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Médico endocrinologista, professor do curso de medicina da UFCG, preceptor da pós-graduação do HUAC/UFCG e chefe da Unidade de Endocrinologia e Diabetes Professor Bezerra de Carvalho do HUAC.
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“Existe, sim, guerra de classe, mas é a minha classe,
a classe dos ricos, que está fazendo a guerra.
E estamos ganhando“.
Warren Buffett
Em 1997 foi elaborado um documento que visava diminuir o efeito estufa através da diminuição da emissão de dióxido de carbono e outros gases que contribuem para o aquecimento do planeta que já era relativamente avançado e, segundo os cientistas, era causado pela atividade humana.
Quase todas as nações assinaram o protocolo, mas os EUA, que eram presididos à época por Bush filho, que como praticamente todos os ultra-direitistas, não acreditava na ciência, não o assinou. O chamado Protocolo de Kyoto foi assinado por mais de 175 países. Guatemala, Bolívia, Uruguai, Barbados, Noruega, Alemanha, França, Brasil, Itália, Portugal, entre outros, assinaram e ratificaram o acordo. Outros países — como Austrália, Afeganistão, Chade, Iraque, São Tomé e Príncipe, Sérvia, Vaticano, Taiwan e os EUA não o assinaram. Disponível em https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/protocolo-kyoto.htm.
O papa de então não assinou. Não é de se espantar. João Paulo 2° juntamente com Ronald Reagan e Margareth Thacher foram um verdadeiro câncer para o mundo progressista. Foram responsáveis pelo atraso de várias políticas de inclusão social. Esse papa conseguiu praticamente destruir a Teologia da Libertação.
Mas voltando ao assunto, resolvi então escrever um artigo relatando esse crime cometido pela nação que mais poluía no mundo (52% das emissões) acompanhada por alguns paisecos subalternos e sabujos dos americanos, e o que poderíamos fazer.
Eu começava relatando que no início da década de 50, a situação dos negros dos Estados Unidos era deplorável. Sofriam constante discriminação racial e eram proibidos de entrar em certos restaurantes e lugares públicos. Na região Sul, filhos de pais negros não podiam frequentar as mesmas escolas e faculdades que crianças e jovens brancos. Mesmo um adulto negro que houvesse cursado faculdade não tinha o direito de votar. As leis de segregação racial obrigavam os passageiros negros a ocupar apenas os assentos no fundo dos ônibus e a conceder seus lugares a passageiros brancos, caso o ônibus estivesse lotado.
Eles eram freqüentemente humilhados e agredidos por racistas brancos (vide a Ku Klux Klan). Um homem negro corria o risco de ser linchado (espancado e enforcado) caso olhasse diretamente ou conversasse com uma mulher branca. Isso era tão frequente que fez enorme sucesso uma música gravada em 1939 pela fenomenal Billie Holliday que dizia na sua primeira estrofe:
Southern trees bear a strange fruit
Blood on the leaves and blood at the root
Black bodies swinging in the Southern breeze
Strange fruit hanging from the poplar trees
Árvores do sul dão frutos estranhos
Sangue nas folhas e sangue na raiz
Corpos negros balançando na brisa do sul
Frutas estranhas penduradas nos choupos.
Pode ser visto e ouvido em https://www.youtube.com/watch?v=-DGY9HvChXk.
O sucesso da música foi tão grande que incomodou os governantes e seus cães de guarda. Na década de 50, ela recebeu ordem do FBI para não mais cantá-la em seus shows. Como se recusou a cumprir a ordem autoritária, passou a ser perseguida pelo FBI sendo inclusive presa algumas vezes.
O mal-estar da população negra era tão grande que em plena II Guerra Mundial, uma escola da rede escolar pública em Columbus, Ohio, resolveu fazer um concurso de redação em que os alunos deveriam discorrer sobre a pergunta: “O que fazer com Hitler depois da guerra?”
Um parêntese.
Era primavera de 1944, o mesmo ano em que um rapazinho negro fora obrigado a saltar para a morte, na frente ao pai desesperado. O motivo do assassinato desse rapaz foi que ele tinha enviado um cartão de Natal a uma colega de trabalho, branca. Alguns meses depois um familiar da mocinha descobriu o cartão, arregimentou outros supremacistas brancos para cometer esse crime.
