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Jurani Clementino

Jurani Clementino

Jornalista, professor universitário, escritor e membro da Academia de Letras de Campina Grande.

Rua Carmem Lúcia Costa Paulino

Por Jurani Clementino
Publicado em 18 de dezembro de 2024 às 23:14

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Esses dias, fazendo minhas caminhadas aqui por perto, decidi passar pela primeira rua em que morei quando eu cheguei aqui em Campina Grande que é a rua Carmem Lúcia costa paulino que fica aqui no bairro Dinamérica, vizinho de onde eu moro e hoje vou falar um pouco sobre o significado que essa rua tem pra mim porque eu passando por lá no último sábado eu recordei algumas coisas

Foi por aqui que eu cheguei em Campina Grande. O ano era 2001. Essa rua testemunhou as minhas mais diversas sensações e emoções. O medo do novo. A angústia da distância. A solidão. As incertezas sobre o futuro. As dores do presente. O que estou fazendo aqui? Por que vim para essa cidade? O que me espera? Até quando vou aguentar? Cheguei meio perdido. Há quase 25 anos. Foi nessa rua que morei meus primeiros sete anos de Campina. Sozinho. Com medo. Com frio. Com vontade de voltar. Deixar tudo para trás. Abandonar o sonho de me formar. De ser jornalista. (ou escritor!?). Ainda hoje não sei. 

Foi nessa rua que dormi pela primeira vez na Rainha da Borborema. Aqui vivi e morri um pouco a cada dia. Como aqueles dias eram longos! Como as noites eram frias! Como tudo era tão distante. Tão incerto. Só sonhos. Aqui encarei meus fantasmas. Todos de uma vez. Um amontoado de coisas na minha cabeça. Não podia fracassar. Não tinha esse direito. Mesmo querendo não podia desistir. Era a oportunidade da minha vida. Quando teria outra? Talvez, nunca mais. Chorei? Quase todos os dias. Ainda hoje derramo lágrimas só de lembrar. Minha família sabia? Claro que não. Eles não eram responsáveis por isso. Eu tinha que assumir as minhas escolhas, os meus B.O’s. 

Naquela época, eu conheci a solidão. A mais terrível e cruel solidão. Eu era um bicho do mato perdido na cidade. Todo dia as mesmas perguntas: o que estava fazendo aqui? Por que não voltava atrás? E todos os dias, meio sem respostas, eu permanecia lutando. Contra tudo. Contra todos. Contra mim mesmo. Essa rua é o princípio de tudo. De exatamente tudo. Se ela pudesse contar o que viu, certamente vocês também chorariam. 

Foi nas calçadas dessa rua que passei a contemplar o céu de Campina. Achava tudo estrado. Aquelas nuvens baixas e iluminadas pelas lâmpadas da cidade. Foi uma das primeiras coisas que me chamaram a atenção quando por aqui cheguei. Se as nuvens do sertão, são quase inexistentes ou inalcançáveis, aqui eu achava que podia tocar o céu. Que as nuvens me beijavam enquanto eu e sofria, e chorava. Como se elas fossem uma mãe cuidando de seu filho ausente. Ninando para que ele dormisse. Eu adorava ficar horas na calçada, logo no início da noite, observado as nuvens. Quem me via, devia me achar louco. E no fundo no fundo, havia uma dose de loucura naquilo. 

Essas experiências, olhando hoje, com esse distanciamento temporal, parecem anormais. Mas só queria dizer uma coisa, eu sonhei, sofri, chorei e vivi todas as angustias possíveis nessa rua de Campina. Foi daqui que ganhei força e coragem para vencer o medo, a solidão e encarar os fantasmas nossos de cada dia. Para muitos é apenas uma rua, mas para mim é um lugar de vida, de existência, de história, de doces e amargas memórias… é antropologicamente um lugar resistência. Da minha resistência. Uma rua simples, com nome de mulher (quem foi Carmem Lúcia?) num bairro periférico de Campina. Rua Carmem Lúcia Costa Paulino, número 143, esquina com a rua Iara Amaral, Bairro: Dinamérica. Tudo começou aqui. Exatamente, aqui.

 

Jurani Clementino

Parque Linear do Dinamérica

30 de novembro de 2024. 8:30h

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