se queixa; porque um se permite uma boa dose de esperança, enquanto o outro chora inutilmente por coisa que não tem esperança de ver corrigida”.

E, por fim, “O homem é por demais mortal para compreender as coisas imortais”.

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