Naquele clima, a mocinha afro-americana de dezesseis anos de idade, refletiu sobre o que deveria acontecer com Hitler e venceu o concurso com uma única frase: “Colocar-lhe uma pele negra e fazer com que passe o resto da vida nos Estados Unidos” (Isabel Wilkerson in Casta: As origens do nosso mal-estar).
Recomendo fortemente.
Na década de 1950, a população negra já vinha tentando derrubar a legislação vigente nos EUA, sem resultado. Várias entidades e associações pregavam que se os negros foram considerados iguais aos brancos para morrerem pela pátria (na segunda guerra e na guerra da Coreia), porque também não tinham também o direito de estudarem nas escolas dos brancos, rezarem nas suas igrejas, sentarem-se nos bancos dos transportes coletivos ou das praças que tivessem vontade? Por que tinham que utilizar banheiros diferentes? Por que não podiam votar ou serem votados? Por que não podiam orar na mesma igreja?
No dia 1° de dezembro de 1955, Rosa Parks, costureira negra de 42 anos, voltando para casa depois de um fatigante dia de trabalho, entrou num ônibus e sentou-se no princípio da seção reservada aos negros. Quando o ônibus lotou, o motorista ordenou aos negros que se levantassem para que os brancos pudessem sentar-se. A Sra. Parks, mais por cansaço que por espírito revolucionário, negou-se a ceder seu lugar. Foi imediatamente presa e levada para o Palácio da Justiça. A repercussão de seu ato foi a fagulha que desencadeou o movimento americano pelos direitos civis.
A comunidade convocou o jovem Martin Luther King para a luta. Ele, na época pastor batista iniciante, propôs que os negros boicotassem os ônibus. A população negra aderiu ao movimento e passaram a andar de carona, de bicicletas e até a pé. Foram 368 dias em que essa população deixou de usar ônibus.
A empresa quase quebrou, e a lei foi revogada!
Este episódio, importante para a história dos EUA e do mundo, mostra que quando não conseguimos convencer um capitalista apelando para (aviso de sarcasmo) a sua bondade, sua ética, sua moral e seu humanismo, devemos visar o coração, que por acaso está situado no bolso.
Este introito é para falar do Protocolo de Kioto, cujo início aconteceu em fevereiro de 1998. Pela primeira vez na história, um esforço conjugado de praticamente todas as nações do mundo poderia impedir ou pelo menos mitigar que o efeito estufa continuasse a crescer com prejuízos, fome, sofrimento e morte. A idéia é que em 2010 estivéssemos emitindo gases em quantidade equivalente aos níveis de 1990 e a cada 15 anos fazermos uma redução de 5%, até chegar a um total de 30% de redução em relação aos níveis de 1990. Se tivéssemos sido bem-sucedidos, estaríamos dando o primeiro passo para revertermos o aumento de temperatura da terra.
No entanto, o presidente Bush e seus titereiros, se negaram a assinar e cumprir o protocolo. Isto foi determinante para implodir o Protocolo. Os EUA, além de serem responsáveis por ¼ de toda a poluição produzida no mundo tinham e ainda têm uma posição de liderança incontestável (atualmente está diminuindo bastante, mas isso é outra história). Ou seja, o país que mais poluía e polui se negou a cumprir um acordo que foi aceito por todo o mundo.
E a explicação que os americanos dão para o não engajamento no protocolo foi “a nossa indústria iria perder dinheiro”. É assombrosa a capacidade que estes rapaces (atenção revisão é rapaces mesmo) capitalistas têm de completa insensibilidade com os outros seres humanos. Se o cara está ganhando dinheiro, não importa o que aconteça com a patuléia ou com o ambiente. São capazes de vender a mãe para ganhar mais.
À época eu dizia que os americanos estão tratando todos nós, outros seres humanos, como tratavam os negros até a década de 50. Nós somos muito bons para comprar os produtos deles. No entanto, o futuro que queremos para o planeta não tem nenhum valor se isto vai diminuir seus lucros trilionários.
Eu achava que está na hora de darmos um basta a este estado de coisa.
Precisávamos fazer como Rosa Parks e Martin Luther King. Deveríamos atacar o coração dos capitalistas americanos, atingindo diretamente os seus bolsos, boicotando, na medida do possível todos os produtos que fossem fabricados ou nas suas subsidiárias espalhadas pelo mundo.
O que eu pregava (no deserto) é que antes de consumirmos qualquer produto americano, essencial ou supérfluo, pensássemos “será que não existe uma opção”? Se não existisse, tudo bem, não prego o ascetismo.
Isso poderia ser capaz de balançar o coração (leia-se bolso) desta gringalhada que votou em Bush. Ou seja, eles estavam gostando dele porque estavam lucrando com a guerra, a destruição e a rapina exercida sobre os outros países do mundo.
Obviamente o mundo não seguiu meus conselhos (rss) e os americanos se sentiram à vontade para, cada vez mais, agredir o planeta. Biden ainda tentou alguma coisa, mas foi boicotado inclusive pelo partido democrata e pouco ou quase nada conseguiu.
Se a coisa já estava ruim, com a eleição de Donald Trump, degringolou de vez. O que ele já fez de agressão ao ambiente, extrapola qualquer mente mais pessimista. Todas as suas medidas delirantes adotadas até agora têm sido fartamente divulgadas pela imprensa mundial e são trágicas.
Só que ele superestimou o próprio poder. No outro mandato ele achava que era dono dos EUA. Neste ele pensa que é dono do mundo (veja em https://revistaforum.com.br/global/2025/1/21/destino-manifesto-mito-que-faz-trump-e-os-eua-se-achar-dono-do-mundo-172800.html) e resolveu também agredir de forma indiscriminada quase todos os países com as famosas tarifas.
E aí, como dizia minha avó, o caldo entornou.
Mexeu com o bolso do resto do mundo.
A reação está sendo impressionante porque a população respondeu mais rápido do que os governos. Quase que imediatamente, Tesla, Uísques e outras bebidas americanas, soja, etc., tiveram quedas abissais nas vendas. Grupos americanos boicotados, já começaram a se manifestar contra a insanidade do governo Trump.
Há dias li uma reportagem que os produtores de soja americanos estão exigindo que Trump pare com essas sanções. Disponível em https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2025/04/13/soja-dos-eua-pede-pausa-em-tarifas-com-china-e-ja-fala-em-falencias.htm.
Dados preliminares indicam que a Tesla entregou 5517 unidades em janeiro de 2025 na Europa, uma queda de 47,7% em relação ao mesmo período de 2024. Os países mais afetados foram Espanha (-75,4%), França (-63,4%) e Holanda (-42,5%). Disponível em https://insideevs.uol.com.br/news/749493/tesla-queda-vendas-2025/.
Por falar em Musk, por conta desta queda de vendas e outros boicotes como o estado de Ontário no Canadá que suspendeu o contrato com a Starlink, além de outros boicotes em quase todo o mundo, o neonazista está perdendo muito dinheiro. Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2025/02/12/ainda-e-o-mais-rico-por-que-musk-perdeu-r-2426-bilhoes-este-mes.htm.
Um fato importante é que a queda nas vendas de carros na Europa e de produtos de supermercados no Canadá não é uma imposição do governo. São as pessoas desses países que não aceitam ser tratadas como um vira-lata.
Outra fonte de renda dos EUA, o turismo estrangeiro, está em queda livre após a caça aos imigrantes ser feita de forma atabalhoada. Disponível em: https://www.infomoney.com.br/economia/turismo-nos-eua-tem-maior-queda-desde-a-pandemia-goldman-projeta-perdas-de-us-90-bi/#:~:text=Efeito%20Trump-,Turismo%20nos%20EUA%20tem%20maior%20queda%20desde%20a%20pandemia%3B%20Goldman,perdas%20de%20US%24%2090%20bi&text=O%20n%C3%BAmero%20de%20turistas%20estrangeiros,e%20boicotes%20a%20produtos%20americanos.
Hoje li artigo de Jamil Chade, mostrando a coisa começou a complicar para ícones do capitalismo como McDonalds, Starbucks, Domino’s, Wall Mart, etc. disponível em https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2025/05/03/mcdonalds-vira-simbolo-da-crise-que-atinge-americanos-de-baixa-renda.htm).
Enquanto isso no Brasil, vários políticos estão usando o boné MAGA (Make America Great Again). Qual foi a parte do tornar a AMERICA grande que esses imbecis e seus seguidores não entenderam? Esse pessoal não viu (ou não entendeu) que quando Trump gritou 3 vezes no seu discurso de posse “America FIRST” ele reafirma que para ele, só interessa o crescimento dos EUA e o resto do mundo que se exploda.
Precisamos parar de pensarmos e agirmos como vira-latas colonizados e seguirmos o exemplo histórico de Rosa Parks, Martin Luther King e de vários países que estão mostrando sua insatisfação.
Uma pena que toda essa revolta tem a ver quase que só com tarifas. O desastre ambiental que já existe e que provavelmente vai nos destruir se não for estancado, não tem causado tanta revolta. Talvez pelo fato de esses efeitos serem crônicos e com os autores conseguindo facilmente se livrar da culpabilidade.
Quase metade dos brasileiros (53%) não acredita que as mudanças do clima são um risco a curto prazo. Em outubro de 2024, na última pesquisa com os mesmos parâmetros, o total era de 60% (disponível em https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2025/05/02/datafolha-9percent-dos-brasileiros-nao-acreditam-nos-riscos-causados-pelas-mudancas-climaticas.ghtml).
Ou seja, apesar da seca na Amazônia, dos incêndios no pantanal, da inundação do Rio Grande do Sul, 47% da população acha que não tem nada a ver.
Por exemplo: o prefeito de Porto Alegre, ao desmontar as defesas da cidade contra inundações, foi o principal (ou único) responsável pelo desastre que acometeu Porto Alegre em 2024. No entanto, poucos meses depois, conseguiu se reeleger. Isso em um estado que se acha um dos constituintes da elite brasileira.
E precisamos também começar a boicotar o OGROnegócio parte hegemônica (senão em número, em poder e exposição na mídia) do Agronegócio.
Esses criminosos nos atingem diretamente, ao colocar dezenas de pesticidas que são proibidos nos países de origem, em nossos pratos. A quantidade de doenças neurológicas, endocrinológicas, cardiovasculares e oncológicas decorrentes dessa prática é impressionante.
Indiretamente eles também nos agridem ao dizimar abelhas, pássaros e sapos por conta desse uso indiscriminados dos venenos, inclusive (e principalmente) pela prática da pulverização das plantações. Disponível em https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2023/05/15/pulverizacao-aerea-de-agrotoxico-pode-causar-doencas-e-ate-matar-dizem-debatedores.
Imaginem o mundo sem abelhas!
Além disso, a indústria alimentícia, se é que nós podemos chamar os Ultra-Processados de alimentos continua matando brasileiros (cerca de 57.000 em 2024) com suas porcarias. A revista Lancet, comparou a indústria alimentícia britânica aos grandes traficantes de drogas. Imagine entre nós!
Pois é, minhas amigas e meus amigos, ou perdemos o complexo de vira-latas e começamos a atingir os nossos algozes tanto os estrangeiros quanto os nacionais ou nunca sairemos dessa triste sina.
Uma dica é o site https://duploimpacto.org.br/. Eles não vao resolver a nossa vida mas poderá nos mostrar como isso tudo é grave e como precisamos todos nos envolver.
Precisamos evitar sermos os piores entre todos os maus.
Como disse Padre Vieira, “Os menos maus perdem-se pelo que fazem, que estes são os menos maus. Os piores perdem-se pelo que deixam de fazer, que estes são os piores: por omissões, por negligências, por descuidos, por desatenções, por divertimentos, por vagares, por dilações, por eternidades.” (Padre Antonio Vieira, no “Sermão da Primeira Dominga do Advento”, 1650.
*professor da UFCG
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